Caricatura, charge e cartum são a mesma coisa?

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  • quarta-feira, 7 de novembro de 2012
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  • “Prezado blogueiro, sua resposta vai decidir uma aposta que eu e uns amigos fizemos: charge e caricatura são sinônimos, querem dizer a mesma coisa? Ou será que não? Aproveite para falar um pouco também de cartum, que às vezes vejo usado como sinônimo de charge e caricatura, mas esse eu desconfio que é diferente. Abraços.” (Marcos Ataíde)
    Não é tão fácil decidir a aposta que Ataíde fez com seus amigos. As pessoas costumam ter da sinonímia uma ideia caricatural, ao mesmo tempo sumária e exagerada, como se o fato de duas palavras serem sinônimas significasse obrigatoriamente que são idênticas, como gêmeos univitelinos.

    Não é assim que funciona. É comum que as palavras tenham mais de um sentido, chamados acepções – frequentemente, o número destas na língua real se multiplica em sutilezas e supera o que os dicionários julgam valer a pena registrar. Basta terem uma única acepção em comum para que duas palavras sejam consideradas sinônimas. Isso não quer dizer que sua carga semântica seja idêntica.
    Charge e caricatura – e até mesmo cartum – são termos sinônimos, sim. Assim aparecem nos dicionários. Todos se referem a desenhos jornalísticos de caráter crítico e humorístico, geralmente satirizando personagens, fatos e situações da atualidade. Mas também há diferenças – sutis, mas importantes – entre essas palavras.
    Em primeiro lugar, vamos examinar suas origens. O francês charge, de onde importamos a palavra sem alteração de grafia, significa carga. Trata-se no caso de um sinônimo de crítica violenta, num uso figurado do sentido militar de carga como ataque, que está presente numa expressão como “carga de cavalaria”.
    O vocábulo italiano caricatura (na origem, ato ou efeito de carregar) parte exatamente do mesmo ponto e chega a resultado muito parecido. Parece claro que um surgiu como tradução do outro, mas tudo indica que caricatura veio primeiro: em italiano, data de fins do século 16 essa acepção da palavra, segundo o Houaiss. A charge francesa nasceu cerca de cem anos depois.
    Cartum é termo mais recente, importado nos anos 1960 do inglês cartoon – este vindo do italiano cartone, “cartão”, o suporte onde se desenhavam os tais rabiscos.
    Sinonímia à parte, vamos às diferenças. A caricatura tem uma acepção estrita de desenho (especialmente de pessoas) em que se exageram traços com objetivo crítico e cômico. Nesse sentido é estática, não precisa contextualizar nada ou contar história alguma. Basta brincar com as características físicas do personagem.
    A charge, também vista de forma estrita, quase sempre inclui o recurso à caricatura, mas isso não é obrigatório. O que a caracteriza é contar e expor criticamente – em geral num único quadro – uma historinha, uma situação. Tem contexto, costuma vir com um esboço de cenário e, com frequência, recorre a balões ou legendas.
    Já a palavra cartum, quando não é empregada como sinônimo das outras duas, pode querer dizer o mesmo que história em quadrinhos – em especial HQ daquele subgênero tradicional na imprensa, também chamado tirinha, que conta uma história em poucos quadros, geralmente três.
    E quanto àquela aposta: que tal declarar empate?
    Sergio Rodrigues
     
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