Vou confessar uma coisa: toda esta marola em torno das declarações do Deputado Jair Bolsonaro tem me causado um certo incômodo. Isto ocorre não pela execração pública que o parlamentar vem enfrentando – ver alguém como ele sendo execrado é sempre um prazer -, mas pela forma como esta onda de “indignação cívica” começou e se espalhou. A grande questão é a seguinte: Bolsonaro está em seu sexto mandato como deputado federal; quando era casado, conseguiu eleger a sua então mulher, Rogéria Bolsonaro, como vereadora no Rio de Janeiro; depois da separação, apoiou (e ajudou a eleger) um de seus filhos, Carlos, para o mesmo cargo e, posteriormente, também conseguiu emplacar o outro, Flávio, como deputado estadual. Suas posições reacionárias, preconceituosas, sexistas, homofóbicas e saudosistas da ditadura sempre foram públicas e notórias, até porque ele nunca deixou de explicitar claramente tais posições, inclusive no espaço do Horário Eleitoral Gratuito. No entanto, com exceção de algumas reações de setores da sociedade organizada quando da sua indicação para a Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara, não me lembro de ter assistido anteriormente a qualquer grita geral – como a de agora - contra suas posições. Aliás, pelo contrário: no ano passado, cansei de receber por e-mail e de ver postados em redes sociais vídeos em que o parlamentar do PP destilava todo o seu ódio e preconceito contra o presidente Lula e a então candidata, Dilma Rousseff. Porém, bastou ele demonstrar o seu preconceito contra uma artista conhecida para que, de repente, todos – inclusive muitos do que ano passado divulgavam suas declarações Anti-Lula e que, consequentemente, votaram para presidente no candidato que comandou uma das campanhas mais obscurantistas e preconceituosas que já tivemos oportunidade de assistir – descobrissem que o Bolsonaro é um fascista e começassem a ir para a rua pedindo a sua cassação. Sinceramente, estou de saco cheio desta indignação classe média, de movimentos do gênero “Cansei” e das passeatas fashion, que traduzem um modismo passageiro (afinal, se jovens estão a se revoltar no mundo árabe, a juventude oprimida do eixo Leblon-Morumbi-Pampulha também tem o direito de fazer o mesmo!). Mas como as modas passam, na próxima eleição, o deputado Bolsonaro provavelmente será reeleito para mais um mandato e muito destes revoltados da hora postarão - nas redes sociais que forem “in” nesse futuro não tão distante - vídeos em que o nobre parlamentar, alçado então à condição de paladino da ética e da moralidade, falará mal do Lula, da Dilma, do PT e dos comunistas comedores de criancinhas...