LULA, VALÉRIO, CRISTO E BARRABÁS

Por Eduardo Guimarães


“Os medíocres não hesitarão em tentar ridicularizar o que entenderão como “comparação entre Lula e Cristo” que este texto estaria pretendendo fazer. Até porque, desacostumados a pensar, não vão ler o que será dito a seguir, limitando-se a comentar o título acima.

É óbvio, no entanto, que não se está comparando um simples político com aquele que, na pior das hipóteses, é o maior personagem da história da humanidade. O que se fará aqui será, usando metáfora histórica, apontar o absurdo da situação criada pela mídia e pela oposição federal.

Como já se pode notar, o assunto é a nova investida da imprensa golpista – aquela que gerou o golpe militar de 1964, entre outros – para conseguir no Judiciário o que seus despachantes na política não obtiveram nas urnas.

Não surpreendeu, pois, que o “Estadão” não tenha esperado nem uma semana após o fim da eleição para requentar o que a direita midiática já havia sinalizado, nas páginas de “Veja”, que faria caso o eleitorado não lhe sorrisse.

Apesar de mídia e oposição relativizarem o desprezo que o eleitorado dedicou àquilo que pretendiam que fosse uma bomba atômica – e que se revelou um traque –, essas forças do atraso sabem muito bem que o brasileiro lhes fechou a porta na cara.

Assim que parecem ter se convencido de que a única saída para terem alguma chance de retomar o poder através de algum José Serra da vida – ou, no limite da imprudência, através do próprio – será anulando aquele que julgam ser responsável por mantê-los longe do poder.

É nesse ponto que, de alguma maneira, tal situação parece emular o texto bíblico, na narrativa sobre Jesus Cristo e Barrabás.

Cristo fora acusado pelos sacerdotes judeus perante Pôncio Pilatos, o governador da Judéia, que, após interrogá-lo, não encontrou motivos para sua condenação. Mas como a “opinião pública” vociferava contra o prisioneiro e lhe exigia a crucificação, Pilatos mandou flagelá-lo e depois exibi-lo ensanguentado, acreditando que a multidão se comoveria e julgaria aquele flagelo suficiente para lhe saciar a sede de vingança contra quem ousara criar a “insanidade” sobre igualdade entre os homens. Pressionado, Pilatos mandou trazer um condenado à morte, tido como ladrão e assassino, chamado Barrabás, e ofereceu à “opinião pública” o direito de escolher qual dos dois acusados seria solto e qual seria crucificado.

Lula não é Cristo, não é santo – nem demônio –, mas a direita midiática quer trocar um homem que tirou o Brasil do fundo do poço, que deu dignidade ao povo, que promoveu igualdade como nenhum outro governante, que fez o país ser respeitado como nunca, por um ladrão, um sujeito que envolveu de petistas a tucanos em suas artimanhas criminosas.

Eis a escolha que a direita midiática apresenta ao Brasil: livrar Marcos Valério da cadeia e colocar Lula em seu lugar, tal como foi feito com Cristo e Barrabás.

A diferença é que, se o povo tivesse que escolher, por certo tomaria a decisão certa, invertendo a metáfora histórica. Não há dúvida, porém, de que, como a decisão não caberá ao povo, mas ao conluio entre imprensa, políticos, Judiciário e Ministério Público, a história tende a se repetir.

A menos, é claro, que a “turma do deixa-disso” que infecta o PT resolva parar de colaborar com o script do golpe que se desenha à vista de todos. Contudo, em um momento em que a direita midiática mostra que, na falta de votos, optará de novo pelo golpismo, vemos o colaboracionismo petista agindo a todo vapor.

Ou não seriam colaboracionismo as palavras da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que coonestam a farsa do mensalão, ou a covardia do presidente da Câmara, Marco Maia, que engavetou a CPI da Privataria, que dispensaria ao STF o “Domínio do Fato”?”

