247 – Levantamento de opinião realizado na noite de ontem, domingo 26, pela campanha do candidato do PT, Fernando Haddad, tem o potencial para despertar euforia no primeiro colocado nas pesquisas dos institutos Ibope e Datafolha, preocupação no segundo e otimismo no terceiro – o próprio Haddad. Exibidos os primeiros programas de televisão e as inserções comerciais de 30 segundos durante a programação normal das emissoras – peças consideradas pelos marqueteiros como as mais importantes na sedução ao eleitor --, a campanha petista apurou, em pesquisa via telefone, o chamado trekking, que Celso Russomano está 32% de intenções, contra 19% para José Serra, do PSDB, e 13% para Haddad. 247 ainda não obteve informação sobre os resultados dos demais candidatos neste levantamento.
O tracking, entre os muitos instrumentos de monitoramento das intenções do eleitor, é o mais ligeiro. Todas as grandes campanhas o realizam diariamente, logo após o início do horário eleitoral gratuito pela televisão. Há quem faça até duas ou três vezes ao dia, quando se chega à reta final. Por meio de telefonemas, com base estatística que o deixa mais próximo de uma enquete do que de uma pesquisa com base científica mais apurada. Ao contrário do que acontece com as pesquisas, os trekkings não são registrados na Justiça Eleitoral e servem de bússolas para as campanhas, que ajustam uma série de detalhes a partir dos seus resultados.
A olho nu, o que se vê neste momento da eleição paulistana tem reflexo muito semelhante ao resultado do trekking petista. Sendo recebido com status de celebridade em seus compromissos eleitorais, Russomano conseguiu uma base firme entre seguidores de igrejas pentescostais e, também, nas classes C e D, entra as quais suas críticas à qualidade dos serviços municipais encontram ressonância. Cresce nas análises a tendência de vê-lo, supreendentemente, como tendo um lugar seguro no segundo turno. Independentemente de seu menor tempo na televisão, de pouco mais de dois minutos contra sete minutos para Serra e Haddad cada um, seu discurso parece que pegou.
No meio do trekking petista, com 19%, José Serra, a acreditar nesse resultado, tem um novo motivo de forte preocupação. Seria a primeira vez, em qualquer levantamento, que ele apareceria abaixo dos 25%. Para quem, no último Datafolha, marcou 27%, os 19% apurados pelo PT ou são uma provocação, ou representam efetivamente uma queda vertiginosa. Para tanto, explicações no campo político há. Serra, na prática, está sem o apoio de seu próprio partido, que vai se debandando, na figura de lideranças como deputado José Aníbal, e de diretórios como os do Jabaquara e São Judas, para os lados de Gabriel Chalita. O governador Geraldo Alckmin tem sua imagem projetada, ao lado do candidato do PMDB, no programa de tevê do adversário – e máximo que fez, como gesto de protesto, foi uma reclamação informal vazada em nota da coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo. Muito pouco para quem, de fato, quer uma dissociação.
O prefeito Gilberto Kassab, que poderia ajudar Serra, já envia recados de atenção ao candidato Russomano, oferecendo apoio para a governabilidade, conforme apurou 247. O aliado preferencial de Serra, assim, poderá assistir à disputa de uma distância maior do que a prevista inicialmente.
Enquanto isso, finalmente Fernando Haddad começou a criar boas notícias para o seu próprio lado. Ele acertou em cheio na proposta de bilhete único mensal para o sistema de transporte coletivo municipal – a ponto de despertar uma crítica baixa de José Serra, que o chamou, em sua campanha, de “bilhete mensaleiro” --, tem Lula em boa forma e, a partir de hoje, após o almoço entre o ex-presidente e a senadora Marta Suplicy, poderá contar a mãozinha da política mais conhecida e popular do partido. Além disso, o marqueteiro João Santana parece ter acertado a mão outra vez, com programas de visual requintado, que apresentam Haddad muito mais como um técnico bem preparado do que um político – figura em baixa nestes tempos.