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Onda fascista que assola o mundo
A onda fascista que assola o Brasil, pela mão do candidato de direita José Serra [PSDB-PIG], não é um "privilégio" só nosso. Outros países, na Europa "civilizada," que se tem na conta de democráticos, também abraçam, com entusiasmo, a via fascista.
E Israel, que se pretende o baluarte da democracia em meio às "ditaduras" do Oriente Médio, todas apoiadas pelos EUA, não fica atrás!
11/10/2010, Informed Comment
O gabinete de Israel aprovou projeto de lei que exige que pessoas que requeiram a cidadania israelense prestem um ‘juramento de lealdade’ a Israel definida como “estado judeu e democrático”. Atualmente, a exigência só afeta relativamente poucos, quase exclusivamente os palestinos que vivam fora de Israel, que casem com cidadãos palestino-israelenses e que desejem que a família viva do lado israelense da linha verde (hoje, podem fazê-lo). Mas o padrinho da ‘lei da lealdade’, Avigdor Lieberman (ex-crupiê de cassino, da Moldávia), deseja que o mesmo juramento, ou juramento ainda mais estrito seja imposto a todos os palestinos-israelenses – que são cerca de 20% da população de Israel.
Apoiadores do projeto, como o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, dizem que a definição de Israel como estado judeu democrático já existe na lei orgânica.
Mas líderes da comunidade palestino-israelense e membros do Parlamento denunciaram o projeto de lei, por racismo.
A expressão “judeu”, como marcador de identidade, tanto pode referir-se à religião quanto à etnia (em Israel, é judeu quem nasça de mãe judia). O traço de etnia é talvez o mais importante dos dois marcadores de identidade, porque um judeu praticante e cidadão israelense, se filho de mãe não judia, não terá papéis que o identifiquem como “judeu”.
O mais recente censo mostra que havia 7,2 milhões de israelenses, dos quais 5,5 milhões são judeus, 300 mil são não judeus e 1,4 milhões são árabes, ditos “palestinos-israelenses”. Os não judeus são, quase todos, filhos de famílias mistas nas quais a mãe não é judia. A maioria desses consideram-se judeus, e alguns lamentam não serem oficialmente reconhecidos como judeus. Nos 5,5 milhões de judeus, estpa incluído grande número de russos que não praticam o judaísmo, mas declaram-se ‘judeus étnicos’, por terem tido algum ancestral judeu – argumento que as autoridades israelenses aceitam sem qualquer investigação. (É ideia generalizada entre os intelectuais israelenses que bem poucos desses russos são judeus seja ‘religiosos’ seja ‘étnicos’.)
Parece bem evidente, pois, que a expressão “judeu”, no juramento de lealdade de Netanyahu não é um marcador religioso. Se fosse, muitos dos 300 mil não judeus seriam identificados como judeus nos documentos de identidade e muitos dos russos seriam definitivamente não judeus, o que facilmente se comprovaria pelo amor que manifestam a sanduíches de porco.
Não há dúvida de que alguma religião está incluída no pacote, é claro, porque em algum momento do passado as matriarcas que pariam judeus foram, sim, praticantes da religião dos judeus. No passado, a religião predominava sobre a etnia; hoje, pela lei israelense, a etnia predomina sobre a religião.
Mas exigir que alguém declare que Israel é “estado judeu democrático”, como condição para que receba a cidadania israelense, equivale a exigir que um indiano hindu que emigre para os EUA declare, para ser acolhido como cidadão, que os EUA são “estado branco, cristão e democrático”. Nessa fórmula, a etnia (brancos) estaria sendo adotada como critério privilegiado, definida em parte por haver ancestrais brancos, mesmo que fossem protestantes. (No início do século 20, juízes racistas decidiram que os indianos hindus poderiam ser considerados arianos porque falavam língua indo-europeia, mas nem por isso podiam ser considerados “brancos”.)
É óbvio que exigir que imigrantes africanos ou asiáticos, ou mesmo latinos, prestem aquele juramento, naqueles termos, como preço exigido pela cidadania israelense é discriminatório e racista, posto que o próprio juramento rouba-lhes a cidadania de primeira-classe.
Especialistas em teoria política distinguem entre o nacionalismo “cívico” – como há nos EUA e na França – e o nacionalismo “étnico”, mais comum na Europa Central no século 19. O nacionalismo cívico é baseado em ideais (respeito à Constituição dos EUA, por exemplo) e na história. Crispus Attucks, afro-americano, é considerado o primeiro mártir da independência dos EUA – o que consagra os ideais, não a etnia.
Há, contudo, algum racismo latente no nacionalismo dos EUA, pelo qual há quem creia que os “verdadeiros” norte-americanos seriam os protestantes brancos. O ideal do nacionalismo cívico, portanto, várias vezes aparece misturado com sentimentos de nacionalismo étnico. Ao longo do tempo, contudo, o nacionalismo cívico parece estar derrotando o nacionalismo étnico nas cortes de justiça – resultado, sim, de uma longa luta.
