Segundo o poeta, apesar da condenação na Ação Penal 470, o partido cresceu nas eleições municipais e deve ganhar em São Paulo, ampliando sua capacidade de mascarar a verdade e manipular as carências dos mais necessitados; intelectual enxerga a população como massa de manobra de um projeto político hegemônico e não vê o eleitor como sujeito racional, capaz de decidir o que considera melhor para si próprio
Ex-militante do Partido Comunista Brasileiro, o poeta Ferreira Gullar tem sido um dos críticos mais ácidos do PT e do chamado “lulismo”. Neste domingo, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, ele descreve um Brasil que terá dificuldades para reencontrar o “rumo certo”, pois, mesmo condenando dirigentes petistas na Ação Penal 470, fortaleceu o PT nas urnas e deve também entregar ao partido a cidade mais rica do País: São Paulo.
De onde vem essa aparente contradição, incompreendida pelo poeta? Talvez da própria questão que afastou militantes comunistas e petistas ao longo do processo de transição democrática. Enquanto o PCB se manteve como partido de intelectuais, o PT buscou se inserir na sociedade por meio dos sindicatos, definindo-se como um partido autêntico, que buscava benefícios reais para a população mais pobre e não a superação definitiva da luta de classes.
Gullar, com a cabeça de velho comunista, enxerga a população apenas como massa de manobra, incapaz de discernir e diferenciar o que é melhor para si. Com as vitórias nas urnas, diz ele, o PT terá agora maior capacidade para mascarar a verdade e manipular as carências dos mais necessitados. Daí a dificuldade para reencontrar o “rumo certo”.
Falta ao poeta a humildade para reconhecer a soberania do eleitor e a capacidade de escolher, de forma racional, e não manipulada, o que considera melhor. O que talvez explique o ocaso do PCB (convertido em PPS) e o fato de o PT ter conquistado o poder, ampliando seus espaços a cada eleição.