FONTE: escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania.com”  (http://www.blogdacidadania.com.br/2012/11/lula-valerio-cristo-e-barrabas/).
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CAI O LÍDER CONSERVADOR. FALTA ACABAR COM O CONSERVADORISMO

O QUE DEVE CAIR COM SERRA?


“O PSDB, sob a liderança de Serra, deixou de ser um partido social democrata para tornar-se um partido de valores conservadores e sair da esquerda política para representar a direita social. Com isso, o partido ganhou engajamento e perdeu representatividade. Hoje, a queda de Serra pode ser vista como a queda de um líder conservador. Mas, ainda é preciso derrubar a fração do conservadorismo ligada ao autoritarismo que forma parte da base de apoio peessedebista em São Paulo e que se nutre da hegemonia de uma imprensa tendenciosa.

O artigo é de Luís Fernando Vitagliano

“Primeiro, Serra trouxe para a eleição de 2002 o tema do medo. Fez a propaganda com a Regina Duarte estampada na TV com medo do Lula. Depois, contra Dilma, apelou para o aborto. Agora é a vez do Kit-gay contra Haddad.

O PSDB, sob a liderança de Serra, deixou de ser um partido social democrata para tornar-se um partido de valores conservadores e sair da esquerda política para representar a direita social. Com isso o partido ganhou engajamento e perdeu representatividade. Agora presta o desfavor de ressuscitar temas há muito afastados da política brasileira ao tentar marginalizar no debate político minorias em prol de certo tipo de moral dominante.

Talvez o eleitor não conheça; ou talvez muitos de nós tenhamos nos esquecido do contexto, mas é preciso recuperar um dos mais importantes projetos de sociologia aplicada do século XX, a pesquisa de Theodor Adorno nos EUA sobre a “Escala F”. Entre 1940 e início de 1950, Adorno, em parceria com alguns psicólogos, se propõe a estabelecer uma escala sobre a personalidade de indivíduos numa sociedade liberal que têm predisposição a se sujeitar à liderança fascista. A base da pesquisa é que existia um padrão de convicções econômicas, políticas e sociais ligados a uma personalidade autoritária. Assim, o estudo chegou ao indivíduo potencialmente fascista cuja personalidade tinha predisposição a apoiar propagandas antidemocráticas.

Esse estudo começou por conta do antissemitismo. Ou seja, da intolerância no que diz respeito às opções individuais. Propagandas conservadoras baseadas no medo e/ou no ódio violam o princípio básico da república que é a diversidade social. Misturar religião com valores sociais em propagandas políticas já se tornou há muito tempo atitude repugnante e já foi historicamente comprovado o desfavor prestado à cidadania.

Serra, segundo levantamento do próprio “Datafolha”, perderia estas eleições inclusive em perfis tidos como conservadores. Porque, mesmo que tenham valores sociais, parte do eleitorado com o mínimo de cidadania entende que não cabe ao poder público julgamentos sociais. Igrejas e outros grupos conservadores podem ter suas convicções e uma moralidade que os delimita, não há nenhum problema nisso, mas impor sua ordem a outros grupos é autoritarismo. Assim, as críticas a políticas de diversidade só podem ser entendidas como bem sucedidas em grupos sociais que não dispõem de nenhuma cidadania ou de indivíduos que desenvolveram alguma personalidade autoritária. É falsa a noção de que educação e renda dão consciência política. O que dá consciência política é cidadania, é participação, é envolvimento nas questões públicas, e isso pode ser encontrado em pobres, ricos e médios.

Portanto, se olharmos o mapa dessa votação de prefeito em São Paulo, ainda veremos que Serra se manteve vencedor nos redutos peessedebistas das regiões centrais. Mas o que os mapas não mostram são as motivações dos votos. A tentativa de marginalizar o PT com a propaganda contra esse partido para garantir sua hegemonia nos próprios redutos e a exploração de temas que pregam segregação contra minorias não surtiu efeitos eleitorais em termos de crescimento de intenção de votos, mas criaram desmedida tensão entre militantes.

