A Rede da Marina, a Rede do Itaú, Marina na Rede do Itaú, e Marcelo Mirisola. Ou 'Caiu na Rede é...trouxa'




Teria sido apenas uma incrível coincidência? Teria sido feito de caso pensado? Quem nasceu primeiro, o ovo (Rede) da Marina ou a galinha (Rede) do Itaú?

Logo após a ex-senadora Marina Silva tentar e não conseguir registrar seu Rede no TSE, o banco Itaú, que tem uma das herdeiras da família Setúbal, Maria Alice Setúbal, como uma das principais apoiadoras da Rede, o banco Itaú, eu dizia, resolveu que seu Redecard passaria a se chamar apenas Rede.

Num notável sincronismo, uma Rede balança a outra, tentando pegar os peixes-otários, os trouxas que somos nós - pelo jeito é o que pensam que somos.

Não vejo chiadeira contra essa tramoia canalha do partido sem registro com o banco sem vergonha, que quanto mais fatura e lucra, mais demite. Ou alguém aí leu alguma declaração de Marina sobre este excesso de Redes?

Para comentar essa miscelânea política, ou melhor, essa promiscuidade safada que nos tenta impingir gato (Rede de Marina) por lebre (Rede do Itaú), fui buscar trechos de um artigo do escritor Marcelo Mirisola, na época comentando outra miscelânea, esta cultural, envolvendo o mesmo banco e a mesma Maria Alice Setúbal (A nova senzala (transversalidades)):

(...) Pois bem, não é de hoje que me chama a atenção a presença constante de dona Maria Alice Setúbal na seção Tendências/Debates, o filé mignon da Folha de S. Paulo. Dona Maria Alice, como indica o nome, é herdeira de Olavo Setúbal, e provavelmente deve ser acionista do banco Itaú. Nos créditos de seus artigos, consta que é doutora em Psicologia e presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária da Fundação Tide Setúbal. Seus artigos são redundantes. Ela gosta de usar a palavra “transversalidade”.

(...) sou correntista do banco Itaú, pago altos juros pra dona Maria Alice Setúbal e também sou leitor de suas intervenções na seção Tendências/ Debates da Folha de S. Paulo. Gostaria de acreditar que o jornal  ainda não foi absorvido pelo acervo do Instituto Moreira Salles.
Voltando à dona Maria Alice Setúbal.

O que madame teria de tão importante para acrescentar, tirante suas “transversalidades”, ao debate de ideias, ou, mais especificamente, por que as idéias dela são tão relevantes para desfilar na seção Tendências/ Debates da Folha?

Vou arriscar um diagnóstico.

Os textos de madame costumam ter a marca indelével que conduz do óbvio ao ululante, são como folders, propagandas de condomínio que indicam, ou melhor, cobram o caminho da felicidade, apesar de a felicidade, pobre e acuada felicidade, não ter sido consultada a respeito de tão nobre encaminhamento. Mas uma coisa dona Maria Alice sabe fazer, algo que circula em seu sangue de agiota, ela sabe cobrar.

No seu último artigo, “Novas formas de aprender e ensinar”, publicado no dia 27 de março, dona Maria Alice Setúbal aposta na “inteligência coletiva” que – segundo sua bola de cristal high-tech – está na iminência de ser consumada pela força da revolução tecnológica. Madame não costuma deixar lacunas porque cumpre sua função, repito, que é levar o nada a lugar nenhum com a marca da excelência, como se o mundo fosse uma agência bancária cor-de-laranja protegido por portas giratórias e slogans de publicidade.

Não obstante, dessa vez, madame deu uma vacilada.

