Femme Fatale.

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  • terça-feira, 21 de outubro de 2008
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  • Ouvi o Velvet Underground pela primeira vez, no início da adolescência, na velha Fluminense FM. Aquelas canções soavam muito diferentes de tudo o que eu já tinha escutado até então. Era uma combinação explosiva: a voz e a poesia cortantes de Lou Reed, o experimentalismo instrumental de John Cale, a guitarra econômica e ao mesmo tempo ousada de Sterling Morrison... Literalmente, pirei. Mas, naquele momento, o que me deixou absolutamente fascinado foi a voz de Nico em “Femme Fatale”: a tonalidade grave e o inglês cantado com sotaque alemão causaram em mim uma sensação, ao mesmo tempo, de estranheza e doçura. Imediatamente, procurei mais informações sobre a dona daquela voz que me havia impressionado tanto e descobri uma das mais interessantes figuras dos loucos anos 60. Modelo belíssima, atriz em filmes de Fellini e Philippe Garrel, musa de Andy Warhol, parceira de cama de alguns dos homens mais desejados da época como Alain Delon e Jackson Browne, amiga de Bob Dylan e Brian Jones, Christa Päffgen – seu verdadeiro nome - teve uma vida intensa e agitada. Após o seu antológico disco com o Velvet Underground – o da famosa capa com a banana, desenhada por Warhol – desenvolveu uma carreira solo extremamente original (que ela já havia iniciado na fase pré-Velvet), com belos álbuns marcados por profundos sentimentos e inúmeras experimentações sonoras (a gravação feita por ela de “These Days”, do Jackson Browne, é de cortar os pulsos de tão bonita e melancólica). Depois de toda uma existência de loucuras, regadas à álcool e drogas, Nico morreu de forma extremamente prosaica, após ter sofrido uma queda enquanto andava de bicicleta, em Ibiza, há exatamente vinte anos. Bem, por que logo agora fui me lembrar da Nico? Acontece que minha cabeça agitada e não muito normal tem por hábito estabelecer associações instantâneas e inesperadas entre músicas e imagens. Assim, quando vejo nas ruas cenas que me impressionam, imediatamente meu cérebro programa uma música, como se fosse a trilha sonora de um filme. E ontem, ao passar pelo Centro do Rio meio esvaziado pelo feriado do Dia do Comerciário, vi uma mulher belíssima andando pela calçada que divide as pistas da Almirante Barroso. O rosto expressivo, a pele clara, os cabelos escuros cortados à chanel e a écharpe agitada pelo vento destes dias com jeito de outono formavam uma cena que era pura poesia. Assim, a trilha sonora que me veio à cabeça não podia ser outra: “Femme Fatale”, na voz da linda e misteriosa alemã.

    Here she comes,
    You'd better watch your step,
    She's going to break your heart in two,
    It's true.

    It's not hard to realize,
    Just look into her false colored eyes,
    She'll build you up to just put you down,
    What a clown.

    'Cause everybody knows (She's a femme fatale)
    The things she does to please (She's a femme fatale)
    She's just a little tease (She's a femme fatale)
    See the way she walks
    Hear the way she talks.

    You're written in her book,
    You're number thirty-seven, have a look.
    She's going to smile to make you frown,
    What a clown.

    Little boy, she's from the street.
    Before you start you are already beat.
    She's going to play you for a fool,
    Yes it's true.

    'Cause everybody knows (She's a femme fatale)
    The things she does to please (She's a femme fatale)
    She's just a little tease (She's a femme fatale)
    See the way she walks,
    Hear the way she talks.

    (“Femme Fatale” – Lou Reed)
     
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