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(...)
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim
E não dizemos nada
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão
e não dizemos nada
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
(...)
No entanto, sua obra vai muito além deste poema e a leitura de seus escritos parece-me cada vez mais necessária, nestes tristes tempos em que o individualismo e o conformismo imperam. A despeito de boa parte do meio acadêmico - e também, é lógico, dos "formadores de opinião" da grande imprensa - defender uma neutralidade axiológica e considerar qualquer tomada de posição – à esquerda, diga-se bem - como uma atitude jurássica, ainda estou entre aqueles que insistem (e resistem).
Dinossauros de todo o mundo, uni-vos!!!
Não Te Rendas Jamais
Procura acrescentar um côvado
à tua altura. Que o mundo está
à míngua de valores
e um homem de estatura justifica
a existência de um milhão de pigmeus
a navegar na rota previsível
entre a impostura e a mesquinhez
dos filisteus. Ergue-te desse oceano
que dócil se derrama sobre a areia
e busca as profundezas, o tumulto
do sangue a irromper na veia
contra os diques do cinismo
e os rochedos de torpezas
que as nações antepõem a seus rebeldes.
Não te rendas jamais, nunca te entregues,
foge das redes, expande teu destino.
E caso fiques tão só que nem mesmo um cão
Procura acrescentar um côvado
à tua altura. Que o mundo está
à míngua de valores
e um homem de estatura justifica
a existência de um milhão de pigmeus
a navegar na rota previsível
entre a impostura e a mesquinhez
dos filisteus. Ergue-te desse oceano
que dócil se derrama sobre a areia
e busca as profundezas, o tumulto
do sangue a irromper na veia
contra os diques do cinismo
e os rochedos de torpezas
que as nações antepõem a seus rebeldes.
Não te rendas jamais, nunca te entregues,
foge das redes, expande teu destino.
E caso fiques tão só que nem mesmo um cão
venha te lamber a mão,
atira-te contra as escarpas
de tua angústia e explode
em grito, em raiva, em pranto.
Porque desse teu gesto
há de nascer o Espanto.
atira-te contra as escarpas
de tua angústia e explode
em grito, em raiva, em pranto.
Porque desse teu gesto
há de nascer o Espanto.
In: Costa, Eduardo Alves da. No Caminho com Maiakóvski – Poesia Reunida. São Paulo, Geração Editorial, 2003.