Depois de subir à tribuna da Câmara e
dizer que a revista Veja é “o próprio crime organizado fazendo
jornalismo”, o deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) afirmou em entrevista à Rede Brasil Atual que o veículo de comunicação
"fomentou, incentivou, financiou esses delinquentes a terem esse tipo de
comportamento", referindo-se à rede ilegal de atuação do contraventor
Carlinhos Cachoeira.
O deputado defendeu que os responsáveis
pela revista prestem esclarecimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) criada para investigar a rede ilegal de atuação de Cachoeira e que sejam
tratados como réus. Escutas feitas durante a Operação Monte Carlo, da Polícia
Federal, mostraram conexões entre o grupo do contraventor e o diretor da
sucursal de Brasília da publicação semanal, Policarpo Júnior.
Este mês, Veja divulgou reportagem afirmando que a CPMI é
uma "cortina de fumaça" criada pelo PT para desviar o foco do
julgamento do mensalão, que será realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A notícia levou Ferro a lamentar que a revista atue desta maneira.
Perguntado se a convocação de
representantes do Grupo Abril não afetaria a liberdade de imprensa, Ferro
afirmou que as atividades de Veja tem conexão o crime organizado, e não
com o jornalismo. Para o parlamentar, o dono da Editora Abril, Roberto Civita,
deve ser tratado como réu nessa investigação.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com
o deputado Fernando Ferro, um dos candidatos a integrar a CPMI do Cachoeira.
Por
que levar um órgão de imprensa a uma CPMI?
Caberia ao órgão de imprensa trazer
esclarecimentos sobre essa relação, o porquê de tantos telefonemas
identificados na investigação da Polícia Federal.
Você
falou em requerer a presença de Roberto Civita.
Independentemente de quem seja, o Civita
ou não, os responsáveis pela Veja terão de responder sobre isso.
Há
uma relação da Veja com essas atividades ilegais?
É uma relação estranha, que tem laços de
cumplicidade com esse submundo. Na verdade, isso vem lá de trás, em vários
momentos. Essas denúncias espetaculosas da Veja, todas elas estão
sendo lastreadas por esse processo de espionagem e arapongagem. Em termos de
ética jornalística, isso é muito questionável. A Veja fomentou,
incentivou, financiou esses delinquentes a terem esse tipo de comportamento.
Isso
poderia colocar em risco a liberdade de imprensa?
A Veja tenta formar uma ideia de que nós
estaríamos querendo restringir a liberdade de imprensa. Essa é uma medida
esperta e calhorda dela de justificar a sua ação criminosa. Eles querem falar
em nome de toda a imprensa, mas não é verdade, essa prática, esse estilo, é
próprio da Veja. Ou seja, ela
praticou ações criminosas e agora quer colocar o conjunto da imprensa no Brasil
como vítima. Ela é ré, vai ter que trazer esclarecimentos à CPI.
Há
quem defenda esse tipo de jornalismo a qualquer custo.
Essas ações da Veja têm
tudo a ver com crime organizado, não com jornalismo.
Por
que no Brasil há uma tendência de punir exclusivamente os políticos que estão
envolvidos em atividades ilegais, sendo que por diversas ela possui muitos
lados?
Há uma ação política e ideológica de
incriminar um partido político, ou uma orientação, ou uma corrente política. Na
verdade, não há uma preocupação com a informação, estão preocupados em
incriminar alguém que está governando o país.
O
senhor está falando da Veja, especificamente?
A Veja criou a figura do bandido colaborador,
que é alguém que atende aos interesses dela, e o qual ela criou um nível de
promiscuidade tão grande que você nem sabe quem é mais bandido. Na verdade, os
dois são.
Em
sua opinião, quem mais deve ser chamado para depôr na CPI?
A partir da investigação da Operação Monte
Carlo, você tem os vínculos de articulação criminosa, de envolvimento entre os
personagens dessa teia criminosa, então todos eles, tanto agentes públicos
quanto privados, deverão ser chamados para prestar esclarecimentos.