O nacionalismo étnico já produziu monstros como a Alemanha nazista e a Sérvia de Milosevic. Se a nação for definida por uma etnia dominante, cria-se a ideia de que quanto ‘mais pura’ a etnia dominante, mais direitos terá. O nacionalismo étnico também sempre gera confrontos contra outras etnias que vivam em áreas próximas (e se os casamentos interétnicos diluírem a etnia dominante?)
Em mundo global, com migração massiva de trabalhadores, o nacionalismo étnico é germe de guerras raciais.
Claro que, como historiador, rejeito completa e absolutamente a ideia de “raça”, da qual falavam os nacionalistas românticos do século 19. Brian Sykes descobriu, em pesquisa com o DNA mitocondrial dos europeus, que todas as mulheres apresentavam pelo menos um de sete pares de alelos nos cromossomas; e que os mesmos sete pares apareciam em todos os grupos nacionais e lingüísticos, inclusive, por exemplo, nos bascos, embora em diferentes proporções. Nesse sentido, os alemães são idênticos aos irlandeses e aos búlgaros. Vasta maioria de mulheres judias azquenazes têm os mesmos sete pares de alelos que se encontram nas mulheres palestinas. Todas, portanto, são descendentes de matriarcas ancestrais não judias.
Não há raças. Todos os seres humanos são mestiços. Basta recuar 10, 12 mil anos, para encontrar um ancestral comum de todas as populações mediterrâneas. Escavações recentes em Roma, em camadas arqueológicas do tempo de Augusto, encontraram a ossada de um trabalhador chinês. Descobrir como chegou ao Império Romano é enredo para um romance. Mas, se aquele chinês algum dia deitou-se com mulher romana e nasceram-lhes filhos, praticamente todos os italianos hoje vivos são descendentes daquele casal e, pois, são primos de todos os chineses hoje vivos.
O nacionalismo étnico não é apenas intrinsecamente discriminatório: ele é sobretudo contrário a todas as evidências, é uma falsidade. Não há nem jamais houve raças.
Em Israel, o nacionalismo étnico sempre predominou, embora haja alguns traços do nacionalismo cívico na política israelense. Os palestinos-israelenses são cidadãos, votam, podem organizar-se em partidos políticos e podem eleger representantes ao Parlamento. Ao mesmo tempo, podem, também, ser sumariamente expulsos da sociedade e privados da cidadania. Seus direitos civis são frágeis e menos estáveis que os dos israelenses judeus.
Agora, Lieberman e Netanyahu, com a nova ‘lei da lealdade’, deslocaram a ênfase a favor do nacionalismo étnico, contra o nacionalismo cívico, garantindo aos judeus o posto de etnia privilegiada. Estão convencidos de que nada fizeram de extraordinário. E erram gravemente, se supõem que o que fizeram não terá consequências profundas. Sempre que, por vias políticas, se faz aumentar o peso da etnia contra o peso dos valores cívicos, as consequências são profundas.
É exatamente essa mudança de peso, a favor de uma etnia privilegiada, que políticos e líderes da comunidade dos palestinos-israelenses estão denunciando como política racista.
Vejo algum exagero em dizer que a ‘lei da lealdade’ converte Israel em estado de apartheid dentro dos limites da Linha Verde e suas 67 fronteiras. Os palestinos-israelenses são cidadãos, convivem com os judeus israelenses, frequentam as mesmas escolas, as mesmas universidades. Podem casar com judeus israelenses, em Israel ou em qualquer lugar do mundo. A ‘lei da lealdade’ não expande o apartheid para todo o estado de Israel, mas fortalece, sim, um nacionalismo étnico muito semelhante ao que se viu na Alemanha hitlerista ou na Sérvia. É escândalo e é vergonhoso que judeus, precisamente, acolham esse tipo de lei discriminatória e antidemocrática, da qual os próprios judeus foram as mais trágicas vítimas.
Há apartheid, sim, em Israel, mas contra os palestinos não-israelenses que vivem na Cisjordânia e em Gaza. Ali, sim, já se criaram bantustões, idênticos aos que se viram na África do Sul, criados pelos europeus, para manter cercados os africanos.
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Declaração de artistas e intelectuais israelenses contra a lei ‘da lealdade’:
“Não somos cidadãos da Israel fascista”
“Não somos cidadãos da Israel fascista”
11/10/2010, The Jewish Chronicle Online, Telavive
Artistas e intelectuais israelenses reuniram-se hoje em Telavive, em protesto contra a ‘lei da lealdade’, no Boulevard Rothschil, em frente ao museu onde David Ben Gurion leu a Declaração de Independência em 1948.
Aos pés da estátua de Meir Dizengoff, primeiro prefeito de Telavive, a atriz Hanna Meron leu, daquela Declaração de Independência: “O Estado de Israel será baseado na Liberdade, na Justiça e na Paz, como o anteviram os profetas. Assegurará completa igualdade de direitos políticos e sociais, independente de religião, raça ou gênero; garantirá a liberdade de culto, de consciência, de idioma, de educação e de cultura; protegerá os locais de culto de todas as religiões; e respeitará os princípios da Carta das Nações Unidas.” Em seguida, lamentou que a Israel de hoje já nada tenha daquele sonho democrático e conclamou os presentes a assinarem a nova “Declaração de Independência: Contra o Fascismo Israelense” [texto abaixo].