Dona Maria Alice Setúbal esquece que o lado de fora não tem ar condicionado. Revolucionária, decreta o fim do ensino linear. Para madame, o ensino da maioria das escolas – que ainda trabalham com aulas expositivas e livros didáticos – não faz mais sentido diante do conhecimento que é “transversal e produzido nas conexões entre várias informações”. Bem, esses conhecimentos ou essas conexões, que eu saiba, só existem e funcionam em sua plenitude nos sistemas de cobrança do banco de madame e na bolsa de valores. No mínimo, dona Maria Alice Setúbal, que se imagina mensageira do futuro, é uma debochada. Convenhamos que a “realidade transversal” que os nossos professores experimentam nas salas de aula têm outros nomes que nem o eufemismo mais engenhoso poderia disfarçar, tais como humilhação, porradaria, salário de merda. Para coroar seu pensamento revolucionário, dona Maria Alice, sentencia: “Essa transversalidade se expressa nas demandas das empresas e nas expectativas dos jovens”.

Que jovens são esses?  Aqueles que madame adestra em seus canis cor-de-laranja?  Qual a expectativa deles?  Telefonar pras nossas casas às sete horas da manhã para nos lembrar que somos devedores do Itaú? Ou a expectativa desses jovens é subir na vida, e virar gerente de banco?

Dona Maria Alice vai além e se entrega, ela acredita que a tecnologia vai produzir “pessoas que saibam resolver problemas, comunicar-se claramente, trabalhar em equipe e de forma colaborativa. Que usem as tecnologias com desenvoltura para selecionar, sistematizar e criticar informações. E que sejam inovadoras e criativas”.

Ora, madame quer empregados que não a incomodem, e encerra seu raciocínio ou exige, de forma impositiva e castradora: “E que sejam inovadoras e criativas”.  Não querendo fazer leitura subliminar, nem ser Lacaniano de buteco, mas esse “E que sejam inovadoras e criativas” é de amargar, hein, madame?

O artigo de dona Maria Alice é uma ordem de comando. A voz da dona, a mulher que visivelmente não pode ser contrariada. Difícil ler e não sentir-se um empregadinho dela. Ao mesmo tempo em que ordena “inovação e criatividade”, elimina a possibilidade de reação: “para fazer da tecnologia uma aliada da educação, é preciso vencer o medo do novo e superar a cultura da queixa”. Como se madame dissesse: “Publiquem meu artigo genial, obedeçam, e calem a boca. O futuro é meu, e se eu disser que é coletivo e cor-de-laranja, dá na mesma”.
(...)
Eu falava de madame (versão 2013) que diz que samba é coisa de gente elegante. Dessa vez a visita periódica que madame faz à sua cozinha, também conhecida como “Tendências/Debates”, ultrapassou o terror costumeiro, e, no lugar de marcar presença e autoridade, madame só fez azedar o cuscuz. Ela devia ser mais discreta, como Olavão, o patriarca, o banqueiro. Não se deve confiar demais na vassalagem (leia-se correntistas e leitores).

No mesmo dia que madame publicou seu artigo, aconteceu uma coincidência reveladora, logo acima do texto de sinhá, no “Painel do leitor”, uma dona de casa, Mara Chagas, reclamava enfurecida da nova lei das empregadas domésticas, e fazia coro – às avessas, mas coro – à mme. Setúbal: “As empregadas domésticas não trabalham aos sábados, não cumprem as oito horas diárias, o serviço tem que ser ensinado (não são mão de obra especializada), almoçam e lancham na casa dos patrões sem cobrança alguma e faltam sem avisar. Como ficará o empregador diante disso?”

Eis a questão.

Pelo menos dona Mara Chagas, a leitora, foi honesta e direta, e não precisou de “transversalidades” para exprimir suas ideias revolucionárias. E o melhor: ela não vai concorrer ao Oscar, e jamais vai se manifestar no “Tendências/ Debates”. Nem ela, nem eu. [Leia a íntegra aqui]



Madame Flaubert, de Antonio Mello

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MÍDIA - Ganha um doce quem adivinhar quem é o cara.

