POLÍTICA - Campanha eleitoral vira uma batalha de ombudsman



Ricardo Kotscho
Esta campanha eleitoral fora de época está ficando mesmo muito engraçada e deve deixar malucos os jornalistas estrangeiros encarregados de entender quem é quem e explicar o que, afinal, está acontecendo nestes últimos dias no Brasil.
O protagonismo na mídia é de personagens que não são candidatos (Lula, Marina e Serra), deixando em segundo plano os que devem disputar para valer as eleições de 2014 (Dilma, Aécio e Eduardo).
duplas Campanha eleitoral vira uma batalha de ombudsman
Correspondentes e enviados especiais (já fui um deles), quando chegam a um país estrangeiro em época de campanha eleitoral, buscam duas fontes para terem uma primeira ideia sobre o que está em jogo: motoristas de táxi e os jornais locais.
Se fizerem isso no Brasil, estão perdidos. Motoristas de táxi não se interessam muito pelo assunto e também não estão entendendo nada, como a maioria da população. E os principais órgãos de imprensa parecem birutas de aeroporto em busca de um candidato de oposição confiável e competitivo para chamar de seu e ser capaz de tirar o PT do poder. Se procurarem os jornalistas nativos, então, os coitados receberão diferentes e antagônicas versões de cada um.
Na última semana, a julgar pelo espaço que ocuparam no noticiário, os principais candidatos são o ex-presidente Lula e a sua ex-ministra Marina, com Serra correndo por fora, pegando nos calcanhares de Aécio, que parece não saber se vai ou se fica, e qual seu papel nesta história.
Todos eles, na verdade, parecem estar numa batalha de ombudsman _ palavra sueca que não tem flexão de plural nem feminino e, segundo a Wikipédia, significa "profissional contratado por órgão, instituição ou empresa que tem a função de receber críticas, sugestões, reclamações e deve agir de forma imparcial no sentido de mediar conflitos entre as partes" _, uns batendo nos outros, sem apresentar uma única ideia nova ou um projeto para o país que pretendem governar.
Os pré-candidatos da oposição (as definições de chapa do PSDB e do PSB só devem acontecer em março) agem como ombudsman do governo Dilma, usando os mesmos argumentos e limitando-se a criticar a presidente por tudo o que ela faz ou deixa de fazer, sem apresentar, em suas pajelanças, qualquer sugestão viável para melhorar a vida dos brasileiros.
Lula, por sua vez, atua como ombudsman da imprensa e dos governos do seu antecessor Fernando Henrique Cardoso, atirando para todo lado e avisando que poderá voltar em 2018 se lhe encherem muito o saco.
Favorita em todas as pesquisas, com índices variando em torno de 40%, a presidente Dilma circula impávida pelos quatro cantos do país, garantindo que não está em campanha, mas não perdendo nenhuma chance de garimpar seus votinhos por onde passa, montada nos programas sociais lançados pelo seu antecessor, que está de volta à ribalta com a corda toda.
Com sua campanha limitada a entrevistas coletivas em Brasília, Aécio reapareceu nesta quinta-feira para dizer que Lula "vai criando uma sombra sobre Dilma, mesmo sem querer", como se ele mesmo não estivesse enfrentando a enorme sombra de Serra, que mais parece um fantasma a atormentá-lo.
"O que eu vejo é o PT hoje muito ansioso, aflito, duvidando das condições da presidente da República, que eu acho que não são boas", analisou o ombudsman tucano, sem se dar conta de que está há meses empacado em terceiro lugar nas pesquisas, com um terço das intenções de voto da presidente candidata à reeleição.
Da mesma forma, o presidenciável Eduardo, que ficou em segundo plano depois de se associar a Marina, agora chama Lula de "cover" de Dilma, também sem olhar para o lado e ver o que acontece na sua própria casa com o embate entre sonháticos sustentáveis e pragmáticos socialistas. Não é pitoresco isso?
Teoricamente, Serra e Aécio pertencem ao mesmo partido, mas agem como se a disputa presidencial se desse apenas entre eles e não com os adversários de outros partidos.
Enquanto emissários de Aécio, o candidato oficial lançado por FHC e apoiado pela imensa maioria dos tucanos, se queixam da desenvoltura com que Serra se movimenta pelo país também se apresentando como candidato presidencial (apenas dele mesmo e de uma parcela da imprensa mais conservadora), o ex-governador paulista orienta o eterno aliado Roberto Freire, proprietário do PPS, a apoiar o PSD de Eduardo para enfraquecer seu concorrente interno no PSDB.
É para deixar mesmo qualquer jornalista estrangeiro com vontade de largar a cobertura no meio, dar uma banana pra todo mundo, e só voltar ao Brasil quando as coisas ficarem um pouco mais claras.
Não me lembro de ter visto nada parecido nas muitas coberturas de eleições presidenciais que já fiz por este mundão de Deus nos últimos 50 anos. O Brasil, de fato, não é para amadores e não dá a menor bola para os velhos manuais da política. Fora isso, qualquer previsão é mero chute.
Apesar de tudo, um bom fim de semana a todos.
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POLÍTICA - O procurador que apostou na blindagem errada.


