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Pílulas do final de semana

Não li os jornais neste domingo. Faltou tempo e paciência. Mas, descubro a cada dia que a previsível mídia é dispensável. Comento em pílulas o que de interessante li neste final de semana:

O Twitter virou namoradinho da nossa mídia. Todos os dias publicam matérias sobre o assunto. Nelas, um misto de admiração com temor, já que há os que falam que é sintoma do futuro, onde a mídia tem a obrigação de estar presente. Tenho sérias dúvidas. Ler notícias no Twitter é muito chato, confuso. Sou muito mais em agregar RSSs em um leitor, uso o Google Reader. Assim, posso rapidamente saber quem atualizou e com o quê. Acho engraçado que o assunto RSS x Twitter seja motivo de discussão de gente séria. São coisas diferentes. O inegável é que o Twitter é um ótimo termômetro para repercussão de assuntos. Agora mesmo, no Fora Gilmar, foi onde podíamos acompanhar instantaneamente o que acontecia e estava sendo publicado na mídia eletrônica e nos blogs. Tirando isso, mantenho algumas desconfianças, já que até a revista Capricho dá dicas de utilização do Twitter.

Para a crise dos jornais americanos, uma das mais graves bordoadas foi a perde de receita com classificados. E o responsável foi a Craiglist, onde os americanos compram, vendem, alugam, divulgam de tudo, e de graça. No Brasil, os jornalões ainda não sofreram com esta concorrência. Resta ver como será o breve futuro, e ele parece reservar surpresas. Enquanto a Craiglist é fenômeno restrito aos EUA, o mercado do resto do planeta está sendo atacado por empresa concorrente, a OLX, que já tem presença em 89 países, em 39 línguas. Ela acaba de receber mais grana de novos sócios e prepara um bote agressivo no mercado. Em 2007 já havia comprado a Endeng.cn, empresa chinesa de classificados grátis, e o Mundoanuncio.com, site para o mundo dos classificados de língua hispânica. É game de monopólio. Mesquitas, Frias e Marinhos devem estar nervosos.

Não li o Ancelmo Gois, mas li o Abobrinhas Psicodélicas que comentou nota do colunista sobre a notícia que Lula receberá das mãos da Rainha Elizabeth II, em Buckingham, o prêmio Chatham House por sua contribuição à paz e ao desenvolvimento no mundo, durante o ano de 2008. Se fosse o FHC estaria na primeira página, não em nota interna, inclusive com erro de grafia no nome do prêmio.

Não li também a Veja, mas estranhei a revista voltar seus holofotes para um nome tucano, como o da governadora do RS, Yeda Crusius. Mas fica fácil de entender lendo o Cristóvão Feil no Diário Gauche. A Veja manobra para os interesses de Serra em 2010. Vão cortar um dedo gangrenado para salvar o resto. E sem pudor usam grampos clandestinos para a reportagem, logo a revista que alimentou a CPI dos Grampos com indignação contra as escutas telefônicas autorizadas judicialmente na Operação Satiagraha.

Eu estava como a Mary W, assim meio ué sobre o assunto da reforma política e o tal “voto em lista”, que recebe pancada de todo lado do cartel da mídia. Neste domingo, o Elio Gaspari também dá suas cacetadas e o Blog do Gadelha detona os argumentos, explicando com máxima clareza como funciona nossa representação democrática, lembrando inclusive que “voto em lista” já é praticado no Brasil em várias situações, como eleições sindicais, de clubes, de direções partidárias, e é também utilizada em outros países. Não estou mais ué.

Vem cá. Os EUA invadiram o Afeganistão pelos argumentos do assassino Bush de que os talibans, antigos aliados contra os soviéticos, eram terroristas, que escondiam Osama Bin Laden, que escondiam suas mulheres em burcas, que o país precisava experimentar a democracia. Passados oito anos, Osama bin Laden nunca foi achado, as mulheres continuam a usar burcas, e o Afeganistão passou a produzir 80% da heroína mundial. Os EUA continuam sua ocupação e voltam a bombardear o país, matando civis. Parece que Obama quer dar sua contribuição para a continuação do genocídio contra os muçulmanos.