Participaram da manifestação Shulamit Aloni, Uri Avnery, Alex Ansky, Shery Ansky, Menachem Brinker, Ran Cohen, Ruth Cohen, Yaron Ezrachi, Galia Golan, Haim Guri, Sna'it Gisis, Yoram Kaniuk, Dani Karavan, Yehoshua Knaz, Elia Leibowitz, Alex Libak, Hanna Meron, Sammy Michael, Merav Michaeli, Sefi Rachlevsky, Gabi Solomon, David Tartakower, Micha Ullman, dentre muitos outros.
Declaração de Independência: Contra o Fascismo Israelense
[texto integral]:
[texto integral]:
Estado que use a força para invadir o domínio sagrado da consciência individual dos cidadãos, que imponha castigos àqueles cujas opiniões e crenças não coincidam com as do poder ou que não manifestem ‘o caráter’ que o estado exige, deixa de ser estado democrático e converte-se em estado fascista.
O estado de Israel foi proclamado nesse local, nessas escadas onde estamos hoje. O estado que aos poucos vai substituindo o estado democrático de Israel – e que impõe a todos leis racistas aprovadas pelo Gabinete e pelo Parlamento – exclui-se, ele mesmo, da família das nações democráticas.
Por isso nós, cidadãos da Israel consagrada na Declaração de Independência de 1948 aqui reunidos, declaramos que não somos cidadãos dessa falsa Israel, que se faz passar por Israel e que viola todos os compromissos básicos do estado de Israel, de igualdade, defesa das liberdades civis e sincero empenho em construir a paz, princípios sobre os quais se fundou o verdadeiro estado democrático de Israel.
[Contact: Sefi Rachlevsky 052-7078075]
A República Obscurantista Judia de Israel
10/10/2010, Gideon Levy, Haaretz, Telavive
Hoje é dia que não se esquecerá. Hoje, Israel mudou de caráter. Resultado da mudança, pode também mudar de nome: passará a chamar-se “República Judia de Israel”, como a “República Islâmica do Irã”. Sim, a lei “da lealdade” que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu tenta aprovar visa, diretamente, só aos novos cidadãos não judeus. Mas afeta o destino de todos os israelenses.
De agora em diante, viveremos em país oficialmente autodefinido como etnocrático, nacionalista e racista.
Erra quem pense que não será afetado. Há uma maioria silenciosa que está aceitando tudo com apatia apenas levemente preocupada, como se dissesse: “Pouco me importa o país onde vivo”. E também erra quem suponha que o mundo continuará a relacionar-se com Israel como se aqui houvesse democracia, se essa lei for aprovada; no mínimo, é gente que não vê o que está acontecendo. A lei de Netanyahu é mais um passo que agride gravemente a imagem de Israel.
O primeiro-ministro Netanyahu provará hoje que, de fato, é ele o Avigdor Lieberman do Partido “Israel Nosso Lar”, e o ministro da Justiça Yaakov Neeman provará que, de fato, é membro leal do mesmo partido. O Partido Labor provará que é partido capacho. E Israel provará que nada sabe e nada pensa, de fato, sobre coisa alguma. Hoje, o projeto de lei “da lealdade”; amanhã, a lei do juramento de lealdade.
Hoje, cederá a última barreira que ainda contém a inundação que afogará o que resta da democracia israelense, até que só nos reste talvez um estado judeu cujo caráter ninguém entende, mas que, com absoluta certeza, já não será estado democrático. Os que hoje exigem aquele juramento de lealdade são os mesmos que se apropriam e traem o dever de lealdade democrática a estado democrático.
Na próxima reunião do Parlamento israelense serão discutidas cerca de 20 outros projetos de leis antidemocráticas. No fim de semana, a Associação pelos Direitos Civis de Israel divulgou uma lista negra de projetos de leis: lei de lealdade para os deputados; lei de lealdade para os produtores de filmes; lei de lealdade para as ONGs; lei que descriminaliza todas as ações que levaram à catástrofe, à Nakba dos palestinos; proibição absoluta de qualquer tipo de boicote a Israel; e uma lei que permite cassar a cidadania de cidadãos israelenses por crime de deslealdade ao estado.
É perigoso balé à moda McCarthy, dançado por deputados ignorantes que absolutamente não sabem o que é a democracia. É perigoso, mesmo que nem todos os projetos sejam aprovados, porque, ainda que só um deles seja convertido em lei, o destino e a essência de Israel terão sido alterados para sempre.
É fácil entender o pas-de-deux Netanyahu-Lieberman. Nacionalistas obcecados, ninguém espera que entendam que a democracia não é apenas o governo da maioria, mas antes, e muito mais importante, só há democracia onde se garantam os direitos das minorias. Muito mais difícil é entender a complacência das massas. Todas as ruas e praças de Israel já deveriam estar tomadas por cidadãos que não desejam ver seu país convertido em terra em que as minorias são oprimidas por leis draconianas, como essa que se prepara hoje, pela qual muitos israelenses serão obrigados a jurar em falso e prometer fidelidade impossível ao Estado judeu. Estranhamente, a maioria parece nada ver, nada entender, nada sentir.
