Destruição vegetal nas margens dos rios pode acelerar fenômeno.
Morte por deslizamento em Manacapuru foi registrada em 2010.
Derrubada de árvores e destruição da vegetação em áreas próximas das margens pode estar acelerando ocorrência do fenômeno no Estado (Foto: Divulgação/CPRM)
A derrubada de árvores e a destruição de vegetação em áreas próximas das margens dos rios podem estar acelerando a ocorrência no Amazonas do fenômeno natural conhecido como 'terras caídas', que consiste no desprendimento do solo às margens dos rios. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) estima que todos os municípios banhados pelos rios da bacia hidrográfica no Estado sejam atingidos pelo fenômeno, principalmente no período de vazante. Apesar de natural, o fenômeno é um risco às populações ribeirinhas.O geólogo do CPRM, Renê Luzardo, explicou que o 'terras caídas' ocorre quando as barrancas caem devido à ação erosiva das águas dos rios. Segundo ele, existem dois tipos. A primeira ocorre quando o rio escava abaixo do barranco, deixando a área sem apoio, e que após a ação da gravidade o solo às margens dos rios se desestabiliza, caindo nas águas.
"Outro tipo de terra caída ocorre por escorregamento. Esse mais comum nas barrancas do Solimões e dos demais rios de água branca, que tem mais carga sólida chamada de sedimentos, no caso areia e lama. Na época da cheia, esse rio acumula a carga de areia e lama nas encostas, mas ela aparece instável e permanece praticamente boiando na água. Entretanto, quando vem a vazante, esse material fica exposto e por estar fora da água não sofre mais o que chamamos de empuxo [a força vertical de água que empurra de baixo para cima]. Depois disso, o material simplesmente perde a estabilidade e escorrega", esclareceu o especialista.
Fenômeno ocorre no período da vazante dos rios (Foto: Divulgação/CPRM)
O fenômeno 'terras caídas' ocorre no período da vazante dos rios, mas há maior incidência do acidente natural durante o mês de outubro. "Acontece mais na calha do Solimões, inclusive na foz do rio perto de Belém, mas ocorre o fenômeno em todo Amazonas nos rios de águas, que apresentam mais carga sólida. Ao contrário de águas escuras que possuem mais material solúvel", acrescentou Luzardo.Aceleração do fenômeno
Embora resulte de fatores naturais, a intensidade do fenômeno 'terras caídas' está relacionada diretamente à preservação da mata em áreas próximas às margens dos rios. Isso porque, segundo o geólogo do CPRM, o desmatamento aumenta e acelera a erosão.
"O desmatamento retira a capa do solo que é a vegetação e este solo vai ser levado para os rios, provocando o assoreamento. Indiretamente pode provocar mais terra caída porque quanto mais sedimento, transporte de areia e lama, provavelmente irá gerar esse fenômeno, que é natural quando não se interfere nesse equilíbrio", enfatizou.
Os chamados banzeiros, ondas geradas durante a passagem de embarcações nas águas dos rios, também aceleram o fenômeno. "Os banzeiros não são as principais causas das terras caídas, mas eles aceleram o fenômeno em virtude das ondas que geram vibrações, resultando na erosão acelerada. É preciso ressalvar que mesmo sem os banzeiros ocorreriam terras caídas", disse.
Este ano, o 'terras caídas não provocou acidentes
com vítimas fatais no AM (Foto: Divulgação/CPRM)
Riscoscom vítimas fatais no AM (Foto: Divulgação/CPRM)
Neste ano, o fenômeno natural não provocou acidentes com vítimas fatais no Estado. Porém, em 2010, um desses deslizamentos naturais resultou na morte de uma criança no interior do Amazonas.
"Em Manacapuru, houve um acidente que matou uma criança há dois anos. No mesmo dia aconteceu a primeira queda de barranco no Porto Chibatão em Manaus. Embora não seja o fenômeno terras caídas porque foi um aterro lançado pelo homem no local, é semelhante se comparado ao comportamento hidrodinâmico", justificou Luzardo.
Monitoramento
De acordo com o geólogo, de forma indireta a CPRM observa o fenômeno durante o monitoramento dos níveis dos rios da bacia hidrográfica da Amazônia. "Esse controle é feito através do nível do rio. Quando ele começa a descer, é o momento em que geralmente ocorre o fenômeno de terra caída. Não quantificamos esse fenômeno porque é muito difícil verificar quantas toneladas de material de areia caiu nos rios, mas são várias toneladas que são levadas pelas águas do Amazonas, formando um cone de dejeção em Belém e na Ilha de Marajó", comentou Renê Luzardo.
Ações
Para evitar os riscos às populações ribeirinhas em virtude dos deslizamentos de barrancos provocados pelo fenômeno 'terras caídas', a Defesa Civil Estadual divulgou que o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra), vem realizando obras nas áreas urbanas dos municípios do interior do Amazonas.
Segundo o coordenador-adjunto da Defesa Civil no Amazonas, Hermógenes Rabelo, as obras consistem nas instalações de uma manta de gel-célula que evitam o desmoronamento do barranco. "As cidades ribeirinhas podem ter suas infraestruturas afetadas por esse desmoronamento. A Defesa Civil tem acompanhado esse fenômeno com ações necessárias para que o governo tome providências, objetivando evitar danos maiores aos municípios. Diante disso, a Seinfra, com o apoio do Governo Federal, está instalando mantas de gel-célula, promovendo a estabilização do talude do barranco para evitar erosão fluvial", explicou.
Coordenador da Defesa Civil no AM disse que as regiões da calha dos Rios Madeia, Purus, Solimões e Amazonas são as mais afetadas pelo fenômeno (Foto: Divulgação/CPRM)
Rabelo acrescentou que as regiões da calha dos Rios Madeira, Purus, Solimões e Amazonas são mais afetadas pelo fenômeno 'terras caídas'. Por isso, os municípios dessas áreas são os beneficiados com as ações de prevenção. A Defesa Civil informou Manacapuru e Parintins já tiveram a primeira fase de obras concluídas e outras serão iniciadas. "Em Jutaí, os serviços foram executados e estamos acompanhando com o apoio do CPRM a evolução do fenômeno", completou.Serão beneficiadas ainda com as ações as seguintes cidades: Canutama, Borba, Barreirinha, Amaturá, São Paulo de Olivença, Tonantins, Santo Antônio do Içá, Boca do Acre, Carreiro da Várzea e Tefé.
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