Dilma está eleita e as razões para este fato consumado podem ser lidas abaixo, no meu último post, datado de 27 de junho. Pelo menos a maior parte delas.
Para resumir, pode-se aceitar que o cone de trânsito transmutou-se em presidente por conta de um Lula que vestiu, sem pudores, a farda de presidente-militante , por um TSE frouxo o bastante para não enquadrá-lo e, sobretudo, por uma campanha de rádio e televisão competentíssima.
Na outra ponta, aquilo que sacramenta qualquer vitória eleitoral: a campanha de Serra errou mais. Erros novos, como a tragédia anunciada de um jingle citando Lula – e, pelo-amor-de-deus, uma foto de Lula com Serra na abertura do programa. Erros irritantemente velhos, como embarcar na agenda das privatizações proposta pela campanha petista, que já havia derrotado Geraldo Alckmin em 2006. Erros inexplicáveis, como não mostrar um só corredor de hospital lotado em uma campanha de oposição que dizia ter como carro-chefe a saúde.
Não quero – e não vou – me estender no tema campanha. Em primeiríssimo lugar porque tudo o que eu tinha a dizer sobre esta última foi dito no final de junho. Depois, não sou sou eu quem tem que fazer isso. E o motivo deste post é justamente este: ninguém mais parece disposto a fazê-lo.
A contar estas primeiras 48 horas, o que se vê é o melô do – perdão pela expressão – corno-manso. No afã de não parecer derrotada, a oposição comemora, com aplauso de boa parte de sua militância, os 44% obtidos. Há os que ficam, inclusive, fazendo as contas por estado e, até mesmo, por município: “parabéns para o Cú-do-Mundo porque lá Serra ganhou com folga“.
Eu não sei se vocês se dão conta do quanto estas primeiras 48 horas evidenciam uma arrogância ímpar. Nas entrelinhas – e, às vezes, literalmente – o que esta postura demonstra é: “nós fizemos tudo certo; o povo é que não sabe votar“.
Não vou, aqui, discutir a capacidade intelectual do eleitor. Já fiz isso no passado. Não faço mais. O eleitor que realmente enche urnas é pragmático, não liga para valores abstratos como democracia e quer saber o que tem a ganhar votando em fulano ou beltrano. Ao mesmo tempo, ele acredita em milagres e tende a ser sensível à figura de um salvador, um líder carismático – desde que, é claro, os botões emocionais sejam acionados corretamente.
Certa ou errada, é assim que a coisa é. E eu só precisei perder uma eleição presidencial, a de 2006, para entender que este é o jogo. Fosse a oposição menos arrogante, a afirmação que deveria imperar nestas primeiras 48 horas é: “nós não conseguimos falar com o povo que – para ficar na linguagem corrente – não sabe votar“. Ao invés disso, preferem comemorar os altos índices obtidos em estados com melhores índices de escolaridade – como se isto não fosse uma prova vexatória de seu fracasso, de que eles, vamos de caixa alta?, NÃO SABEM FALAR COM QUEM ENCHE URNA.
Sinto em avisá-los: se a oposição não abandonar este melô do corno-manso em prol de uma discussão séria, aberta, sobre os inúmeros erros de suas últimas três campanhas eleitorais… Se insistir em apontar o dedo para o povo ao invés de apontá-lo para os que tomaram decisões – e os que escolheram os que tomaram decisões – ao longo desta campanha, nada vai mudar. Vai ser um festival de derrotas até o final dos tempos.
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