E, ao considerarmos que, para além dos partidos políticos, a grande imprensa defensora do status quo difundiu e defendeu teses conservadoras nesta eleição sem o menor constrangimento, não é possível esperar que tenha sido derrotado, com queda de Serra, o autoritarismo raivoso de alguns segmentos sociais.

Podemos até tentar esvaziar com argumentos a impressão de que propagandas antidemocráticas têm espaço e representatividade em partidos políticos no Brasil – ainda mais em partidos de envergadura nacional. É possível defender que tais propagandas são ineficientes e, portanto, devem ser abandonadas: com uma estratégia completamente diferente, o PSB, por exemplo, cresceu. A crítica pode convencer o próprio PSDB a retomar defesa da política liberal que abandonou em função da estratégia conservadora e desnutrir alguns bastiões da moralidade autoritária travestidos de liderança política.

Infelizmente, isso pode ser movimento de longo prazo. Porque já se constituiu, em prática, a noção de que temas conservadores podem fazer parte da agenda eleitoral e, portanto, política. Com esse espaço, outras lideranças antidemocráticas fatalmente podem surgir. Hoje, a queda de Serra pode ser vista como a queda de um líder conservador. Mas, ainda é preciso derrubar a fração do conservadorismo ligada ao autoritarismo que forma parte da base de apoio peessedebista em São Paulo e que se nutre da hegemonia de uma imprensa tendenciosa.

Enquanto sobreviver numeroso o autoritarismo em frações da sociedade brasileira, surgirão lideranças interessadas em explorar o tema. Resta saber se podem contar com apoio, recursos e audiência para estimular novas rupturas a partir da defesa de posturas antidemocráticas como aconteceu em São Paulo do último outubro.”

FONTE: escrito por Luís Fernando Vitagliano, cientista político e professor. Transcrito no portal de Luis Nassif  (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/cai-o-lider-conservador-falta-acabar-com-o-conservadorismo).
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O SANGRENTO FRACASSO DOS EUA NA SÍRIA

Hillary Clinton

Da “Xinhua News Agency”, Pequim

A experiência já mostrou que intervenção e a “exigência” de que Assad deixe o poder não conseguiram conter a violência ainda crescente e precipitaram a Síria em caos ainda mais profundo.

- Aparentemente, Washington ainda insiste na velha ideia intervencionista, que mais de uma vez levou os EUA a beco sem saída.

- Em nenhum caso o ocidente deveria apoiar um dos lados, na luta para varrer do mundo a oposição, porque esse tipo de ação sempre implica consequências incontroláveis.

PEQUIM – “Já dissemos, bem claramente, que o “Conselho Nacional Sírio” não pode continuar a ser visto como líder visível da oposição”, disse a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton em visita à Croácia, na 4ª-feira, “exigindo” modificações na liderança da oposição síria.

A recente “grande virada”, que visa a descartar o “Conselho Nacional Sírio” que tem base em Istambul, Turquia – o mesmo CNS que os EUA até agora haviam apoiado sem restrições – mostra a confusão reinante nas “táticas” do ocidente para a Síria que, hoje, se veem ante o grande problema de encontrar outros representantes locais aos quais apoiar.

Os EUA, que em nenhum momento se ocuparam em buscar alguma verdade factual em campo e temerariamente acolheram como aliado e “representante local” o “Conselho Nacional Sírio”, acabam de constatar que o aliado é absolutamente imprestável; e retiram-lhe todo o apoio. Os EUA estão esmurrando, de fato, a própria cara.

Agora, os EUA partem à procura de outras forças de oposição as quais apoiar. Mas o mais provável é que a nova tentativa falhe outra vez, dado que, outra vez, os EUA continuam sem considerar as causas que continuam ativas na raiz daquela crise crônica e, outra vez, rejeitam qualquer solução política para a Síria.

