Um poeta engajado.

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  • domingo, 5 de julho de 2009
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  • Correria típica de final de semestre letivo: dezenas de provas para corrigir, monografias de conclusão de curso para ler, algumas bancas de mestrado e doutorado para participar, artigos para finalizar e ainda por cima a lembrança de que estou às vésperas da viagem para o Simpósio Nacional da ANPUH e ainda não preparei nada. Enfim, o quadro típico de um professor universitário à beira de um ataque de nervos! Nestas ocasiões pré-síncope, uma das “terapias” que me sustentam é a leitura (ou releitura, em muitos casos) de alguns autores que gosto e um deles, sem dúvida, é o Eduardo Alves da Costa. Poeta que insiste em ser engajado, numa época em que o engajamento soa demodèe, ele é o autor do poema “No caminho com Maiakóvski” que estampou inúmeras camisetas e cartazes nos anos 70 e 80 e que muita gente acha, erroneamente, que é de autoria daquele grande poeta russo:

    (...)
    Na primeira noite eles se aproximam
    e roubam uma flor
    do nosso jardim
    E não dizemos nada
    Na segunda noite, já não se escondem;
    pisam as flores,
    matam nosso cão
    e não dizemos nada
    Até que um dia,
    o mais frágil deles
    entra sozinho em nossa casa,
    rouba-nos a luz, e,
    conhecendo nosso medo,
    arranca-nos a voz da garganta.
    E já não podemos dizer nada.
    (...)

    No entanto, sua obra vai muito além deste poema e a leitura de seus escritos parece-me cada vez mais necessária, nestes tristes tempos em que o individualismo e o conformismo imperam. A despeito de boa parte do meio acadêmico - e também, é lógico, dos "formadores de opinião" da grande imprensa - defender uma neutralidade axiológica e considerar qualquer tomada de posição – à esquerda, diga-se bem - como uma atitude jurássica, ainda estou entre aqueles que insistem (e resistem).

    Dinossauros de todo o mundo, uni-vos!!!

    Não Te Rendas Jamais

    Procura acrescentar um côvado
    à tua altura. Que o mundo está
    à míngua de valores
    e um homem de estatura justifica
    a existência de um milhão de pigmeus
    a navegar na rota previsível
    entre a impostura e a mesquinhez
    dos filisteus. Ergue-te desse oceano
    que dócil se derrama sobre a areia
    e busca as profundezas, o tumulto
    do sangue a irromper na veia
    contra os diques do cinismo
    e os rochedos de torpezas
    que as nações antepõem a seus rebeldes.
    Não te rendas jamais, nunca te entregues,
    foge das redes, expande teu destino.
    E caso fiques tão só que nem mesmo um cão
    venha te lamber a mão,
    atira-te contra as escarpas
    de tua angústia e explode
    em grito, em raiva, em pranto.
    Porque desse teu gesto
    há de nascer o Espanto.

    In: Costa, Eduardo Alves da. No Caminho com Maiakóvski – Poesia Reunida. São Paulo, Geração Editorial, 2003.
     
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