O que os executivos do Google foram conversar com Gilmar Mendes na última segunda?
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Pílulas de quarta-feira


Bravo juiz De Sanctis! E que agenda cheia esta semana para o caso Daniel Dantas. TRF, STJ, com várias derrotas para o banqueiro. Um interessante estudo é acompanhar a quantidade de notícias publicadas ao longo das últimas duas semanas para demonizar o juiz e o delegado. Que fato novo havia? Nada. Apenas a agenda da defesa de Dantas que pautou a mídia. O tom da continuidade da campanha já foi dado pela Folha Online com o título:“Juiz desiste da promoção para continuar no caso Daniel Dantas”. Interpretam seus reais objetivos, logo falarão de obsessão, podem apostar. E que história é essa de gravação de reunião de delegados que vai parar na imprensa para ela insinuar que houve de fato uma irregular gravação no STF? Quem gravou? Quem distribuiu? Com que propósito? Já está virando comédia.

Acreditem, li a coluna de Clovis Rossi nesta terça-feira e quase não me irritei. Na verdade outro sentimento foi mais forte. Percebi claramente como os jornais ficaram velhos e que muito em breve estarão mortos. Qual a importância de comprar um amontoado de papel para ler uma opinião de direita se há várias de graça na internet? Colunas e artigos morreram no papel. Que há de diferente em seu texto? Fazer uma mera provocação a Lula, Cristina Kirchner e Hu Jintao por terem assinado um documento do G20 que defende a economia de mercado? Deveriam ter cruzado os braços e decretado a revolução socialista mundial ali? A única relevância na leitura estava no final do texto, no PS com pedido de desculpas pela coluna de domingo, onde disse que Vladimir Herzog era terrorista. Ficou ainda mais claro o “já era”. Onde eu poderia de pronto postar um comentário para dizer que terroristas foram os que o assassinaram, depois de bárbara tortura? E ainda tiveram o atrevimento de inventar um suicídio. E lembraria também que a empresa que paga ao colunista foi cúmplice desses torturadores naquela época. Clovis Rossi, nunca mais!

Para avisar que volta a pauta do STF a decisão sobre a Lei de Imprensa, Cláudio Lembo lembra de John Milton, poeta inglês renascentista, que em 1644 publica Areopagítica, um manifesto de influência liberal na defesa da liberdade de expressão, contra decisões do parlamento que censurou um de seus livros. Interessante, copiei e em breve vou colar em algum lugar do blog a frase de Milton: “Dai-me liberdade para saber, para falar e para discutir livremente, de acordo com a consciência, acima de todas as liberdades”. Pessimista que sou, será uma forma de já preparar campanha para quando a justiça garantir ao cartel midiático toda a liberdade para fazer golpismo, enquanto a internet, da senzala, terá a severa vigilância de nossos juízes.

O blogueiro viaja nesta quarta e só volta no domingo. Estará sem internet, celular, GPS... Será orientado apenas pelas estrelas, se não chover.
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Pílulas de um pouco do que abunda


Já afirmei aqui e repito que para este escrevinhador que vos fala o blog é mero canal para o desabafo de suas preocupações existenciais. Uma solução catártica para com as muitas raivas do dia-a-dia, normalmente vinculadas à canalhice abundante. Não tenho nada para vender ou promover. Nenhum projeto para compartilhar. E da minha vida pessoal nada há de relevante que mereça atenção. Apenas desejo me livrar dessa sensação de ser o único a se sentir sacaneado. E tem sido ótimo. O resultado em comentários e na leitura é melhor do que podia imaginar, purgando as dores ao descobrir alguns iguais nas mesmas aflições. Daí estranhei minha própria reação ao julgamento do habeas corpus de Daniel Dantas na quinta retrasada. Desenhei uma fotopotoca com a canalha do STF e calei. A vontade era a de esmurrar. Sair berrando pelas ruas, imaginando encontrar algum parceiro igualmente insano. Nenhuma palavra, nenhum desenho teria efeito. Manifestou-se em meus pensamentos um total pessimismo para com a importância da comunicação e com minha limitada capacidade de participação na república. Mas passou, passou... Continuo achando a democracia mauricinha uma enorme farsa, mas agora ao menos consigo voltar a desafogar esta amargura.

