Porque o Rio Grande do Sul é assim

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  • terça-feira, 30 de setembro de 2008
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  • Revolução, não, guerra civil Farroupilha

    Hoje, dia 20 de setembro, é a data convencionada que marca o início da chamada “revolução” Farroupilha (a rigor, apenas uma guerra civil regional malograda), no distante ano de 1835.

    Para quem não conhece o Rio Grande e Porto Alegre, essas informações soam mais distantes ainda. Mas aqui neste blog, nos próximos dez dias, vamos tentar decifrar esses códigos da cultura gaucheira, esses constructos culturais cuidadosamente recortados da história factual e montados num painel mítico que representa a apropriação do imaginário popular dos indivíduos nascidos no Estado mais meridional do Brasil e , não por acaso, o que apresenta idiossincrasias especiais e um etos social muito particular, rico, variado, objeto da contribuição de inúmeras etnias – autóctones e transplantadas.

    Mirabeau, um dos teóricos da revolução Francesa de 1789, dizia que não bastava mostrar a verdade, é necessário fazer com que o povo a ame, é necessário – dizia o “Orador do Povo” – apoderar-se da imaginação do povo. Não foi de graça, então, que a seção de propaganda do Ministério do Interior, em 1792, em plena ebulição revolucionária, se denominava Escritório do Espírito.

    Pois, essa apropriação da imaginação popular foi – parcialmente – exitosa por parte dos maragatos (ideologia do latifúndio) sul-rio-grandenses, especialmente a partir da segunda metade do século 20. Alguém pode perguntar o motivo de ter passado tanto tempo, de 1835-45 até meados do século passado, por que? Por que o mito levou tanto tempo para “apoderar-se da imaginação do povo”?

    E outras questões: por que no RS se festeja, se comemora uma derrota, sim, porque os farroupilhas de 1835 foram derrotados durante dez longos anos pelas tropas do Império do Brasil, por quê?

    Outra: por que o RS comemora o 20 de setembro e não comemora o 14 de julho? Sabendo-se que foi no 14 de julho de 1891 que a Assembléia Constituinte sul-rio-grandense deu posse a Júlio Prates de Castilhos como primeiro Presidente (hoje é governador) eleito no RS, e pode-se dizer que este é o marco da única revolução burguesa clássica havida no País.

    Nenhum Estado federado e nem o próprio Brasil teve uma revolução modernizante como o Rio Grande do Sul, através dos positivistas chimangos de Castilhos, e depois através de Borges de Medeiros, pelo menos até 1930, quando se encerra o ciclo modernizante inaugural da transição para o capitalismo nesta região meridional.

    Por que a burguesia gaúcha, a direita guasca, comemora uma derrota – a farroupilha – em vez de comemorar uma vitória – a da revolução cruenta de 1893? Intrigante, não?

    E uma última questão, pelo menos por hoje, para iniciar esse tema tão apaixonante e que explica bastante o Rio Grande atual e o Brasil lulista (que quer copiar um pouco o ciclo desenvolvimentista de Vargas, que por sua vez bebia na fonte dos chimangos de Castilhos-Borges), por que aqueles que foram derrotados fragorosamente em 1893, na revolução burguesa gaúcha, hoje, são hegemônicos no plano político-eleitoral do Estado e logram êxito no objetivo original de Mirabeau no sentido de terem se apoderado da imaginação popular através de batalhas de símbolos, batalhas midiáticas, cevadura de ideologias, montagem de mitos, bombachinhas e tradicionalismo galponeiro, por quê?

    O Rio Grande do Sul tem uma história muito expressiva, tão expressiva quanto o “riso” macabro dos degolados de 1893, dos “engravatados” de 1923 (a “gravata” era a língua exposta da vítima, por baixo e através do largo talho horizontal do corte da lâmina branca), e de uma revolução positivista-burguesa que ousou estatizar empresas estrangeiras ainda em 1920, que cobrou impostos de latifúndio em 1895 e que escolarizou todo o Estado, ainda no início do século 20.

    Vamos ver tudo isso, aqui no blog, um pouco a cada dia.

    Esta série foi publicada originalmente neste blog DG, ano passado, em dez pequenos artigos.

    Ilustração de Eugênio Neves

    Redator: Cristóvão Feil

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    Repercuto estes capítulos( escritos pelo Cristóvão Feil) de nossa história para que se reflita esta simplificação e nivelamentoo de costumes, a serviço da oligarquia dominante no RS. Esta história inventada, esta cultura de costumes, chamada não por acaso de tradição, repercute incessantemente em nosso imaginário e produz malefícios incomensuraveis pelo descolamento com o real. Mérito da mídia local.

     
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