Durante décadas, tratamos com futilidade a questão de saber o que é ser judeu. Agora, já não nos servirá de nada discutir essa questão. Trata-se agora de saber que tipo de estado corresponderá à “nação dos judeus”. A quem pertence esse estado: mais aos judeus da diáspora, ou mais aos cidadãos árabes-israelenses? Os árabes-israelenses decidirão, com seu voto, o destino do estado judeu e definirão sua democracia? Os judeus ultra-ortodoxos da seita Neturei Karta, que se opõem à existência do estado de Israel, e mais centenas de milhares de judeus que não se mudaram para Israel farão, doravante, o que bem entenderem da democracia israelense? O que será judeu? Só os feriados judeus? Só as regras da comida Kosher? A garra do establishment judeu fundamentalista aperta-se cada vez mais, como se não bastasse o que já fizeram até hoje, para perverter a democracia israelense?
A aprovação da lei de fidelidade a um estado judeu decidirá o destino de Israel. É bem possível que Israel converta-se em teocracia, como a Arábia Saudita.
Sim, sim, por hora, a frase ainda soa como slogan vazio, ridículo. Não se encontram três judeus que concordem sobre o que seja um estado judeu. Mas a história ensina que, também de slogan vazios se pavimenta o caminho para o inferno. Enquanto isso, o projeto de lei a ser votado no Parlamento de Israel só fará excluir ainda mais os árabes-israelenses. Com o tempo, conseguirá excluir segmentos cada vez maiores da população de Israel.
É o que acontece quando se jogam para baixo do tapete brasas ainda fumegantes, as brasas do pouco que os israelenses acreditam na justeza do caminho que Israel tem trilhado.
Só essa falta de confiança poderia produzir distorção tão gigantesca como a que há no projeto de lei a ser aprovado pelo Parlamento. Jamais ocorreria ao Canadá obrigar os canadenses a jurar fidelidade ao estado canadense. Nenhum outro país precisa desse tipo de juramento. Mas Israel, sim, carece dele.
A lei está sendo proposta, também, para provocar ainda mais a minoria árabe, para empurrá-los a atos cada vez mais desesperados e a ‘deslealdades’, de modo que, em breve, fique evidente que será necessário dizimar os árabes, livrar-se deles. Ou, então, a lei aparece agora para abortar qualquer possibilidade de paz com os palestinos. De um modo ou de outro, o estado judeu já foi fundado em Basel, no Primeiro Congresso Sionista, em 1897, como disse Theodor Herzl. Hoje, será fundada a República Obscurantista Judia de Israel.
Tradução dos textos: Vila Vudu
Usina nuclear de Bushehr: o Irã revida
24/8/2010, Kaveh L Afrasiabi, Asia Times Online – http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LH24Ak04.html
No sábado, 21/8/, a usina nuclear na cidade de Bushehr, no sul do Irã, projeto várias vezes adiado, foi abastecida com combustível atômico. Foi o primeiro passo para a usina, construída pelos russos, entrar em funcionamento em setembro. É a realização de objetivo há muito buscado pelo Irã e que várias vezes foi ameaçado por custosos adiamentos e pelo esforço de EUA e Israel para convencer Moscou a impedir que a usina começasse a operar, pelo menos até que o Irã aceitasse render-se às resoluções da ONU e respectivas sanções.
A secretária de Estado Hillary Clinton disse várias vezes que, na opinião de Washington, Bushehr só poderia começar a operar, se o Irã convencesse o mundo de que não enriqueceria urânio, ou que mudasse de atitude, por efeito das sanções internacionais.
Pelo que se vê, o Irã continua a desafiar essas ‘ordens’. Alaedin Boroujerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento, disse categoricamente que “as duas questões, do enriquecimento de urânio e de segurança nacional são questões interconectadas”. Em outras palavras, congelar a atividade de enriquecimento de urânio implicaria riscos à segurança nacional do Irã.
“Os russos têm dado sinais de que são confiáveis”, disse Boroujerdi. “Pode estar próxima a hora de reparar nossas relações, para os dois lados, de modo que se possam extrair melhores resultados do potencial que há para atender objetivos das duas nações.” Essas palavras implicam que poderá haver acordo de mais ampla cooperação nuclear entre russos e iranianos, à luz de vários memorandos de entendimento que Teerã e Moscou já assinaram, para outras usinas a serem construídas no Irã.
Agora, dadas as considerações políticas globais e internas na Rússia – onde o primeiro-ministro Vladimir Putin capitalizou os louros por ter apoiado a decisão de construir Bushehr, apesar da resistência do presidente Dmitry Medvedev, mais 'ocidentalizante' –, caberá ao Irã dar sinais de flexibilidade nas negociações nucleares, para diminuir a pressão, sobre a Rússia, que virá das nações ocidentais.
Políticos iranianos, entre os quais Ali Akbar Velayati, conselheiro do Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei, manifestou uma nova disposição dos iranianos para engajarem-se em negociações nucleares com Washington no contexto do Grupo de Viena – EUA, Rússia, França e a Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Authority (IAEA) – e do grupo “Irã-6” (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha).