A enrascada em que se meteu o procurador da República Rodrigo De Grandis se deve à sua aposta na blindagem errada: julgou que o PSDB fosse um todo homogêneo e não se deu conta de que a blindagem da mídia beneficiava exclusivamente o grupo ligado ao ex-governador José Serra.
A primeira prova de fogo de De Grandis foi a Operação Satiagraha. Nela, os principais atores - juiz Fausto De Sanctis e delegado Protógenes Queiroz - foram alvos de uma campanha implacável – da mídia, como um todo, reforçada pelo Ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.
De Sanctis e Protógenes mostraram estrutura psicológica para resistir ao massacre a que foram submetidos. De Grandis encolheu-se, assustou-se.
Quando a Satiagraha recrudesceu,  seus parceiros apontavam para seu pouco entusiasmo, o desagrado de ser interrompido em alguma festa para tomar alguma medida urgente, a demora em responder a algumas questões, nada que o comprometesse mas que já demonstrava seu desconforto de enfrentar empreitada tão trabalhosa - que, para procuradores mais vocacionados, poderia ser o desafio da vida.
Definitivamente, De Grandis não tinha a estrutura psicológica e a vocação dos que se consagraram no combate ao crime organizado, como os procuradores Vladimir Aras, Raquel Branquinho, Luiz Francisco, Celso Três, Janice Ascari e Ana Lúcia Amaral - firmes e determinados, alguns até o exagero, como várias vezes critiquei.
O convite inacreditável a Mainardi
Na primeira vez que foi alvo de ataques, De Grandis arriou.
Ocorreu quando o colunista de Veja Diogo Mainardi avançou além da prudência e anunciou que entregaria pessoalmente ao juiz da Operação Chacal (na qual Dantas era acusado de grampear adversários e jornalistas) o relatório da Itália sobre as escutas da Telecom Italia.
Titular do caso, a procuradora Anamara Osório reagiu e publicou nota no site do Ministério Público Federal de São Paulo alertando que se tratava de um jogo de Dantas para contaminar o inquérito. Sem noção, Mainardi partiu para ataques destrambelhados contra os procuradores. Depois, caiu a ficha e entrou em pânico.
Dias depois, foi recebido por De Grandis, através da intermediação de um colega de faculdade ligado à ex-vereadora Soninha - do grupo de Serra. Foi um encontro surpreendente. Numa ponta, um colunista assustado – conforme algumas testemunhas do encontro -, quase em pânico, querendo desfazer a má imagem perante os procuradores. Na outra ponta um procurador assustado, querendo desfazer a má imagem junto à mídia.
Foi provavelmente ali que De Grandis sentiu a oportunidade de se aproximar dos detratores e proteger-se do fogo futuro. Convidou Mainardi para palestrar em um encontro social de procuradores, avalizando - perante a classe - a conduta de um dos principais suspeitos de atuação pró-Dantas.
Só não ocorreu o encontro por falta de agenda de Mainardi.
As mudanças na atuação
A partir daquele episódio, surgem os sinais mais nítidos da aproximação de De Grandis com o grupo Serra.
Quando a Operação Satiagraha foi anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), De Grandis recorreu, como não poderia deixar de fazer, mas chamou a atenção sua indiferença contra uma medida que comprometia o que procuradores mais vocacionados considerariam o trabalho de sua vida.
Tempos depois, recusou pedido da Polícia Federal para indiciar o vereador Andreá Matarazzo - também do grupo Serra. Devolveu o inquérito solicitando mais informações para tomar sua posição.
Poderia ser apenas rigor técnico, não fossem os fatos posteriores.
Foi apanhado no contrapé quando a revista IstoÉ mencionou os pedidos de procuradores suíços para atuar contra suspeitos do caso Alstom - dentre os quais José Ramos, figura-chave da história. Alegou ter esquecido o pedido em uma pasta errada. Agora, a Folha informa que o próprio Ministério da Justiça enviou três cobranças, os procuradores paulistas também o questionaram, e nada foi feito.
