Por Altamiro Borges
FHC não se referiu diretamente à Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que resultou no indiciamento por suspeita de corrupção e tráfico de influência da ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha. Mas o recado foi evidente. “O presidente Lula, ainda ontem, em vez de explicar as relações confusas que foram estabelecidas no seu governo e que deram em corrupção, foi se dar ao luxo de dizer que tirou não sei quantos milhões da pobreza”, atacou o ressentido e rejeitado tucano.
Num evento ontem para os prefeitos recém-eleitos do PSDB, em São Paulo, o grão-tucano FHC voltou a posar de paladino da ética. Ele destilou veneno contra o ex-presidente Lula no seu discurso de 30 minutos. “Uma coisa é o governo, a coisa pública, outra coisa é a família. A confusão entre o seu interesse de família ou seu interesse pessoal com o interesse público leva à corrupção e é o cupim da democracia... Temos que descupinizar essa confusão que está havendo entre o interesse público e o interesse privado”, afirmou.
Moral baixa da tropa tucana
É certo que o PSDB precisava de um discurso agressivo para elevar a moral da tropa. Afinal, a sigla sofreu um novo revés nas eleições de outubro. Ela perdeu 641 vereadores e 87 prefeitos. Para piorar, a legenda foi desalojada da prefeitura de São Paulo, a joia da coroa do pleito municipal. Em crise, o ninho tucano está conflagrado, com bicadas sangrentas. Não tem programa nem nome competitivo para a sucessão de 2014. O cambaleante presidenciável Aécio Neves ainda não convenceu nem os próprios seguidores da legenda.
Mesmo assim, FHC exagerou na dose. O ex-presidente, acusado de comprar votos para garantir sua reeleição em 2008, não tem moral para falar em “cupins da democracia”. Ele também devia ser mais cauteloso ao falar de corrupção. Afinal, seu triste reinado teve várias denúncias de desvios de recursos públicos – caso Proer, privatarias e tantas outras. A “sorte” dele é que a mídia blindou, o procurador-geral engavetou, os ministros do STF não exerceram a sua badalada “autonomia” e a esquerda evitou prosseguir nas investigações.
Os "interesses da família"
Já ao fazer insinuações sobre os “interesses de família”, FHC deveria evitar este falso caminho moralista. Muitos ainda se lembram da filha do ex-presidente, Luciana Cardoso, a “funcionária fantasma” do Senado que prestava serviços a Heráclito Fortes (DEM-PI). Outros também se lembram do filho de FHC, Paulo Henrique Cardoso, que ganhou uma concessão de tevê e se tornou testa de ferro do grupo estadunidense Walt Disney Company – burlando a legislação brasileira sobre meios de comunicação.
Há também o caso do ex-genro David Zylbersztajn, que foi nomeado pelo sogro para presidir a Agência Nacional do Petróleo e virou consultor de poderosas multinacionais petrolíferas. Ele foi um dos mentores da proposta de transformar a Petrobras em “Petrobrax” para facilitar a sua privatização. Isto para não falar do filho bastardo com a jornalista Miriam Dutra, que a TV Globo exilou na Europa e que depois FHC descobriu que não era seu. De fato, há muita confusão entre os “interesses de família e o interesse público”.