É muito provável que esse outono seja estação frutífera para a diplomacia nuclear, se o início das operações da usina de Bushehr for o primeiro passo para acordo multilateral com vistas à troca de combustível nuclear para o pequeno reator de pesquisas em Teerã – ou, em outras palavras, dois movimentos para construir confiança e tentar esvaziar uma crise nuclear. No início do mês, Fidel Castro, muito oportunamente, alertou para o risco de a crise nuclear evoluir para guerra nuclear (ver Castro: Nuclear sage or siren, Asia Times Online, 12/8/2010, em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LH12Ak01.html).
Do ponto de vista do Irã, alcançar seus dois objetivos-gêmeos – inaugurar a usina de Bushehr e pô-la a funcionar depois de 12 anos de atrasos e adiamentos; e conseguir combustível para o reator de Teerã – é sucesso absoluto, estabelece um novo marco e serve de garantia de pensamento novo, no difícil tema do diálogo com Washington.
“A decisão final nessa questão virá do Supremo Líder Aiatolá Khamenei, o qual já enviou sinais positivos por seus conselheiros, ao ocidente. Se a proposta do ocidente, sobre o diálogo, for proposta séria, o Irã está pronto para dialogar”, disse um professor de ciência política da Universidade de Teerã, conhecido por ser do círculo pessoal de relações do presidente.
Mas permanece o principal desafio que Teerã enfrenta: como alcançar seus objetivos de converter-se em potência nuclear e como sobreviver à pressão das sanções, sem ser obrigado a fazer concessões substantivas?
Afinal, a capacidade para enriquecer urânio já deu ao Irã um status de potência ‘proto-nuclear’, que atende vários dos objetivos de segurança nacional do país, e ganho do qual, portanto, dificilmente o país abrirá mão em troca de algum outro tipo de ganho –, o que não impede que se considerem opções intermediárias. Entre essas opções está a chamada ‘opção de reserva’ e uma inspeção mais rigorosa, pela IAEA, das instalações iranianas. Teerã já negou várias vezes as acusações, por governos ocidentais, de que estaria construindo armas nucleares para aumentar seu poder ofensivo.
Os EUA já disseram que não veem “risco de proliferação” em Bushehr, apesar de Israel ter declarado “inaceitável” o suprimento de urânio enriquecido para combustível do reator nuclear fornecido pelos russos. O canal Fox News citou Yossi Levy, porta-voz do ministro de Negócios Exteriores de Israel, para o qual “A comunidade internacional deve aumentar a pressão para obrigar o Irã a aceitar as decisões internacionais e suspender as atividades de enriquecimento e construção de reatores.”
Isso posto, deve-se considerar também a decisão dos russos, os quais (i) ignoraram a pressão dos EUA para que a inauguração de Bushehr fosse adiada (alegadamente, para que se pudesse analisar melhor o ambiente geoestratégico, que poderia ter consequências também para a segurança da Rússia, se o ocidente decidir manter a estratégia de enfraquecer o Irã) –, (ii) resistiram à expansão da OTAN e (iii) resistiram ao intervencionismo norte-americano.
Em outras palavras, é possível que também se devam considerar, para analisar esse quadro, (i) a razão (geopolítica) pela qual Putin desafiou e derrotou os políticos mais ‘ocidentalizantes’ em Moscou; (ii) as obrigações contratuais que os russos assumiram; e (iii) interesses puramente econômicos.
Quanto a isso, os EUA e a União Europeia (além de Israel) são responsáveis pelas dificuldades geradas pela grandiloquência, pelo radicalismo e pelo exagero de suas posições, seja pela imposição de novas sanções econômicas, que Moscou e Pequim desmoralizaram, seja pelas ameaças excessivas, superdramatizadas, contra o Irã, que criaram cenário inaceitável, do ponto de vista dos interesses de russos e chineses.
Se a situação de ‘confronto’ nuclear não tivesse sido inflada até o ponto em que está hoje, a inauguração de um reator atômico para finalidades de pesquisa e sob total supervisão da IAEA jamais seria objeto de tantos discursos sobre ‘riscos’ e ‘perigos’ e ‘efeitos colaterais’ e respectivas implicações.
Mas, porque os EUA conduziram o processo como o conduziram, a inauguração da usina de Bushehr tem hoje o efeito de torpedo que atingiu em cheio os que defenderam a aplicação de mais sanções – e, isso, apesar de a usina de Bushehr aparecer como exceção nas resoluções da ONU que aplicaram sanções ao Irã.
“A inauguração da usina de Bushehr é prova de que as ameaças que tantos rugem contra o Irã não passam de propaganda e tentativas de intimidar psicologicamente” – disse Kazem Jalali, porta-voz da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento. Mesmo assim, além do efeito psicológico, o bem evidente efeito político da inauguração de Bushehr é sinalizar ao ocidente que nem sanções nem ameaças conseguirão deter o Irã, na marcha para converter-se em potência nuclear.