Desde o início do conflito, há 20 meses, o Ocidente nada faz além de, obcecadamente, trabalhar para derrubar o governo do presidente Bashar al-Assad, sem ,em momento algum, considerar objetivamente a potência variável das diferente facções que disputam o governo da Síria.

Forças leais a Assad continuam a combater cabeça à cabeça contra rebeldes, e absolutamente não se vê no horizonte qualquer possibilidade de processo de paz. Até agora, aqueles confrontos já fizeram mais de 32 mil mortos.

Sem conseguir conter os confrontos, a trégua de quatro dias, para a “Festa do Sacrifício” em outubro de 2012, iniciada pelo enviado da ONU, Lakhdar Brahimi e prevista para marcar o começo de um processo de paz, também já deu em nada.

A experiência já mostrou que a intervenção e a “exigência” de que Assad deixe o poder não conseguiram conter a violência ainda crescente e precipitaram a Síria em caos ainda mais profundo.

Aparentemente, Washington ainda insiste na velha ideia intervencionista, que mais de uma vez levou os EUA a beco sem saída. Em nenhum caso o ocidente deveria apoiar um dos lados, na luta para varrer do mundo a oposição, porque esse tipo de ação sempre implica consequências incontroláveis.

Nem Hillary Clinton dá sinais de saber o que faz em relação à Síria e insiste em esperar que rebeldes consigam derrotar o governo de Assad. Na última 4ª-feira, a secretária Clinton disse que não é segredo que muitos na Síria, especialmente grupos minoritários, temem que o governo de Assad seja substituído por governo da oposição sunita. “Não que amem o regime Assad” – disse ela. – “Mas estão, com muita razão, preocupados com o futuro”.

É mais que hora de o ocidente entender que a única abordagem razoável é apoiar genuinamente uma solução política e diplomática para a crise.

Yang Jiechi

A China, com a Rússia e outros países, tem buscado incansavelmente apoiar os esforços do enviado internacional e tem insistido na direção de que todas as partes envolvidas busquem desempenhar papel mais construtivo.

Na 4ª-feira, o Ministro de Relações Exteriores da China, Yang Jiechi apresentou proposta chinesa, de quatro pontos, para encaminhar solução estável para o conflito sírio. Os chineses entendem que é absolutamente necessário que os lados em conflito respeitem o cessar-fogo acordado e deem início, imediatamente, a uma transição política negociada.

Os EUA ainda precisam aprender que soluções políticas demandam paciência e tempo.”

FONTE: da “Xinhua News Agency”, Pequim, sob o título original “Clinton's call reveals failings of West's tactics on Syria”. Artigo traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” e postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/o-sangrento-fracasso-dos-eua-na-siria.html).
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O circo da ultra-direita

“Veja”, o atirador careca e a mulher barbada

A revista 'Veja' e a crosta que orbita em torno dela decidiram que o Brasil é um parque de diversões do conservadorismo decadente. Um 'focinho de porco' onde se vende desde o elixir da juventude dos livres mercados, a tucanos sábios e o túnel dos horrores da esquerda. Tudo meio gasto, decrépito, exalando picaretagem e golpe.

Um dos caça-níqueis do negócio é a barraquinha do 'tiro ao Lula'. Pouca demanda. Pintura descascada e balcão sujo. Para animar a freguesia, Veja & a crosta volta e meia instalam Marcos Valério no meio a clientela; ele faz uns disparos com a espingardinha de rolha.

Atrás da cortina colunistas isentos sacodem os bonequinhos de Lula, fingindo que a rolha desta vez acertou. Tudo um pouco capenga. Às vezes sacodem o bonequinho antes do tiro e continuam sacudindo depois, sem parar, mesmo sem nenhum disparo. Valério franze o cenho e olha em volta, como se perguntasse -'E agora, o que eu faço?' 

