Postos de saúde lotados, com falta de funcionários, medicamentos e atendimento precário em Porto Alegre já não e novidade para ninguém. Porém, dois fatos registrados no mesmo dia relacionados ao SAMU comprovam a falta de gestão e o descaso dos governos de Fogaça e Fortunati com o atendimento de saúde na capital gaúcha.
O primeiro deles refere-se ao atropelamento de uma senhora no bairro Agronomia. Ao atravessar a rua, a mesma foi atingida por um ônibus intermunicipal de Viamão. Acionado, o SAMU demorou mais de uma hora para chegar ao local, quando não havia mais nada a ser feito. A senhora já sem vida atraía os olhares curiosos e revoltados das pessoas que por lá passaram. A demora na chegada da ambulância do SAMU foi decisiva para o final trágico de mais uma vítima do trânsito caótico de Porto Alegre. Se o socorro tivesse chegado no tempo recomendado, provavelmente a vida dela teria sido salva. Representantes da Prefeitura de Porto Alegre alegaram problemas de comunicação em seus equipamentos.
O segundo fato foi tão grave quanto o primeiro. Uma estudante de enfermagem, de 22 anos, passou mal em sua residência e acionou uma colega por telefone. A constatação era de provável AVC hemorrágico que havia paralisado um dos lados do corpo, tal qual ocorreu recentemente com o técnico Ricardo Gomes durante uma partida de futebol. A colega imediatamente entrou em contato com o SAMU, que negou atendimento. Segundo o serviço de emergência, o pedido de socorro só poderia ser realizado pela vítima ou por alguém próximo a ela. Além do mais, disse a atendente, não deveria ser nada grave porque a estudante possuía apenas 22 anos. Fico pensando como alguém que, morando sozinha e sofrendo um acidente vascular cerebral, conseguiria acionar o serviço e seguir suas recomendações? Mais ainda, como uma atendente pode avaliar, por telefone, a gravidade de uma situação única e exclusivamente a partir da idade da vítima? Resultado: a vítima foi socorrida por colegas que a levaram ao HPS, onde segue internada em estado grave com risco de morte. Fato que talvez fosse evitado se houvesse o atendimento no tempo adequado.
Dois fatos no mesmo dia. Possivelmente muitos outros tenham ocorrido sem que os jornais dessem conta de sua publicação. Lembro de um funcionário do SAMU que, mesmo enfrentando o assédio moral dos gestores, ameaças de transferências e pressões, denunciava sozinho o desmonte do SAMU. Chegou a sugerir a abertura de investigações pelo Ministério Público e Câmara de Vereadores. Desconheço seus resultados.
Assim como outros serviços de saúde, o SAMU de Porto Alegre, que foi pioneiro e serviu de modelo para o restante do país no final dos anos 1990, durante a Administração Popular, foi desmontado, sucateado pelos governos Fogaça e Fortunati. Parafraseando o slogan de campanha, o que era bom não ficou, o que era preciso não mudou. Na saúde de Porto Alegre o que falta não dinheiro, mas uma gestão comprometida com a população, em especial, com aqueles que mais dependem dos serviços públicos.