Acusado por 39 mulheres de 56 estupros, o médico Roger Abdelmassih, que está em cana, pediu reforço ao ex-ministro Márcio Thomaz Bastos. Quer que o criminalista reforce sua defesa. A informação publicada na edição de VEJA desta semana, na seção Panorama, assinada por Felipe Patury, poderia ser anexada sem retoques ao texto postado dia 29 no Direto ao Ponto. A escolha do advogado, constata o título, é tão reveladora quanto a confissão.
Abdelmassih nem precisou abrir a boca para admitir que se meteu em delinquências de bom tamanho. Fez isso no momento em que contratou o advogado José Luiz Oliveira Lima, cuja lista de clientes cinco estrelas impunes é encabeçada por José Dirceu. Com o pedido de socorro a Márcio Thomaz Bastos, que salvou o governo do naufrágio anunciado pelo escândalo do mensalão, o jaleco tarado está reconhecendo que a coisa foi ainda mais feia do que parece.
Há quatro anos, com muita ênfase e sem qualquer constrangimento, Oliveira Lima vem jurando que Dirceu não fez nada de errado e que o mensalão não existiu. Em meados de 2005, quando o grande escândalo explodiu, Thomaz Bastos licenciou-se oficiosamente do Ministério da Justiça para concentrar-se na missão de livrar da gaiola a quadrilha federal. Ele também afirma que o mensalão é fruto da imaginação dos eternos descontentes.
Foi Thomaz Bastos quem rebatizou o velho caixa 2 de “recursos não contabilizados”. Foi ele quem aconselhou o presidente Lula a argumentar que a turma só fizera o que todo mundo faz. Vai formar uma dupla e tanto com Oliveira Lima. Já na entrevista de estreia, o doutor que garante a Dirceu o direito de ir e vir foi logo avisando que o estuprador não estuprou. Em parceria com o camisa 10, pode descobrir que Abdelmassih, além de não ter molestado ninguém, foi assediado por 39 mulheres. Resistiu a todas. Elas querem vingança.
Todo acusado tem direito à ampla defesa. Onde houver um réu, haverá um advogado. Mas uma coisa é oferecer justificativas para o crime, ou apresentar atenuantes que abrandem a punição. Outra é fabricar mentiras, ou forjar acrobacias e trucagens para simular que o assassino não matou, que o ladrão não roubou, que o estuprador não estuprou ─ e, se possível, transferir a culpa para a vítima.
Um criminalista que jura ser inocente o freguês cujos delitos conhece em detalhes não é o pássaro da liberdade que os grandes juristas enxergam no advogado de defesa. É o corvo cúmplice.