Os patrocinadores tentam compensar o descrédito com decibéis, alardeiam prêmios milionários ao misterioso 'atirador careca'. Os transeuntes olham aquilo com ar de enfado. Moscas zumbem. A mulher barbada tira os pelos postiços e se troca em público.

Amanhã tem mais.

Carta Maior

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VERDADES (ATUALIZADAS) SOBRE ISRAEL/PALESTINA

Por Lawrence Davidson, no “Consortium News”

Dia 16/10, a organização israelense ‘Yazkern’ reuniu vários soldados israelenses veteranos da “Guerra de Independência” de Israel, em 1948, para examinar a que aquela luta realmente levou [1]. Os veteranos confirmaram o que só pode ser descrito como esforço consciente de limpeza étnica – a destruição sistemática de vilas palestinas inteiras e inúmeros massacres.

O objetivo do esforço de “Yazkern” para reconstituir a verdade é quebrar a “narrativa nacionalista dominante” expurgada, sobre 1948, e a negação automática, também dominante em Israel, de qualquer legítima contranarrativa palestina. Filme documentário dirigido pela jornalista russo-israelense Lia Tarachansky [2], que trata desse assunto, a “Nakba”, “Catástrofe Palestina”, está em processo de finalização. O filme também traz depoimentos de soldados israelense da guerra de 1948.

Essas revelações que começam a sair à luz confirmam, por sua vez, o que têm dito os “novos historiadores” israelenses, como Ilan Pappé, que publicaram livros, a partir de documentos de arquivos do governo de Israel, em que mostram que, mesmo antes de se iniciarem as hostilidades que levaram à criação do Estado de Israel, as autoridades sionistas planejaram a limpeza étnica na Palestina, da maior quantidade possível de não judeus.

OK, poderá dizer alguém, os israelenses tiveram comportamento selvagem em 1948 – e só uma pequena minoria de israelenses admitirá que sim –, mas e depois da “Guerra de Independência”? Como hoje se começa a saber, a limpeza étnica jamais parou. Convenientemente, a tática de negar que jamais tenha começado ajudou a esconder o fato de que prossegue até hoje.

Ainda esta semana, tivemos notícias de que o ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak ordenou a demolição de oito vilas palestinas [3], onde residem 1.500 pessoas, ao sul das colinas de Hebron. O pretexto de Barak, dessa vez, foi que “a terra é necessária para treinamento militar”.

Segundo os “novos historiadores”, é comportamento padrão do governo de Israel, para ocultar a limpeza étnica. Acontecerá que, sim, por alguns anos, o exército israelense usará a área das vilas demolidas. Em seguida, quase inevitavelmente, o “campo de treinamento” dará lugar a um novo projeto imobiliário, de colonização, exclusivo para israelenses.

Dia 20/10, a rede “Al-Jazeera” noticiou [4], baseada em documentos israelenses, que, entre 2008 e 2010, o exército israelense controlou a entrada de alimentos na Faixa de Gaza, seguindo um cálculo de “dieta mínima”, de modo a manter sempre um ponto antes do estado de desnutrição, a população de 1,5 milhão de palestinos.

Segundo o “Gisha Legal Center for Freedom of Movement” [“Centro Gisha Legal pela Liberdade de Ir e Vir”], organização israelense de direitos humanos, “a meta oficial da política de “dieta mínima” é fazer guerra econômica que paralise a economia de Gaza e, segundo o Ministério da Defesa de Israel, pressionar o governo do Hamás”. Essa prática selvagem começou, de fato, antes de 2008.

Ainda em 2006, Dov Weissglass, então conselheiro do primeiro-ministro Ariel Sharon, já dizia que “a ideia é pôr “em dieta” os palestinos, não matá-los [imediatamente] de fome”. Claro, há precedentes dessa tática, também usada contra os judeus europeus nos anos 1930s e 1940s. Deve-se assumir que Weissglass sabia disso.

