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Não é hora de falar em flores

Diga lá, amigo. Além de odiar o Lula, o que mais você faz na vida? 
Rodopiou

Se os Josés Dirceu e Genoínos proclamam inocência e alegam ter sido político o julgamento e consequente condenação no STF, são rapidamente desqualificados por jornalistas, comentaristas e palpiteiros de plantão, todos obviamente profissionais preocupados em tão somente informar, com zelo e responsabilidade, sem influências políticas, partidárias ou ideológicas.

Mas nem tão curiosamente, eles são os mesmos que tomam como verdade inquestionável o depoimento de Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão pelo mesmo STF e pelos mesmos crimes, quando este, sem uma única prova a não ser seu testemunho para lá de suspeito (afinal, trata-se da palavra de um criminoso condenado tentando salvar sua pele, certo?), acusa Lula de ser o principal mandante do mensalão e de ter sido ameaçado de morte por lideranças do PT.

Pouco importa se durante todo o processo nenhum dos ministros, a começar pelo relator, Joaquim ‘Batman’ Barbosa, encontrou evidências da participação de Lula, que sequer foi mencionado ao longo do julgamento. afinal, se Marcos Valério disse, deve ser verdade.

Faz tempo que deixei o PT, mais de uma década e meia. Neste tempo, votei no partido em algumas eleições; anulei ou justifiquei o voto em outras; na deste ano, optei pelo PSOL. Também já não tenho a mesma admiração e respeito que tinha por Lula, por exemplo, em 1989, embora lhe reconheça os méritos e continue a acreditar que ele fez o melhor governo de nossa história republicana, em que pese os equívocos, muitos, inclusive as seguidas denúncias de corrupção – aliás, investigadas, ao contrário do engavetamento geral que era característica dos governos FHC, a começar pela compra de votos no congresso para assegurar a reeleição do sociólogo, que mereceu um silêncio quase geral e sobre o qual nem mesmo se chegou a formalizar qualquer denúncia.

Mas é difícil permanecer calado diante da verdadeira campanha de desmoralização, orquestrada principalmente pela imprensa e mídia, contra o ex-presidente, a quem desejam transformar, a qualquer custo e não importam os meios, em um criminoso.

Ódio de classe? em parte, certamente sim. Embora distante de suas origens, a trajetória de Lula sintetiza e denuncia, pela raridade, os arranjos políticos de uma democracia que com raríssimas exceções, pautou-se sempre mais por um esforço de exclusão que de inclusão.

Incomoda a Casa Grande que um nordestino, ex-operário e ex-sindicalista, não apenas tenha chegado ao governo liderando um partido e uma aliança de esquerda, como tenha conseguido fazer o que eles, os que habitam a casa grande, jamais fizeram, por incompetência, insensibilidade e descaso: um governo capaz de atender, mesmo que precariamente em se tratando de um país e uma população com tantas mazelas, parcelas da população historicamente relegadas à indiferença dos poderes públicos.

Incomoda, igualmente, que sua ação orquestrada não tenha conseguido ainda abalar a popularidade de que Lula goza no Brasil e o respeito que conquistou no exterior.

Sem um projeto para o país, para o qual sempre se lixou; incapaz de fazer frente aos avanços, alguns tímidos, dos movimentos sociais os mais diversos, à direita resta fazer do ressentimento e do ódio os afetos privilegiados, talvez únicos, a pautar suas ações públicas e midiáticas.

Neste sentido, não são eventos isolados a reação conservadora no congresso, patrocinada especialmente pela bancada evangélica, principalmente contra homossexuais; o sexismo crescente e a violência, seja física ou simbólica, contra mulheres; a desqualificação do movimento negro e de algumas de suas conquistas, notadamente as políticas de cotas; a tentativa de reduzir a menoridade penal; a militarização crescente da segurança pública, a transformar cada vez mais a população civil, em especial os movimentos sociais, em inimigos potenciais das polícias militares.

Estes e outros não são isolados nem se dissociam da campanha de ódio movida contra o ex-presidente. Desmoralizá-lo, desqualificá-lo, rebaixá-lo à condição de pária criminoso, é parte de uma ação coordenada que não visa nem odeia apenas Lula. ele é o símbolo que se quer destruir, a memória que se pretende apagar.