O erro de avaliação
Há vários pontos a explicar seu comportamento.
O primeiro, o da análise incorreta do benefício-risco.
A Satiagraha revelou, em sua amplitude, o risco de atuar contra pessoas próximas a Serra. Se fosse a favor, haveria blindagem. E a comprovação foi o próprio comportamento do ex-Procurador Geral da República Antônio Fernando de Souza. Ele retirou da AP 470 o principal financiador do mensalão – as empresas de telefonia controladas por Dantas -, escondendo dados levantados pelo inquérito da Polícia Federal. Foi premiado com contratos milionários da Brasil Telecom, e continuou vivendo vida tranquila.
Antes disso, o mesmo Antônio Fernando anulou a Operação Banestado, em uma atitude escandalosa que não mereceu uma reação sequer da corporação dos procuradores, menos ainda da mídia.
Depois, o ativismo político de Roberto Gurgel, comprometendo a imagem de isenção da corporação e garantindo aos inimigos, a forca, aos aliados, a gaveta.
Com tais exemplos, De Grandis deve ter apostado que, ficando longe dos esquemas tucanos, seria poupado pela mídia.
A falta de informação lhe custou caro.
A blindagem da mídia abrange exclusivamente o esquema Serra - uma estrutura complexa que passa pelo banqueiro Daniel Dantas, por Verônica Serra, por lugares-tenentes como Andrea Matarazzo, Gesner de Oliveira, Mauro Ricardo, Hubert Alqueres (e seu primo José Luiz), antes deles, por Ricardo Sérgio, Vladimir Riolli, pelos lugares-tenentes que levou ao Ministério da Saúde, pelos esquemas de arapongagem.
Não entram na blindagem outros grupos tucanos, como o do governador paulista Geraldo Alckmin ou os mineiros de Aécio. Pelo contrário, não poucas vezes são alvos de fogo amigo.
Ao não se dar conta dessas nuances, De Grandis se expôs.
Agora ficou sob fogo cruzado do PT e no grupo de Serra.
O PT, para atingir o PSDB; o grupo de Serra para fornecer mais elementos para Dantas anular a Satiagraha no Supremo Tribunal Federal. O primeiro grupo ataca De Grandis da Operação Alstom; o segundo, o De Grandis que não mais existia, da Satiagraha.
O anacronismo da gestão Gurgel
Some-se a tudo isso o anacronismo burocrático da gestão Gurgel.
O MPF padece do mesmo vício do jornalismo: as tarefas principais, a linha de frente das investigações são entregues a procuradores ou repórteres novatos. Quando ganham experiência, procuradores são promovidos e limitam-se a dar pareceres; e repórteres tornam-se editores.
O burocratismo de Gurgel não criou nenhuma estrutura intermediária, com procuradores mais experientes coordenando, orientando e fiscalizando a atuação da linha de frente.
Agora, o novo PGR, Rodrigo Janot, montou essa estrutura intermediária, nomeando procuradores experientes para essa função.
O episódio traz inúmeras lições.
A principal delas são os efeitos deletérios sobre o trabalho dos procuradores, quando submetidos ao jogo de interesses da mídia.
Recentemente, o MPF de São Paulo montou um seminário apenas com representantes da velha mídia, para falar das relações entre eles. Houve loas à liberdade de imprensa, ao apoio que a mídia dá a escândalos mesmo que não devidamente apurados pelo MPF, a celebração da amizade – que já feriu tantos direitos individuais, pelo hábito da escandalização.
Em nenhum momento entrou-se nos temas centrais: a influência deletéria dos interesses econômicos na cobertura jornalística; a maneira como essa submissão à mídia inibe ou pauta o trabalho de procuradores; o novo papel das redes sociais, como freio e contrapeso aos interesses corporativos.
Quem sabe, comecem a acordar para os novos tempos.
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Proposta do Brasil e da Alemanha à ONU associa espionagem à violação de direitos humanos


