Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública, até junho deste ano, foram 1.940 contaminados
‘Falta dar mais importância à hanseníase no Pará’, é o que diz o doutorando em Doenças Tropicais e professor da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Rodrigo Ferreira, que trabalha na reabilitação de diversos pacientes com hanseníase em Santarém, Baixo Amazonas. O Estado é o primeiro do País em novos casos da doença. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), até junho deste ano, foram 1.940 contaminados. Em 2011, de janeiro a dezembro, foram 3.876 casos. Atrás do Pará, estão Maranhão, Pernambuco, Bahia, Mato Grosso e Goiás.
A hanseníase acomete principalmente pessoas da classe mais pobre, justamente pela falta de saneamento básico e acesso à Saúde. A questão geográfica é um dos pontos importantes a serem vencidos para o combate da doença. Geralmente os casos encontrados na região são de pessoas que moram em localidades mais distantes, zonas ribeirinhas e até de garimpos. Mas, talvez, o maior impedimento seja a falta de interesse em criar políticas públicas para a eliminação do mal.
‘O que dificulta é que faltam profissionais capacitados para identificar. Já ouvi muitas histórias de pacientes que passaram em vários profissionais da Saúde e não detectaram ou acharam que fosse outra doença. A hanseníase costuma ser confundida com outras doenças de pele’, diz Rodrigo Ferreira. Ele acredita que o esforço feito para o combate da doença ainda é pequeno. Uma das saídas, na visão dele, é realizar mais campanhas informativas, principalmente nas regiões mais afetadas.
Tratamento – Hanseníase tem cura e o tratamento é inteiramente gratuito. No entanto, o grande risco são as sequelas. Por isso, se for constatada a hanseníase, o paciente deve iniciar o tratamento imediatamente. Ele passa a receber o remédio mês a mês e deverá tomá-lo todo dia. O tratamento, dependendo de cada, varia de 6 meses a 1 ano. Paralelo a isso, o paciente faz outra avaliação para definir a gravidade da doença e ver se já tem sequelas. Se já as tiver, além do tratamento com remédio, ele iniciará um tratamento para amenizar os danos causados pela doença. Nem sempre vai melhorar 100%, mas o tratamento vai impedir que as consequências avancem. ‘Não temos que pensar somente na cura, mas na qualidade de vida do paciente’, alerta Rodrigo.
Preconceito – O tratamento da hanseníase avançou, principalmente, nas últimas duas décadas. Mas, por falta de informação, ainda hoje, os pacientes sofrem com o preconceito. Em muitos casos, até a própria família age de forma diferente, separando as roupas e louças do doente. Rodrigo Ferreira lembra que, após o tratamento (poliquimioterapia) ser iniciado, não tem mais risco de contágio.
‘Quando a gente pensa em hanseníase, vem logo a palavra lepra, que traz a imagem de uma pessoa mutilada, com o rosto deformado. Hoje em dia, o paciente com hanseníase não tem mais essa condição, porque o diagnostico é feito logo e ela não evolui’, afirma Rodrigo. ‘O preconceito afeta o autoestima do paciente e complica o tratamento, porque a doença depende das questões imunológicas. Se as condições são ruins, o tratamento tende a ser mais difícil. Se forem boas, o paciente vai responder melhor o tratamento. E o fator emocional influencia muito na questão imunológica.’
Fonte: Jornal Amazônia