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Sendo assim, vamos aos argumentos:
1-Do ponto de vista musical e poético, desde a década de 1990, a obra de Caetano só pode ser considerada mediana. Apesar de ter produzido algumas boas canções como “Fora de Ordem” e “Haiti”, grande parte do que ele compôs a partir desta época pode ser classificado como fraco ou razoável. Não é a toa que algumas das melhores coisas que ele gravou neste período são regravações de canções de outros compositores ou mesmo de antigas músicas suas (como é o caso de “Como dois e dois”). Na verdade, se analisarmos com mais cuidado, podemos notar que, já na década de 1980, ao lado de grandes composições como “Podres Poderes” e as já citadas “Língua” e “O Quereres”, Caetano andou cometendo coisas como “Comeu” ou “Eclipse Oculto”...
2-Caetano insiste o tempo todo em querer ser “moderno” e “antenado”, procurando passar a idéia de que está sempre na vanguarda e atento a novas tendências. Para mim, isto se aplica à sua obra do final da década de 1960, quando com os demais tropicalistas incorporou à música brasileira elementos da cultura pop internacional, ao mesmo tempo em que reconhecia o valor da produção musical da Jovem Guarda e de compositores considerados kitsch, que estavam fora do mainstream da MPB. Porém, a partir de então, parece-me que ele criou um personagem que acaba sendo um pastiche do que ele representou na época do tropicalismo, um pálido clone de si mesmo. Agora, ao buscar ser moderno ele parece se mover muito mais por um fascínio em estar na mídia – e na moda – e por questões mercadológicas, do que por preocupações estéticas autênticas. Neste sentido, ele busca aparecer como um artista de vanguarda e popular ao mesmo tempo, ao gravar canções de compositores considerados bregas, ao fazer shows como os que ele fazia com a banda Black Rio, no final da década de 1970, ou ao elogiar e cantar em suas apresentações alguns hits do Funk carioca, como faz atualmente. Dentro da mesma lógica, inserem-se as suas constantes aparições na revista "Caras", o sonho de consumo das celebridades vazias;
3-O personagem Caetano considera-se uma espécie de “gênio da raça”, um intelectual que entende de tudo e que pode opinar sobre todos os assuntos. Esta auto-imagem é corroborada por inúmeros de seus admiradores que não cansam de incensá-lo e de aplaudir tudo o que ele faz e diz. Dentre estes, não podemos esquecer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (outro detentor de um grande ego) que, ao comparar Caetano e Chico, chamou o ex-tropicalista de “gênio”, classificando Chico como “elitista” e “ultrapassado” (será que isto aconteceu porque Chico era um crítico de seu governo, enquanto Caetano o elogiava?). Por conta disto, Caetano dirige um filme soporífero como “Cinema Falado” (1986) - e nenhum crítico tem a coragem de dizer claramente que aquilo é cinema da pior qualidade - ou dá declarações como as que ele deu ao jornal português “Expresso” há alguns anos atrás, em que afirma textualmente que “a colonização portuguesa do Brasil foi a pior coisa que você pode imaginar. Foi o oposto dos EUA, para onde alguns ingleses foram para criar um país melhor”. Afirmando isto, o “gênio” baiano reproduz o mais rasteiro senso comum, esquecendo toda a produção historiográfica brasileira sobre o tema - desde pelo menos Caio Prado Júnior, há mais de sete décadas –, que nos mostra que a questão essencial não é “quem” colonizou, mas sim “como” e “por que” se colonizou.
Continua no próximo post.