Brasília/DF - por Carolina Sarres, repórter da Agência Brasil - Brasil e Alemanha evocaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos na proposta de resolução contra invasão de privacidade entregue hoje (1ª) à Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Para os dois países, as pessoas devem ter garantidos, no ambiente digital, os mesmos direitos que têm fora dele. A iniciativa é uma resposta para as ações de espionagem internacional da Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos.

De acordo com o documento, a coleta de informação por meio da interceptação de dados é uma "preocupação crescente", devido ao ritmo do desenvolvimento tecnológico dos países, que aumenta a capacidade de monitoramento por parte de Estados e empresas.

As normas internacionais que fundamentam proposta conjunta são o Artigo 12 da Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Artigo 17 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos - que mencionam o direito à privacidade, a inviolabilidade de correspondência e a proteção contra ofensas.

No texto apresentado à ONU, os dois países observam que, apesar da necessidade das medidas de combate ao terrorismo, essas práticas devem ser feitas de acordo com o direito internacional, os direitos humanos, o direito dos refugiados e o direito humanitário.

Brasil e Alemanha pedem, no texto, garantia para proteção de dados em comunicações digitais; medidas para a cessação das violações do direito à privacidade (inclusive, por meio da adequação das legislações nacionais); revisão dos procedimentos adotados atualmente; estabelecimento de mecanismos nacionais de supervisão de atividades de espionagem e intensificação da transparência no âmbito das comunicações.

A proposta de resolução, que vai tem de passar pela apreciação das delegações dos 193 países-membros da ONU, pede ainda que a alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, apresente à Assembleia Geral da ONU, de forma prioritária, um relatório preliminar sobre a proteção do direito à privacidade e recomendações a serem consideradas pelos Estados nas próximas sessões da assembleia - em outubro de 2014 e 2015.

O documento apresentado hoje está no contexto das recentes denúncias de espionagem feitas pela imprensa internacional por meio de informações repassadas por Edward Snowden, ex-consultor contratado para prestar serviços à Agência Nacional de Segurança (NSA), órgão de segurança do governo norte-americano.

Segundo as denúncias, a NSA grampeou o celular da chanceler alemã Angela Merkel e ainda monitorou mais de 70 milhões de telefonemas na França. O mesmo foi divulgado em relação à Espanha.

A presidenta brasileira, Dilma Rousseff, foi uma das primeiras chefes de Estado a se queixar das práticas dos norte-americanos, depois de reportagem denunciando que suas comunicações haviam sido interceptadas. De acordo com as denúncias, a espionagem ao Brasil também teve como alvo a Petrobras.

-Edição: Davi Oliveira - Todo o conteúdo deste site está publicado sob a Licença Creative Commons Atribuição 3.0 Brasil.  (Edição final deste Blog).
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MÍDIA - Esperando o Wagner Moura chegar.

Diário do Centro do Mundo


Por que a manifestação convocada por atores da Globo foi um fiasco

by Kiko Nogueira
grito da liberdade
Esperando o Wagner chegar

O “Grito da Liberdade”, manifestação convocada por atores da Globo, reuniu perto de 600 pessoas no centro do Rio de Janeiro no dia 31 de outubro. Foi um passeio agradável. Um vídeo havia sido gravado com a participação de Wagner Moura, Mariana Ximenes, Leandra Leal, Camila Pitanga, entre outros, chamando para o ato.
Em princípio, o mote era a violência policial. Mais tarde, pauta acabou com dez reivindicações (!). A saber: fim das prisões políticas; anistia aos processados e presos políticos; garantia do direito à livre manifestação; fim da violência policial; desmilitarização da PM; fim da pacificação armada; investigação dos crimes cometidos pelas polícias militar e civil; democratização dos meios de comunicação; em defesa do Marco Civil da Internet; a abertura de diálogo entre Estado e sociedade civil.
Tim Maia estava ali em espírito: tudo é tudo e nada é nada. Os outros, nem isso. O nível de comprometimento dos artistas ficou evidente quando nenhum deles compareceu ao ato. Ou melhor, a atriz Teresa Seiblitz estava lá. "É uma questão complexa, não tem como avaliar se black blocs são isso ou aquilo... Não sei. Mas o mais plausível é que seja um jeito de se defender da polícia", disse. O rosto mais conhecido era o do rapaz que se fantasia de Batman.
O que o fiasco mostrou é que, primeiro, esse tipo de vídeo serve mais para os propósitos dos próprios artistas do que para o protesto. Depois, que a imagem da Globo está impressa em seus rostos. Por último, mas não menos importante, o vídeo-convocação era muito ruim. Mariana Ximenes garantia, a certa altura, que a coisa seria "lúdica".
A solução: Wagner Moura. Sim, o Capitão Nascimento. Os artistas estão tentando convencer Moura a vestir a farda do Bope, como nos velhos tempos, e falar pro pessoal: “Aí, quem não comparecer vai pro saco. Missão dada é missão cumprida! Se não for pra rua, vai pro microondaish”. Moura ainda não concordou, mas está pensando com carinho no assunto.
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Eike simbolizou não a nova economia, mas a velha mídia.