O Irã exibe sua musculatura militar
Simultaneamente, ante tantas ameaças de ataque externo às suas instalações nucleares, o Irã, nos últimos meses, tem cuidado de exibir melhor musculatura militar: já apresentou um avião-robô, que o presidente Mahmoud Ahmadinejad chamou de “embaixador da morte, contra os inimigos do Irã”. A expressão causou (outra vez!) excessivo ‘escândalo’ no ocidente: avião-robô semelhante ao iraniano, mas norte-americano, chama-se “Predador”, nome que jamais escandalizou alguém.
É a terceira geração de mísseis fabricados no Irã, parte do projeto estratégico de defesa do país, de preparar-se para uma “guerra de mísseis” contra alvos duros e “soft” em toda a região do Golfo Persa – e além –, no caso de o país ser atacado. O programa inclui produção em massa de minissubmarinos, barcos equipados com torpedos e mísseis, além de um míssil terra-terra, o Qiam 1. Esse míssil é descrito pelos militares iranianos como “de alta velocidade, invisível ao radar” e pode ser “lançado de vários tipos de plataformas”.
Sempre insistindo em que o Irã investe em melhorar sua capacidade militar para fins exclusivamente defensivos, Teerã tenta, ao mesmo tempo, abrir caminho para o mercado global exportador de armamentos. Semana passada, o ministro da Defesa do Irã Ahmad Vahidi anunciou que o Irã já pode exportar armamentos para cerca de 50 países.
Apresentando as novas armas como prova de que o Irã está cada vez mais “autoconfiante” e cada dia “mais acredita em si mesmo”, altos oficiais do exército têm chamado atenção para o quadro regional, que explica a atual orientação, no Irã, para preparar-se para o que se conhece como “guerra assimétrica”.
Essa estratégia exige, dentre outras coisas, veículos táticos de alta mobilidade; produção em massa de mísseis; capacidades para operar minas; além do que se chama “estratégia de contenção expandida” que visa a “expandir o teatro do conflito” – o que significa atingir os interesses do atacante, no Oriente Médio e em todo o planeta. Khamenei disse recentemente que “se o Irã for atacado, o contra-ataque não será só regional e alcançará cenário muito mais amplo”.
Não há como negar, no Irã, que o país tem grandes setores militares ainda extremamente vulneráveis, sobretudo nos sistemas de defesa antiaérea – motivo pelo qual o Irã espera ansiosamente que a Rússia entregue o sistema de defesa S-300, já comprado e pago, cuja entrega Moscou tem adiado por razões políticas, dentre outras, inclusive por pressão da Arábia Saudita. (...)
Seja como for, a verdade é que nem todos estão satisfeitos com a atenção que o Irã dá à própria postura exclusivamente defensiva. Nas comemorações do Dia da Indústria Militar Iraniana, Ahmadinejad disse que “o Irã jamais iniciará um ataque”. É ideia que talvez ajude a aplacar as angústias de alguns vizinhos árabes no Golfo Persa, mas, ao mesmo tempo, rouba do Irã as vantagens do “ataque preventivo”, tão essencialmente crucial na estratégia militar dos poderes ocidentais – EUA, França e Israel, com certeza.
Em outras palavras, há um fosso disfuncional entre os interesses da segurança nacional do Irã e, do outro lado, uma doutrina militar unidimensional, puramente defensiva, que se autolimita, ao excluir categoricamente a possibilidade de ataque preventivo. É fosso perigoso, que pode paralisar os esforços de contraterrorismo, sobretudo no que tenham a ver com as operações nas regiões fronteiriças, com Paquistão e Iraque.
Vários analistas da política iraniana disseram a esse autor que o Irã entra perigosamente fragilizado, na cada vez mais clara corrida armamentista na região, e não deveria atuar “unidimensionalmente” (o que está fazendo hoje, ao declarar-se “exército de defesa” e rejeitar por princípio o “ataque preventivo”). O “ataque preventivo” é instrumento que o Irã deveria manter acessível, no caso de haver informação sobre ameaça real de ataque ao país. A linha que separa “defesa” e “ataque” pode ter sido traçada com excessiva precisão (movimento que pode ter sido resultado da pressão do ocidente) – em detrimento dos interesses da segurança nacional do Irã.
A secretária de Estado Hillary Clinton disse várias vezes que, na opinião de Washington, Bushehr só poderia começar a operar, se o Irã convencesse o mundo de que não enriqueceria urânio, ou que mudasse de atitude, por efeito das sanções internacionais.
Pelo que se vê, o Irã continua a desafiar essas ‘ordens’. Alaedin Boroujerdi, presidente da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento, disse categoricamente que “as duas questões, do enriquecimento de urânio e de segurança nacional são questões interconectadas”. Em outras palavras, congelar a atividade de enriquecimento de urânio implicaria riscos à segurança nacional do Irã.
“Os russos têm dado sinais de que são confiáveis”, disse Boroujerdi. “Pode estar próxima a hora de reparar nossas relações, para os dois lados, de modo que se possam extrair melhores resultados do potencial que há para atender objetivos das duas nações.” Essas palavras implicam que poderá haver acordo de mais ampla cooperação nuclear entre russos e iranianos, à luz de vários memorandos de entendimento que Teerã e Moscou já assinaram, para outras usinas a serem construídas no Irã.