Diário do Centro do Mundo

“Única mídia que confio e sigo é VEJA ABRIL! A folha em um tempo atrás era ligado com grupos Comunistas! Espero que não seja uma armadilha! Cuidado!”

by Paulo Nogueira
festacomunistas
Vou adotar um dos clichês de “polemistas”. Não vou citar nome. Digo apenas que ele se incomodou tanto com minha desconfiança (enorme) em relação a sua audiência que passou um dia todo anunciando o número de cliques que supostamente eram dirigidos a ele.
Para registro: cliques, em si, pouco dizem. O que conta, mesmo, são visitantes únicos. Se a mãe de alguém entra 100 vezes em seu blog por dia, aparecerão 100 visualizações diárias. Mas será um único visitante, identificado pelo IP.
Também para registro: o DCM, de janeiro (marco zero na fórmula atual) a setembro, saiu de 200 000 visualizações diárias para 2 milhões. O número de visitantes únicos bateu, em setembro, em 740 000.
Somos, hoje, o 42.o maior site de notícias do Brasil em visitantes únicos – e isso com um “jornalismo de butique”, não feito para atrair hordas com informações como o que se passa nas telenovelas. Os comentários postos em nossos textos – um material que enriquece vivamente os debates --  são o maior testemunho do alto nível de nossos leitores.
Para efeito de comparação: a portentosa Abril tem, em média, 8 milhões de visitantes únicos por mês. É a soma da Veja – toda ela, com seus múltiplos blogueiros e mais os repórteres que comparecem com suas notícias --  com os demais sites de notícia da casa.
São dados da ComScore, a fonte mais confiável da audiência digital, o equivalente ao que o Ibope representa para a tevê.
(Bem, quanto a nós, é o reconhecimento de um tipo especial de leitor ao jornalismo que fazemos – apartidário, verdadeiramente independente, cuja causa maior é um “Brasil Escandinavo”, como sabe quem nos acompanha.)
Mas voltemos ao ponto de partida. E sigamos num espesso, inexpugável anonimato, para adotar um clichê de polemistas.
Considere duas frases de pessoas diferentes, de épocas e nacionalidades distintas. O sentido de ambas é o mesmo.
Pulitzer, um dos maiores editores da história do jornalismo, e Nelson Rodrigues, que todos conhecemos.
Pulitzer disse que com o tempo uma imprensa tacanha acaba formando um público igualmente tacanho.
Nelson Rodrigues disse que uma mídia obtusa e um leitor obtuso justificam um ao outro e mutuamente se absolvem.
Agora leia este comentário de um leitor de certo polemista – lamento não declinar o nome, mas me comprometi com o anonimato -- que escreverá uma coluna semanal num diário.
“Única mídia que confio e sigo é VEJA ABRIL! A folha em um tempo atrás era ligado com grupos Comunistas! Espero que não seja uma armadilha! Cuidado!”
A diferença entre sites e entre analistas se vê nos comentários que trazem.
E mais não digo.
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Confirmado: PMs de UPP da Rocinha sequestraram, torturaram e mataram Amarildo




Agora não restam mais dúvidas: aquilo que se suspeitava e por aplicação do domínio de fato estava no inquérito ganha confirmação com depoimentos de PMs que teriam participado, por omissão, da agonia do pedreiro Amarildo.

O jornal O Globo teve acesso ao depoimento de PMs e mostra num infográfico (reproduzido acima. Clique para ampliar) a agonia de Amarildo e a desfaçatez combinada com certeza de impunidade de seus algozes.

Quantos Amarildos já não morreram ou estão sendo mortos assim, acobertados por uma política de segurança cínica e midiática, e por uma corporação que já deveria ter deixado de ser militar, junto com o fim da ditadura?

Se não fossem as redes sociais, Amarildo seria mais um e, ao mesmo tempo, menos um. Mais um cidadão desaparecido, menos um na estatística dos assassinatos do Instituto de Segurança Pública.

Que todos os que participaram sejam punidos, inclusive os de paletó e gravata que comandam o estado. Porque esta PM que mata Amarildos é a mesma que achaca cidadãos nas ruas, agride manifestantes, e os responsáveis por estes comportamentos são seus comandantes primeiros, governador e secretário de Segurança.

A detalhada descrição do infográfico de O Globo (original aqui) é de embrulhar o estômago. Mas, o pior é saber que com ou sem UPP a PM continua à margem da lei e à espera de ser desmilitarizada, porque a época da ditadura já passou.