Ao longo dos últimos dias a mídia maurícia seguiu um roteirinho básico de desqualificação do delegado Protógenes e do juiz De Sanctis. O primeiro é criticado pela “edição” do texto do inquérito da operação Satiagraha, por ter vazado informações e ter chamado a Abin para participar. Do segundo, ainda não entendi a bronca. Gilmar Mendes e Cezar Peluso tentaram explicar. Do último, entendi que foi um desrespeito à suprema corte ao ter insistido em prisão quando havia decisão anterior. Ainda aguardo melhor entender, mas infelizmente não será pela mídia. Imagino a dificuldade de reproduzir ao longo de muitos dias o mesmo reduzido enredo. Tarefa complicada para o proletariado da imprensa. O resultado deveria ser estudado pelos nossos acadêmicos ou futuros historiadores deste imbróglio. Na última quarta a Folha demonstrou esta complicação técnica com a falta de assunto ao dar destaque para a “suspeita” escolha da suíte 555 do Hotel São Paulo Inn. Reportagem de Ana Flor descreve onde ficava tal local, quem freqüentava, quem era o arquiteto do hotel e para ilustrar uma foto do filme “O iluminado”. Para o jornal, a semelhança de 666 e 555 faz uma tese do interesse dos seus leitores. Coitados.

Surpreendentemente, só hoje li algo de novo na mídia que vale a pena sobre o assunto Satiagraha. No Valor, reportagem de Caio Junqueira esboça os desafios para o Juiz Fausto De Sanctis nesta próxima semana, quando haverá o julgamento no TRF do pedido de suspeição feito pela defesa de Daniel Dantas. O tribunal encontra-se em processo eleitoral, sendo disputado por dois grupos, onde o juiz mantém independência. Segundo o texto, há inúmeras nuances políticas onde De Sanctis enfrenta dificuldades, lembrando o caso da juíza Márcia Cunha, aqui já comentado, que foi afastada por ter dado decisão contrária ao grupo Opportunity quando em sua disputa pelo controle da Brasil Telecom. O texto lembra que nesta semana a sentença por corrupção contra Daniel Dantas, Hugo Chicaroni e Humberto Braz deve ser proferida, o que explica as críticas recentes contra De Sanctis.

De fato, a Kelly tem razão. O Valor Econômico passou a ser o jornal onde é possível existir alguma informação sem a panfletagem escancarada, da mais obtusa apuração dos fatos, nos comentários mais óbvios. O artigo do professor Wanderley Guilherme dos Santos sobre as expectativas de Obama é um primor de fina ironia. Crítica ferina, técnica, a um leque amplo que vai da direita a esquerda. Algo a ser lido e estudado.

E falando de democracia, o Mox faz um preciso, minimalista e provocador comentário sobre frase onde digo que a candidata Cynthia McKinney tem em Cuba um exemplo de democracia. Ela o disse em discurso ao defender o fim do embargo à ilha, justificando que os EUA têm o que aprender com os cubanos. A palavra democracia foi minha, talvez tenha incorrido em erro de algum manual de bom jornalismo. Como não o sou, não tenha o propósito de ser e menos ainda de ver tal prática sendo usada em nossa mídia, apenas justifico que fui passional em concluir com meus pensamentos. Acho que a democracia de lá dá banho na tão decantada do norte. Os motivos são muitos e rendem uma boa polêmica, infelizmente relegada ao plano dos anátemas usuais. Mas achei divertido ser observado por alguém que respeito, que pertence a uma geração bem mais nova que a minha, que está em polêmica acirrada sobre os caminhos do pós-modernismo.
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