Precisávamos de uma sala para reunir o pequeno grupo de agitadores e criar o Centro de Estudos Sociais... Foi quando o José Fernandes, um dos jovens, deu a idéia de procurarmos nas redações dos jornais de esquerda da época.
E fomos nós em direção ao Edifício Santos Vahlis, no Centro. No saguão do prédio decidimos a linha política:
-“Aqui tem o “Novos Rumos” e tem a “A Classe Operária”. Em qual vamos pedir a sala? Disse ele.
Perguntei:
-“Qual a diferença?”
- “Novos Rumos” é a favor da União Soviética e da coexistência pacífica. É do PCB. Já “A Classe Operária” é a favor da China e pela Revolução Socialista. É do PCdoB.”
A mim, tanto fazia. PCB ou PCdoB naqueles tempos não me dizia nada. Mas eu, que sempre fui muito do radical, resolvi:
-“Vamos à “A Classe Operária!”
Quando chegamos lá em cima, na sala, havia três “velhos” sentados, conversando. Depois vim saber que eram: Maurício Grabois, Pedro Pomar e João Amazonas. O Comitê Central do PC do B estava em reunião e nem imaginávamos o que fosse aquilo.
Grabois e Pomar eram vistosos e brilhantes. Já o Amazonas era pequeno e sem brilho, passava desapercebido na multidão.
Perguntaram o que desejávamos, explicamos e nos levaram para uma salinha contígua, para a nossa reunião, enquanto eles ficaram numa conversa sussurrada na outra sala. Sussurros que naturalmente deveriam estar definindo a continuidade do Partido e a “Revolução Brasileira”.
E eu lá, café com leite puro , no que tangia aos meandros partidários.
Claro que na segunda reunião já estávamos cooptados pelo PCdoB.
E eu junto. Lá ia eu, Pinóquio novamente, em meu caminho de tornar-me gente.
Assim criamos a base da Ilha do Governador, Rio, que foi do PC do B até perdermos total contato com o Partido Comunista do Brasil - que à época não chegava a 50 militantes no Rio de Janeiro – após o golpe militar.
Com a criação e militância da base afastei-me da UBES, o que me livrou do incêndio, e postergou minha detenção.
Próximo: O DIA DO GOLPE. CHOVIA NO RIO.