ILHA da FANTASIA

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  • quinta-feira, 4 de março de 2010
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  • A verdade está lá fora
    Mar 3rd, 2010
    Marco Aurélio Weissheimer


    Chamou a atenção, nesta quarta-feira, um certo sentimento de alívio manifestado em algumas salas de Porto Alegre, com a decisão da Polícia Civil de descartar a hipótese de execução no caso do assassinato do ex-vice-prefeito e ex-secretário da Saúde da capital, Eliseu Santos (PTB). Foi latrocínio anunciou a polícia, de modo categórico. Ouviram-se alguns ufas pela cidade. Ainda bem, foi só mais um latrocínio no Estado onde a Segurança Pública, segundo a propaganda do governo Yeda Crusius (PSDB), melhorou 151%. Assunto encerrado. Apenas os adeptos de “teorias da conspiração” seguirão insistindo na hipótese da execução, mesmo que esta, logo após Eliseu ter sido assassinado, fosse considerada a mais provável. A sua gestão na Secretaria da Saúde estava sendo investigada sob suspeita de desvio de recursos públicos.

    Na verdade, os indícios que apontavam para a tese da execução, repetia-se na noite do crime, eram muito fortes. Eliseu Santos estava envolvido em denúncias de pagamento de propina envolvendo uma empresa de segurança e de desvio de dinheiro do Programa Saúde da Família. Um dia antes do crime, havia prestado depoimento na Polícia Federal. Os adeptos de “teorias da conspiração”, naquele momento, estavam mais do lado da tese do latrocínio do que da execução. Mas ainda na noite de sexta-feira, o delegado Alexandre Vieira adiantou a linha argumentativa que viria comandar o curso da investigação: os autores do crime teriam sido muito “amadores”, o que “conspiraria” contra as teses conspiratórias. Eliseu Santos, é certo, não se beneficiou deste amadorismo, atingido por uma bala no coração.

    Segundo a polícia, ele teve tempo de efetuar nove disparos. E não houve anúncio de assalto. Marcos Rolim publicou em sua página no twitter que circula na direção do PTB que os assassinos teriam chamado Eliseu pelo nome (e que a polícia tem essa informação). Mas os adeptos das teorias conspiratórias têm outros elementos para manter acesa a desconfiança. Um deles é a insistência da Polícia em descartar tão rapidamente a hipótese da execução ou de um crime motivado por outras causas, com base, fundamentalmente, em uma avaliação sobre a “falta de profissionalismo” dos criminosos. “A cúpula da Polícia Civil passou a tratar o fato como latrocínio antes mesmo que houvesse investigação. Quando coisas assim ocorrem pode apostar que há encrenca”, disse Rolim em entrevista ao blog do Mirgon.

    A quase totalidade da mídia gaúcha já comprou a versão da polícia sem maiores questionamentos. A respeito desta postura, Rolim comentou:

    Quem acompanhou as primeiras notícias sobre o assassinato e as matérias dos jornais de sábado percebeu que, depois disso, houve uma inflexão na cobertura da mídia que passou a assumir a hipótese do latrocínio. Uma das razões para esta mudança foi a de que a cúpula da Polícia Civil passou a tratar o fato como latrocínio antes mesmo que houvesse investigação. Quando coisas assim ocorrem pode apostar que há encrenca. Jornalistas possuem fontes nas polícias e, quase sempre, não mantém uma postura independente diante delas. A falta de formação na área e os laços de amizade e confiança que os setoristas vão construindo com suas fontes fazem com que, muitas vezes, os jornalistas se transformem em assessores de imprensa das polícias sem que se dêem conta disso. A propósito, uma polícia altamente profissionalizada não passa informações sobre rumos de investigação à imprensa, salvo quando esta atitude for importante para o sucesso da própria investigação.

    Por fim, cabe destacar um outro aspecto que vem sendo varrido para debaixo do tapete na cobertura do assassinato de Eliseu Santos. Onde foram parar as manchetes sobre o caos na segurança pública? A população gaúcha não vive mais dias de pânico? Praticamente no mesmo período, tivemos um tiroteio com morte em pleno domingo no Parque da Redenção e a explosão de um banco na comunidade de Dois Lajeados. Como anda o profissionalismo da política de Segurança Pública no RS?
     
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