A cada dia, novos detalhes do crime vêm à tona. Mas a pergunta que a sociedade não cala ainda não tem resposta: - Cadê o Amarildo?

Leia também:

Impunidade dos torturadores da ditadura está na raiz dos crimes das PMs brasileiras


Madame Flaubert, de Antonio Mello

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PETRÓLEO - Em 35 anos, pré-sal vai nos deixar a todos mais ricos?



dilma Em 35 anos, pré sal vai nos deixar a todos mais ricos?
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2013.
Se as contas da presidente Dilma Rousseff estiverem todas certas, o tesouro do pré-sal leiloado nesta segunda-feira vai render "o fabuloso montante de mais de R$ 1 trilhão. Repito: mais de 1 trilhão!" ao país, nos 35 anos de exploração do campo de Libra, como ela anunciou solenemente em cadeia nacional de rádio e televisão logo após a assinatura dos contratos.
Tenho algumas dúvidas se a presidente e eu, que temos a mesma idade, vamos viver até lá, para conferirmos o acerto ou não das suas previsões. Afinal, em 2048, estaremos (ou estaríamos...) completando exatamente 100 anos de idade.
Como a expectativa de vida dos brasileiros vem aumentando ano a ano, quem sabe?
Seja como for, apesar da onda de pessimismo que assola o país, estimulada por sábios da economia e magos das finanças, a maioria deles ex-colaboradores ou admiradores midiáticos do governo de Fernando Henrique Cardoso, que nem são tantos, mas fazem um barulho danado, como os torcedores da Portuguesa, apesar deles, como eu ia dizendo, o leilão do pré-sal só nos dá motivos de otimismo e esperança de vivermos num país melhor sem termos que sair do Brasil.
Basta ver quem foi contra o leilão, para se ter certeza de que o governo acertou no formato de partilha adotado pela primeira vez na exploração de petróleo no país. Além da Petrobras, quatro das maiores petroleiras do mundo, a Shell, a Total e duas estatais chinesas, se uniram para formar um superconsórcio que renderá ao Brasil 85% de toda a renda produzida por Libra.
Após o anúncio do resultado do leilão, as ações da Petrobras dispararam na Bolsa de Valores, mostrando que o mercado _ o sagrado mercado! _ ficou contente, mesmo com o ágio mínimo a ser pago pelo único consórcio que apresentou proposta.
Só restou ao principal líder da oposição, o tucano Aécio Neves, criticar o leilão por ter sido "tardio e envergonhado", e reclamar que a presidente Dilma utilizou mais uma vez a rede nacional de rádio e televisão para falar de ações do seu governo. Queria o quê? Que ela agradecesse a valiosa contribuição dada pela oposição e pela mídia amiga?
Dilma ainda aproveitou para lembrar que irão para a Educação 75% dos royalties e do excedente de óleo de Libra. Os outros 25% serão investidos em Saúde. Os primeiros barris de Libra ainda vão levar cinco anos para saírem do fundo do mar, mas os ganhos para o país, nas mais diferentes áreas da economia, serão imediatos, com a geração de milhares de empregos e as encomendas para a indústria nacional de 12 a 18 megaplataformas, barcos, gasodutos e demais linhas de produção ligadas à área do petróleo.
Feliz com o desfecho pacífico da história, apesar de alguns corre-corres e arranca-rabos entre manifestantes e policiais diante do hotel na Barra da Tijuca onde foi promovido o leilão, Dilma encerrou seu pronunciamento de dez minutos na TV, lembrando que "a batida do martelo foi também a batida à porta de um grande futuro que se abre para nós, nossos filhos e nossos netos".
Para quem ainda é jovem e tem um pouco de paciência, o que aconteceu ontem pode mesmo ser um divisor de águas na nossa história, o início de um novo tempo no "país do futuro", que finalmente chegou. Não basta o petróleo ser nosso: era preciso ter coragem para captar os recursos necessários, aqui dentro e lá fora, estatais ou privados, para tirar o tesouro das profundezas do mar e colocá-lo a serviço de uma vida melhor para todos os brasileiros.
E o caro leitor do Balaio, o que achou de tudo isso? Mande sua opinião porque, como escrevi na coluna de ontem, não quero ser o dono da verdade.
A sorte está lançada. Na sua opinião, nós ganhamos ou perdemos?
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ECONOMIA - "BRIC"