Agora, dadas as considerações políticas globais e internas na Rússia – onde o primeiro-ministro Vladimir Putin capitalizou os louros por ter apoiado a decisão de construir Bushehr, apesar da resistência do presidente Dmitry Medvedev, mais 'ocidentalizante' –, caberá ao Irã dar sinais de flexibilidade nas negociações nucleares, para diminuir a pressão, sobre a Rússia, que virá das nações ocidentais.
Políticos iranianos, entre os quais Ali Akbar Velayati, conselheiro do Líder Supremo Aiatolá Ali Khamenei, manifestou uma nova disposição dos iranianos para engajarem-se em negociações nucleares com Washington no contexto do Grupo de Viena – EUA, Rússia, França e a Agência Internacional de Energia Atômica [ing. International Atomic Energy Authority (IAEA) – e do grupo “Irã-6” (os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha).
É muito provável que esse outono seja estação frutífera para a diplomacia nuclear, se o início das operações da usina de Bushehr for o primeiro passo para acordo multilateral com vistas à troca de combustível nuclear para o pequeno reator de pesquisas em Teerã – ou, em outras palavras, dois movimentos para construir confiança e tentar esvaziar uma crise nuclear. No início do mês, Fidel Castro, muito oportunamente, alertou para o risco de a crise nuclear evoluir para guerra nuclear (ver Castro: Nuclear sage or siren, Asia Times Online, 12/8/2010, em http://www.atimes.com/atimes/Middle_East/LH12Ak01.html).
Do ponto de vista do Irã, alcançar seus dois objetivos-gêmeos – inaugurar a usina de Bushehr e pô-la a funcionar depois de 12 anos de atrasos e adiamentos; e conseguir combustível para o reator de Teerã – é sucesso absoluto, estabelece um novo marco e serve de garantia de pensamento novo, no difícil tema do diálogo com Washington.
“A decisão final nessa questão virá do Supremo Líder Aiatolá Khamenei, o qual já enviou sinais positivos por seus conselheiros, ao ocidente. Se a proposta do ocidente, sobre o diálogo, for proposta séria, o Irã está pronto para dialogar”, disse um professor de ciência política da Universidade de Teerã, conhecido por ser do círculo pessoal de relações do presidente.
Mas permanece o principal desafio que Teerã enfrenta: como alcançar seus objetivos de converter-se em potência nuclear e como sobreviver à pressão das sanções, sem ser obrigado a fazer concessões substantivas?
Afinal, a capacidade para enriquecer urânio já deu ao Irã um status de potência ‘proto-nuclear’, que atende vários dos objetivos de segurança nacional do país, e ganho do qual, portanto, dificilmente o país abrirá mão em troca de algum outro tipo de ganho –, o que não impede que se considerem opções intermediárias. Entre essas opções está a chamada ‘opção de reserva’ e uma inspeção mais rigorosa, pela IAEA, das instalações iranianas. Teerã já negou várias vezes as acusações, por governos ocidentais, de que estaria construindo armas nucleares para aumentar seu poder ofensivo.
Os EUA já disseram que não veem “risco de proliferação” em Bushehr, apesar de Israel ter declarado “inaceitável” o suprimento de urânio enriquecido para combustível do reator nuclear fornecido pelos russos. O canal Fox News citou Yossi Levy, porta-voz do ministro de Negócios Exteriores de Israel, para o qual “A comunidade internacional deve aumentar a pressão para obrigar o Irã a aceitar as decisões internacionais e suspender as atividades de enriquecimento e construção de reatores.”
Isso posto, deve-se considerar também a decisão dos russos, os quais (i) ignoraram a pressão dos EUA para que a inauguração de Bushehr fosse adiada (alegadamente, para que se pudesse analisar melhor o ambiente geoestratégico, que poderia ter consequências também para a segurança da Rússia, se o ocidente decidir manter a estratégia de enfraquecer o Irã) –, (ii) resistiram à expansão da OTAN e (iii) resistiram ao intervencionismo norte-americano.
Em outras palavras, é possível que também se devam considerar, para analisar esse quadro, (i) a razão (geopolítica) pela qual Putin desafiou e derrotou os políticos mais ‘ocidentalizantes’ em Moscou; (ii) as obrigações contratuais que os russos assumiram; e (iii) interesses puramente econômicos.
Quanto a isso, os EUA e a União Europeia (além de Israel) são responsáveis pelas dificuldades geradas pela grandiloquência, pelo radicalismo e pelo exagero de suas posições, seja pela imposição de novas sanções econômicas, que Moscou e Pequim desmoralizaram, seja pelas ameaças excessivas, superdramatizadas, contra o Irã, que criaram cenário inaceitável, do ponto de vista dos interesses de russos e chineses.
Se a situação de ‘confronto’ nuclear não tivesse sido inflada até o ponto em que está hoje, a inauguração de um reator atômico para finalidades de pesquisa e sob total supervisão da IAEA jamais seria objeto de tantos discursos sobre ‘riscos’ e ‘perigos’ e ‘efeitos colaterais’ e respectivas implicações.