Diário do Centro do Mundo



by Paulo Nogueira
Como alguém tão frívolo podia dar certo?
Como alguém tão frívolo podia dar certo?
Não tenho simpatia ou admiração por alguém que, como Eike Batista em seus dias dourados, diz que seu sonho é ser o homem mais rico do mundo.
É muita pobreza de espírito. Mesmo em concurso de misses você vai encontrar respostas mais interessantes sobre sonhos e aspirações.
Mas, posto isto, o que estão fazendo com Eike na queda me lembra o que fizeram com Gatsby, o grande personagem de Fitzgerald. É um massacre abjeto, desprezível e cínico em que a maior vítima é a verdade.
Em seu Twitter, o ex-colunista da Veja Diogo Mainardi postou um vídeo em que Dilma aparece elogiando Eike. Postou também, modestamente, um artigo em que um blogueiro da Veja saúda sua capacidade profética.
Mainardi teria visto antes que os outros, segundo o blogueiro, que Eike era uma “farsa”. Em seu currículo de profecias, Mainardi carrega uma – que correu as redações como piada por muito tempo – em que ele dizia o seguinte, em janeiro de 2005. “Dentro de um ano, Serra vai subir a rampa do Planalto”.
Pausa para rir.
Vejamos agora o que Veja dizia de Eike quando ele subia, em 2008.
“O empresário Eike Batista acaba de se tornar o símbolo do novo empreendedor brasileiro. A oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) da OGX, sua companhia petrolífera, captou 4 bilhões de dólares nesta sexta-feira, quando foi realizada. É a maior operação desse tipo já feita no país. [...]
O sucesso de Eike Batista rendeu-lhe a reportagem de capa de VEJA desta semana.
[...]
Eike virou assim a cara do capitalismo que começa a se instalar no país, no qual o empreendedorismo se sustenta no mercado de capitais e não nas benesses estatais.
[...]
Tudo isso forma o cenário definido por um experiente analista do mercado de capitais como "alinhamento dos astros". Graças a esse alinhamento e a uma eficiente capacidade de contratar as pessoas certas, Eike manteve o rumo nos momentos ruins e disparou nos bons. Isso não explica completamente o sucesso alcançado pela OGX. Para compreender o que se passou na Bovespa na sexta-feira, é preciso levar em conta um fator subjetivo, que vem sendo chamado de "Efeito Eike".”
Bem, uma nova pausa para rir.
A Veja, como toda a mídia, comprou Eike. Chegou a compará-lo, numa das capas mais pavorosas dos 45 anos da revista, com Deng Xiao Ping.
Mas, caído ele, a mídia finge que não adulou Eike, convenientemente colocado agora, na desgraça, como uma invenção de Dilma.
Não que Dilma não tenha culpa de muitas coisas, como atestam os índios. Mas vinculá-la ao colapso de Eike é uma falácia.
Capa histórica
Capa histórica
Tenho minha própria visão.
Um empresário tão preocupado com coisas frívolas não poderia dar certo. Nas palavras da Veja:
“Mora numa casa de 3.500 metros quadrados, construída em um terreno de 60.000 metros quadrados, sem vizinhos que o separem do Cristo Redentor. Além do Mercedes de 1,2 milhão de euros que fica estacionado em uma das salas da mansão, tem catorze automóveis na garagem, três lanchas, três aviões e um helicóptero. Brinda a cada novo contrato com champanhe junto a uma fonte em seu jardim, de onde se descortina uma das mais lindas vistas da Lagoa Rodrigo de Freitas. Faz negócios e corre riscos à luz do dia.
Mais Eike tornaria o ambiente de negócios no Brasil melhor? Sem dúvida. "Isso é muito bom para um país que precisa ser mais assumidamente capitalista, globalizado e moderno", afirma o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. "Ele foge do estereótipo do empresário chapa-branca, atrasado, que não gosta de capitalismo."”
Se algum leitor da revista acreditou no que leu e comprou ações de Eike, por causa de sua fabulosa “capacidade de contratar as pessoas certas” e outras virtudes, pode talvez reclamar no Procon ou coisa parecida.
Eike era um símbolo, é certo, mas não da nova economia, mas da velha mídia.
Lembremos as “benesses estatais” das quais fala, acusadoramente, o texto da Veja. Agora relembre coisas como a reserva de mercado da mídia e o chamado “papel imune”, sobre o qual numa camaradagem extrema não incide imposto, e os cofres sempre franqueados do BNDES e do Banco do Brasil para as grandes corporações jornalísticas.
Pronto. Agora uma pausa para todos nós rirmos.
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