CENAS DE UMA DITADURA - 13 - O "BOIOLINHA" E A RESISTÊNCIA FRANCESA

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  • sábado, 18 de junho de 2011
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  • Havia na Ilha três cinemas: o Guarabu, o Ribeira, e o Cine Itamar.Este,  na Freguezia.  
    O Itamar ficava na Avenida Paranapuan. Nos fundos dele, na rua de trás, a Chapot Prevost, ficava o curso da Aliança Francesa na Ilha do Governador. 

    A entrada oficial era por esta rua. A do cinema era entrada dos fundos . 

    O Curso era Dirigido pela Professora Anne Marie. Uma francesa, que havia participado ativamente da Resistência Francesa,  casada agora com um professor da UNB.

    A casa da Aliança era sua residência e também a sede do curso. Acabou virando aparelho para reuniões e preparação de tarefas na luta contra a Ditadura.

    Íamos pra lá à noite, e os papos regados a vinho, cigarros, vodka, cigarros,  e tudo   mais,  rolavam até de manhã.

    De lá preparávamos pichações, panfletagens...grande companheira a Anne Marie. Há alguns anos atrás soube que ela mudara para Miguel Pereira, RJ, onde , seguindo  Cândido , de Voltaire, cultivava seu jardim.

    Uma  tarde quando eu voltava para casa, cruzou comigo a viatura D-99 da Polícia. As viaturas do DOPS naquele tempo tinham a numeração de D-90 a D-99.

    Intuí que a viatura estava indo prender Anne Marie, voltei , entrei pelos fundos do cinema, e com esta carinha inocente da foto pude ver os policiais entrando pela frente.

    Eles bateram pela porta da frente eu pela dos fundos. Entramos juntos na Aliança.

    Pude confirmar que realmente estavam lá para prender Anne Marie.

    Cena: Anne Marie no meio, entre eu e os policiais. Aí eu bem “ingênuo” com voz de “anjinho” disse: 

    -“Minha mãe mandou avisar á senhora que hoje eu não posso vir à aula de tarde porque vou ao médico com ela”.

    Cumprimentei os policiais, como se fosse normal ver aqueles brutamontes por lá e saí.
    Boca no trombone:

    “-Anne Marie foi presa!!” 

    Corre –corre em toda a Ilha. Advogados, contatos. À noite já a haviam liberado. Queriam saber do marido, que estava em Brasília dando aulas. 

    Os policiais sequer imaginavam os fatos reais.  Para eles ela era apenas uma senhora respeitável,  professora de francês.

    Eu ? Um boiolinha que apareceu por  lá pra levar um recado da mãezinha.

    Próximo: AS VELHAS “TIAS”  COMUNISTAS
     
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