Mas, porque os EUA conduziram o processo como o conduziram, a inauguração da usina de Bushehr tem hoje o efeito de torpedo que atingiu em cheio os que defenderam a aplicação de mais sanções – e, isso, apesar de a usina de Bushehr aparecer como exceção nas resoluções da ONU que aplicaram sanções ao Irã.
“A inauguração da usina de Bushehr é prova de que as ameaças que tantos rugem contra o Irã não passam de propaganda e tentativas de intimidar psicologicamente” – disse Kazem Jalali, porta-voz da Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento. Mesmo assim, além do efeito psicológico, o bem evidente efeito político da inauguração de Bushehr é sinalizar ao ocidente que nem sanções nem ameaças conseguirão deter o Irã, na marcha para converter-se em potência nuclear.
O Irã exibe sua musculatura militar
Simultaneamente, ante tantas ameaças de ataque externo às suas instalações nucleares, o Irã, nos últimos meses, tem cuidado de exibir melhor musculatura militar: já apresentou um avião-robô, que o presidente Mahmoud Ahmadinejad chamou de “embaixador da morte, contra os inimigos do Irã”. A expressão causou (outra vez!) excessivo ‘escândalo’ no ocidente: avião-robô semelhante ao iraniano, mas norte-americano, chama-se “Predador”, nome que jamais escandalizou alguém.
É a terceira geração de mísseis fabricados no Irã, parte do projeto estratégico de defesa do país, de preparar-se para uma “guerra de mísseis” contra alvos duros e “soft” em toda a região do Golfo Persa – e além –, no caso de o país ser atacado. O programa inclui produção em massa de minissubmarinos, barcos equipados com torpedos e mísseis, além de um míssil terra-terra, o Qiam 1. Esse míssil é descrito pelos militares iranianos como “de alta velocidade, invisível ao radar” e pode ser “lançado de vários tipos de plataformas”.
Sempre insistindo em que o Irã investe em melhorar sua capacidade militar para fins exclusivamente defensivos, Teerã tenta, ao mesmo tempo, abrir caminho para o mercado global exportador de armamentos. Semana passada, o ministro da Defesa do Irã Ahmad Vahidi anunciou que o Irã já pode exportar armamentos para cerca de 50 países.
Apresentando as novas armas como prova de que o Irã está cada vez mais “autoconfiante” e cada dia “mais acredita em si mesmo”, altos oficiais do exército têm chamado atenção para o quadro regional, que explica a atual orientação, no Irã, para preparar-se para o que se conhece como “guerra assimétrica”.
Essa estratégia exige, dentre outras coisas, veículos táticos de alta mobilidade; produção em massa de mísseis; capacidades para operar minas; além do que se chama “estratégia de contenção expandida” que visa a “expandir o teatro do conflito” – o que significa atingir os interesses do atacante, no Oriente Médio e em todo o planeta. Khamenei disse recentemente que “se o Irã for atacado, o contra-ataque não será só regional e alcançará cenário muito mais amplo”.
Não há como negar, no Irã, que o país tem grandes setores militares ainda extremamente vulneráveis, sobretudo nos sistemas de defesa antiaérea – motivo pelo qual o Irã espera ansiosamente que a Rússia entregue o sistema de defesa S-300, já comprado e pago, cuja entrega Moscou tem adiado por razões políticas, dentre outras, inclusive por pressão da Arábia Saudita. (...)
Seja como for, a verdade é que nem todos estão satisfeitos com a atenção que o Irã dá à própria postura exclusivamente defensiva. Nas comemorações do Dia da Indústria Militar Iraniana, Ahmadinejad disse que “o Irã jamais iniciará um ataque”. É ideia que talvez ajude a aplacar as angústias de alguns vizinhos árabes no Golfo Persa, mas, ao mesmo tempo, rouba do Irã as vantagens do “ataque preventivo”, tão essencialmente crucial na estratégia militar dos poderes ocidentais – EUA, França e Israel, com certeza.
Em outras palavras, há um fosso disfuncional entre os interesses da segurança nacional do Irã e, do outro lado, uma doutrina militar unidimensional, puramente defensiva, que se autolimita, ao excluir categoricamente a possibilidade de ataque preventivo. É fosso perigoso, que pode paralisar os esforços de contraterrorismo, sobretudo no que tenham a ver com as operações nas regiões fronteiriças, com Paquistão e Iraque.
Vários analistas da política iraniana disseram a esse autor que o Irã entra perigosamente fragilizado, na cada vez mais clara corrida armamentista na região, e não deveria atuar “unidimensionalmente” (o que está fazendo hoje, ao declarar-se “exército de defesa” e rejeitar por princípio o “ataque preventivo”). O “ataque preventivo” é instrumento que o Irã deveria manter acessível, no caso de haver informação sobre ameaça real de ataque ao país. A linha que separa “defesa” e “ataque” pode ter sido traçada com excessiva precisão (movimento que pode ter sido resultado da pressão do ocidente) – em detrimento dos interesses da segurança nacional do Irã.
Tradução: Vila Vudu
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