A máscara de BRIC não nos cobre


Carlos Lessa

A expressão BRIC foi recorrentemente utilizada em um encontro político-cultural com mais de 500 participantes (em sua imensa maioria, europeus, asiáticos e africanos). O Novo Mundo estava praticamente ausente: apenas seis latino-americanos, um canadense e dois americanos, mas a expressão frequentou as conferências e foi utilizada em debates; está vulgarizada no vocabulário geopolítico e geoeconômico. Praticamente não foram utilizadas as antigas dualidades: centro-periferia, norte-sul, países desenvolvidos-subdesenvolvidos etc.
É quase impossível encontrar o denominador comum, a não ser o tamanho geográfico e demográfico dos países. O Brasil é um estranho nesse ninho. Rússia, China e Índia têm domínio e armamento nuclear e dispõem de submarinos atômicos. O Brasil é insignificante potência militar e não tem acesso ao armamento nuclear nem à eletrônica dos drones e de interferências variadas. Rússia, China e Índia têm brutais problemas com seus vizinhos. Internamente, a Rússia tem o problema do Cáucaso; a China, do Tibete; e a Índia é, ainda, uma construção precária e pouco integrada. Todos os três têm barreiras internas religiosas e de grupos étnicos-culturais e são mosaicos de diferenças.
O Brasil pratica um único idioma e é quase homogêneo. Quando comecei a viajar pelo interior, em qualquer pequena cidade encontrei um Grande Hotel, uma Padaria Ideal e uma Tinturaria Arco-Iris. Do Oiapoque ao Chuí, são mínimas as diferenças culturais. Conflitos religiosos que são comuns nos demais grandes países são aqui substituídos pelo “sincretismo” que, pragmaticamente, é praticado. Lembro de uma pequena propriedade leiteira cuja dona rezava para Santo Antonio, pregava folhas de arruda nos ângulos do curral, fumava charutos perto das vacas, amedrontada pela ameaça de mastite – mas, para cercar o problema por todos os lados, convocava o veterinário. Somos um país mestiço e multicolor. Integramos tudo que aqui nos chega. Na beira da estrada, um conjunto com feijão preto, polenta e carne de churrasco recebe agora a comida japonesa. Nosso povo combina conservadorismo de tudo que sabe e possui, com uma permanente prospecção, assimilação e digestão das novidades. É visível a nossa não arrogância (à exceção do futebol) e ausência de resistência ao que vem de fora.
COM A AMÉRICA DO SUL
BRIC é um conceito construído e dissolvente de nossa proximidade com os latino-americanos e, em especial, com nossa óbvia e indispensável integração com a América do Sul. Nos últimos anos, 50% das nossas exportações manufatureiras foram para os latino-americanos, sendo 30% para o Mercosul. O ritmo da integração sul-americana depende do modo como o Brasil venha a priorizar o mundo ibero-americano, o que não é fácil, pois é brutal a assimetria da luso-América com a hispano-América.
O discurso BRIC sublinha esta dificuldade; nossa diplomacia deveria sublinhar nossa pertinência à Sul-América e nosso condomínio marítimo no Atlântico Sul com a África. Entretanto, a expressão BRIC parece acariciar os ouvidos da diplomacia brasileira. Temos a duvidosa dimensão de ser o terceiro maior credor do Tesouro americano. A China tem reservas de US$ 1,27 trilhão e o Brasil tem US$ 256,4 bilhões. Quando terminou a II Guerra Mundial, nossas reservas viraram fumaça. Qual a garantia de que isso não ocorrerá?