Contudo, como nos episódios da barbárie durante a “Guerra da Independência”, também, nesse caso, há uma bem azeitada prática de negar a história, em Israel, em termos nacionais. Segundo Gideon Levy, no “Haaretz”, “o país tem inúmeros meios (...) para esconder os esqueletos no armário, de modo a que não perturbem abertamente os cidadãos”. [5]

Os militares autores do documento que converteu a ideia monstruosa de Weissglass em prática selvagem, operaram num país em que a cegueira é cultivada. Ainda hoje, o atual governo de Israel não tem qualquer motivo de preocupação com o risco de que surja ali algum mal-estar geral, quanto ao fato de que os israelenses estão lenta, mas incessantemente, destruindo o sistema de esgoto e tratamento de água de Gaza, de modo a tornar a água inservível para beber.

São atos de crueldade que fazem prova de selvageria. Por exemplo: os funcionários da alfândega israelense confiscaram as folhas de prova, em outubro de 2012, destinadas às escolas da Cisjordânia [6]; eram exames que os alunos esperavam poder fazer, para concluir o curso colegial, indispensáveis para que possam chegar à universidade.

AMIDEAST, a organização que aplica as provas escolares nos Territórios Palestinos, tomou todos os necessários cuidados para que as autoridades israelenses recebessem as folhas de prova com semanas de antecedência e pudessem distribuí-las às escolas. Mas, no que parece ser ato de crueldade, os funcionários da alfândega israelense confiscaram as provas e não as distribuíram a tempo; e a AMIDEAST teve de cancelar as provas finais.

A pergunta óbvia veio de um observador local: “o que têm os testes escolares a ver com a segurança de Israel?”. É possível que passe pela cabeça pervertida do israelense encarregado da alfândega que seria ato patriótico impedir que mais palestinos estudem nos Territórios Palestinos, porque, assim, menos serão as testemunhas qualificadas que conhecerão a opressão israelense.

Do lado de Gaza, no mesmo quadro, os EUA tiveram de cancelar, há alguns dias, um pequeno programa de bolsas escolares para alunos de Gaza [7], porque as autoridades israelenses negaram-se a autorizar a saída dos alunos beneficiários, da prisão a céu aberto em que vivem, mesmo que, apenas, para ir só até uma escola na Cisjordânia [também território palestino]. (Aos interessados em acompanhar o dia a dia dos atos de opressão a que Israel submete os palestinos, acompanhados diariamente, recomendo a página “Today In Palestine”.

DESAFIO E NEGAÇÃO

Dado o que Israel continua a fazer, o apoio público com o qual o país contava nos EUA começa afinal a desaparecer.

Recentemente, 15 destacados líderes religiosos [8], representantes de vários grupos cristãos, enviaram Carta Aberta ao Congresso dos EUA, exigindo “imediata investigação sobre violações, por Israel, da lei dos EUA de assistência a países estrangeiros [orig. U.S. Foreign Assistance Act] e à lei norte-americana que regula a exportação de armas [orig. U.S. Arms Export Control Act] as quais, respectivamente, proíbem que os EUA prestem assistência a país que dê mostra de prática consistente de violações de direitos humanos:

"Exigimos que o Congresso inicie investigações para examinar a situação de Israel nos termos dessas duas leis. E exigimos que Israel seja chamado a prestar contas de atos relacionados ao disposto nessas duas leis, no sentido de obediência ao que aquelas leis dispõem".

Até o momento, o Congresso continua a fazer-se de surdo, mas a reação dos sionistas [9] fez-se ouvir imediatamente, alta e clara. À testa, apareceu, como sempre, Abraham Foxman, presidente da chamada muito inadequadamente “Liga AntiDifamação” [orig. Anti-Defamation League (ADL). Acusou os líderes cristãos de “espantosa falta de sensibilidade”. É caso de perguntar-se quanta sensibilidade se exige para negar água potável e comida suficiente a milhões de pessoas e impedir estudantes de fazer provas na escola! Foxman optou por castigar os clérigos atrevidos: declarou que não participaria do “diálogo interfés” contemporâneo.

