31 de março de 1964. As tropas de Juiz de Fora rebeladas marchavam para o Rio. O golpe em marcha.
A CGT – Confederação geral dos Trabalhadores, cometera o equívoco de convocar greve geral. Com isso não havia transportes públicos disponíveis no País. Os pobres, e os jovens, que apoiavam o governo não tinham como se locomover.
As notícias eram muito confusas. Como Secretário da Base da Ilha tive que me deslocar a pé por grandes distâncias para fazer os contatos com os militantes. Chovia muito, havia lama nas ruas, a mesma lama que os militares traziam para a democracia brasileira.
Informaram que na Base dos Fuzileiros Navais, no bananal, o Almirante Aragão ia distribuir armas ao povo. E lá fomos nós, em busca das armas. Na porta da Base muita gente, mas nada de armas....e o dia se passou neste vai e vem pela chuva , a pé...
No dia 1º de abril o Golpe já estava vitorioso. Pra mim, até hoje esta é a data certa do Golpe: 1º de abril.
Estava frio, e naqueles dias trágicos compus o poema:
PARA ELISA (uma companheira de Del castilho)
O frio cai cinzento
Sobre a cidade
Alquebrada pelo jugo militar
Como cai o chumbo derretido
Sobre
O ponto quebrado metal:
Desaba, e espraia-se.
Entranha-se
No coração da gente
Mortificando-a.
As pessoas desfilam pelas calçadas:
a face triste, o rosto baixo.
É perigoso levantá-lo demais:
As baionetas podem arrancar-nos o nariz.
Também é preciso pisar com prudência:
As minas podem explodir sob nós.
Que fazer?
Se nos subtermos, feneceremos.
Se nos sublevarmos: morreremos.
E nessa dúvida, angústia,
Só nos resta a certeza da vida:
Quente como o chumbo derretido
Que desaba
Sobre o ponto quebra do metal.
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