O conceito de emergência é aplicável integralmente à China, que se industrializa e evolui rapidamente para dispor de tecnologias de ponta próprias. Contudo, o problema social chinês é avassalador: metade de sua população é rural com renda média de 1/3 em relação à da população urbana. Nossa questão social é relativamente pequena se comparada ao desafio que o futuro coloca para a China. A Índia, com suas diferenças sociais, não tem qualquer possibilidade de acelerar a urbanização; seu debate é como preservar sua agricultura camponesa com baixa produtividade dos efeitos da industrialização. Etiópia e Somália tem o Mediterrâneo a cruzar para a Lampedusa. Não há saída demográfica para a Índia e maior parte da Ásia. A Rússia se debate no dilema de alinhar-se com a Europa, ou seja, com a Otan, ou lançar-se em uma neoaventura eurásica, lançando-se em aliança com o Japão, para criar uma barreira à China. Para isso projeta um trem-bala transiberiano que faria uma “alça submarina” no Pacífico, se articulando com o Japão.
A expressão BRIC, como um conglomerado de “baleias” emergentes, acaricia os ouvidos dos governantes e caminha suavemente pela mídia. O Brasil tem acelerada desindustrialização precoce; retrocedeu o peso da indústria no PIB em relação ao do final dos anos 50. Define o Brasil com a função de “celeiro do mundo”, sem ter superado a fome dentro da rede urbana nacional. Desmatamos a Amazônia, formando pastos e plantações de soja. Com a desindustrialização, destruímos empregos de qualidade e propensão à pesquisa científica e tecnológica.
FALSO EMERGENTE
O governo pratica um discurso eufórico em ser “emergente”, submergindo a uma exportação que retrocede nos itens manufaturados ou com alta tecnologia: exportamos minério de ferro, couro bovino cru e assistimos o aço e o calçado chinês ocuparem os nichos mercadológicos que o Brasil dispôs em passado recente. Voltamos a ser agroexportadores, porém o complexo de soja não reproduz o antigo complexo do café: os equipamentos, fertilizantes e defensivos são todos fabricados por filiais estrangeiras. A Monsanto domina e difunde a semente transgênica. As grandes exportadoras são filiais estrangeiras; o empresário nacional existe como fazendeiro de soja e, talvez, seja proprietário de caminhões transportadores.
O café, na República Velha, era plantado, financiado, transportado, comercializado e exportado por empresas nacionais. As ferrovias abriram o planalto paulista e a Companhia Docas de Santos era controlada por capital nacional. O café não propunha a industrialização, porém sob a sombra dos cafezais, nasceram amplos segmentos industriais. A soja não propõe a industrialização. Getulio Vargas e Juscelino Kubitschek empurraram a industrialização, porém defenderam o café, o açúcar, o algodão, a borracha, o cacau, etc. Houve um projeto nacional de industrialização e urbanização concentrador de renda e deficiente nas políticas sociais. Continuamos ultra-concentradores: os bancos brasileiros tem uma rentabilidade patrimonial que é o dobro do setor industrial de transformação. Na repartição funcional de renda, diminui a participação dos salários; multiplicamos empregos de baixos salários.
O conceito de classe média é ambíguo, principalmente se for medido pela posse de veículos automotores, eletrodomésticos etc. Em função da alta de preços de commodities derivado do boom chinês, da afluência de capitais especulativos em busca dos altos juros nacionais e das importações de manufaturas, houve base para aumentar o salário real, e isso foi extremamente positivo, porém houve contenção de investimento público e desânimo empresarial com investimento privado.
Afirmar que o Brasil é emergente quando, estruturalmente, estamos submergindo, não assumir que fazemos parte da periferia mundial, não sublinhar que nosso bloco é sul-americano ou latino-americano, não discutir um projeto nacional e aprofundar nossa presença como supridor primário – e, talvez, involuir para país exportador de petróleo – é assustador. A máscara de BRIC não nos cobre nem resolve nossos problemas estruturais e é suprema ingenuidade imaginar que as outras baleias virão para proteger um país tropical.
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