Ter cérebro avantajado é espada de dois gumes para os seres humanos. Implica que podemos pensar todos os tipos de pensamento criativo; podemos até controlar em boa medida nossos impulsos menos recomendáveis, se, pelo menos, tentarmos; mas significa também que podemos ser manipulados para nem tentar controlá-los; para crer que não precisamos tentar – que somos vítimas... mesmo quando somos os opressores; e a acreditar que qualquer crítica contra nossas ações sempre será, sempre, mais uma prova de o quanto somos vítimas perseguidas.

A cultura israelense – e, de fato, a cultura do sionismo em geral – é projeto em curso de automanipulação para alcançar exatamente esse estado mental. E, em grande parte, é projeto bem-sucedido. Pesquisa recente [10], feita em Israel, mostra que “uma maioria do público [judeus israelenses] deseja que prossiga a discriminação contra os palestinos (...) o que revela o racismo profundamente enraizado na sociedade de Israel”.

Os sionistas não são os únicos especialistas em negar fatos. Os EUA, principal aliado de Israel, também se têm mostrado muito bons nessa especialidade. Depois dos ataques do 11/9, qualquer consideração à possibilidade de que a política exterior dos EUA para o Oriente Médio ter ajudado a motivar e disseminar o terrorismo passou a ser anátema – e ainda é. Mais de uma década depois.

Em vez de nos debruçarmos sobre nosso comportamento, os EUA, simplesmente, aumentamos nossa capacidade de matar, sem discussão, quem quer que desafie, em armas, nossas políticas. Temos respondido com assassinatos premeditados contra alvos predefinidos, usando os drones ou outros tipos de armas: os EUA já estamos copiando a selvageria israelense.

Maquiavel, que sempre se deve ouvir, quando se trata de ver o lado mais obscuro das coisas, disse que:

Quem queira perscrutar o futuro deve consultar o passado; porque os eventos humanos assemelham-se sempre. Isso se deve a que eventos humanos são produzidos por seres humanos que sempre foram e sempre serão animados pelas mesmas paixões; por isso, necessariamente, sempre levam aos mesmos resultados.”

Mas... será, mesmo, inevitável?”

NOTAS DE RODAPÉ

[1] 16/10/2012, Middle East Monitor, em: “Israeli army veterans admit role in massacres of Palestinians in 1948”
[2] 16/10/2012, +972, Noam Sheizaf em: “Between anger and denial: Israeli collective memory and the Nakba”
[3] 23/7/2012, Russia Today em: “Israel orders demolition of 8 Palestinian villages for IDF training sites”
[4] 18/10/2012, Al Jazeera em: “Israel set calorie limit during Gaza blockade” (+vídeo a seguir)
[5] 21/10/2012, Haaretz, Illan Pappé em: “For some Israelis, Gazans receive 2,279 calories too many”
[6] 16/10/2012, The Harvard Crimson, Lena K. Awwad e Shatha I. Hussein em: “Israel vs. No. 2 Pencils”
[7] 15/10/2012, Salon, Natasha Lennard, em: “U.S. cancels scholarships for Gaza Strip students”
[8] 14/10/2012, Redress Information & Analysis, Stuart Littlewood em: “US hurch leaders question open-ended Israel aid”
[9] Idem Nota [8]
[10] 23/10/2012, +972, Noam Sheizaf em: “Poll: Israelis support discrimination against Arabs, embrace the term apartheid”

FONTE: escrito por Lawrence Davidson, no “Consortium News”, sob o título original “Telling Truths about Israel/Palestine”. Artigo traduzido pelo pessoal da Vila Vudu e postado por Castor Filho no blog “Redecastorphoto”  (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/11/verdades-atualizadas-sobre.html).
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