Também se fala em reconstruir o Haiti, e aqui é preciso um toque brasileiro, pois é preciso que a reconstrução do Haiti traga renda e prosperidade para a população.
É importante que a ajuda internacional ao Haiti não se limite ao curtíssimo prazo, e aproveite a mórbida oportunidade para dar aos haitianos o que eles precisam: renda.
Um terremoto deixa tudo destruído, o que quer dizer que tudo precisa ser reconstruído. Essa é uma oportunidade para remunerar os haitianos pelo trabalho de reconstrução, sem transformar a coisa toda em uma caminho para
o lucro fácil dos especuladores do desastre.
Rubem César também informa que por lá há um clima de organização, não de violência. Não que a violência não esteja presente no Haiti. É fácil matar por lá,
como já diziam os veteranos brasileiros em 2006. Mas há motivos para intranquilidade entre a população haitiana, pois falta água e comida. A ONU
demorou quatro dias para começar a distribuir alimentos por helicóptero, apesar do Haiti estar a duas horas de voo dos EUA. Eis uma boa explicação para a afobação do povo. Se duvida, fique quatro dias sem comer nem beber, e daí tentamos conversar, se você estiver calmo.
Entre quarta-feira [13 de janeiro] e sábado [16 de janeiro], caminhar pelas ruas do centro de Porto Príncipe e de Pétionville era observar o civismo dos haitianos que, muitas vezes, e como nós, sem entender claramente o que havia acontecido, procuravam cuidar dos feridos, resgatar aqueles que ainda estavam vivos sob os escombros, e dispor de seus mortos. O que vimos foi, de um lado, solidariedade, de outro a ausência quase que total e absoluta das forças da ONU e da ajuda internacional.
Para Thomaz e Jorge, os estrangeiros que estão atulhando o aeroporto local com itens de primeira necessidade que não chegam às pessoas simplesmente não entendem a população local, e por isso não usam os meios locais, os únicos em funcionamento até o momento.
Os EUA usaram a pouca capacidade do aeroporto de Porto Princípe para encher o Haiti de soldados,
apesar de não haver guerra alguma. Esse mau uso do aeroporto atrasou a ajuda a vários haitianos.
A importação de alimentos fez com que os camponeses se aglomerassem em favelas na capital, e
morressem nas suas casas precárias no terremoto do dia 12 de janeiro. De modo que os engravatados de Washington e seus capatazes locais têm sua parcela de responsabilidade pelo impacto humano do terremoto.
É preciso ajudar o Haiti. Sejamos marxistas, ora bolas: a cada um de acordo com as necessidades, de cada um de acordo com as capacidades. O resto do mundo pode financiar o Bolsa Família haitiano, e deveria pensar seriamente nisso.
Nada disso está na agenda de discussões, ao menos pelo que eu sei.
A vitória sobre a potência colonial não tornou os haitianos populares entre os brancos do mundo afora, que praticaram bloqueio econômico
para punir a jovem e livre nação. Em 1915 os EUA invadiram o Haiti, e o governaram até 1934, após cobrar o que o país devia ao City Bank. A miséria atual do país é, em larga medida, consequência da ação estadunidense de usar
marines pagos pelo contribuinte dos EUA como capangas de banqueiro, assim como a situação atual do Paraguai tem tudo a ver com o vergonhoso papel do Brasil e seus aliados no passado. Seria de se esperar que os EUA reparassem o Haiti pelo que fizeram no passado, valendo o mesmo para Brasil-Paraguai.
Os haitianos entenderam a Revolução Francesa melhor do que os franceses. Em 1789, a França revolucionária verbaliza a Declaração dos Direitos Humanos: todos os homens são iguais. Que momento maravilhoso, não houve ser humano que não se alegrasse. Os haitianos também se alegraram. Mas, haitianos são seres humanos? Para os franceses não. Quando os habitantes da então colônia francesa de Saint-Domingue, hoje Haiti, pediram à metrópole para desfrutar dos seus direitos, receberam repressão.