Mas nós, as esquerdas, sejamos ou não lulistas ou petistas (e muitos somos libertários e anarquistas; simpáticos a Lula e ao PT talvez, mas nem por isso a eles vinculados), somos igualmente odiados e odiosos.

E se a direita conservadora nos odeia, não é hora de retribuir-lhes o ódio com flores.


Clóvis Grunner é doutor em História e professor da Universidade Federal do Paraná

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Florianópolis, “a cidade de Floriano”, 31 anos de Novembrada e as políticas do esquecimento

Fortaleza do Anhatomirim - Foto: Germano Schüur

Por Laurene Veras* especialmente para o blog.

Em 14 de outubro de 1893, o comandante Federico de Lorena declarou instalado o Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil na cidade de Nossa Senhora do Desterro, em Santa Catarina. Em plena revolução federalista, Desterro passou a ocupar o status de uma capital do país paralela, ilegítima para os legalistas, estratégica para os federalistas do sul do país. O novo governo considerava-se separado da União, enquanto Floriano Peixoto, que comandava o país desde o Rio de Janeiro, não fosse deposto. Esta ‘vitória’ do movimento federalista durou seis meses, após os quais, enfraquecido por dissidências internas, o movimento revoltoso foi desmembrado e derrotado em 16 de abril de 1894, três dias antes da chegada do interventor federal Antônio Moreira César. Moreira César iniciou então uma operação pente fino na ilha de Santa Catarina e colocou toda força à sua disposição no encalço dos remanescentes revolucionários. A partir daí, Desterro testemunhou um dos momentos mais sangrentos e traumáticos de sua história. Em maio de 1894, após meses de perseguição, execuções, tortura e todos os conhecidos meios de repressão e coação praticados pelo Estado, ocorreu o que ficou conhecido – ou desconhecido, dependendo da interpretação – como o “Massacre de Anhatomirim”, quando cerca de 200 homens teriam sido executados na ilha presídio num movimento revanchista e arbitrário de extermínio e profilaxia política. Em 1º de outubro do mesmo ano, o então governador Hercílio Luz − cujo próprio primo e cunhado havia sido assassinado pela mão de ferro de Moreira César −, sancionou a lei que mudaria o nome da capital do estado de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis, em homenagem a Floriano Peixoto, ninguém menos que o mentor político dos verdugos dos ilhéus revolucionários. A troca do nome da cidade foi uma tentativa de varrer os fatos traumáticos de Anhatomirim para baixo do tapete da história e passar um verniz sobre uma ferida que deveria ser bem cicatrizada pelas políticas do esquecimento articuladas pelas autoridades competentes.

           
No que diz respeito à tradição e à dor, a Ilha de Anhatomirim faz parte do imaginário dos florianopolitanos como um lugar mal assombrado. As narrativas oriundas da tradição local contam estórias de fantasmas e maldições relacionados ao lugar. Entretanto, para além do anedótico e folclórico, após quase um século de esquecimento gerado no trauma, a significância da memória cultural se faz notar em um dos mais importantes levantes populares da História da ditadura militar no Brasil. Em 30 de novembro de 1979, o então presidente General João Figueiredo fez uma visita a Florianópolis a fim de conhecer o projeto de implantação de uma indústria siderúrgica na região e para a cerimônia de descerramento de uma placa em homenagem a Floriano Peixoto. O Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina organizou uma manifestação contra o regime militar, e a manifestação acabou ganhando força e destaque por causa da indignação causada pelo monumento em homenagem ao ditador da revolução federalista. O general foi hostilizado pela população e reagiu com agressividade. A confusão na Praça 15 de novembro foi generalizada, e a famigerada placa foi arrancada do lugar e queimada pelos manifestantes. Com base nesse fato, é possível afirmar que neste dia, dois chefes de regimes autoritários de épocas diferentes foram desafiados pelo povo. O episódio da Praça 15 de novembro ficou conhecido como Novembrada, mas assim como o esquecimento de Anhatomirim, a Novembrada também teve existência curta na memória oficial do país, especialmente por se tratar de um levante que ocorreu em meio à repressão da ditadura militar, a qual tratou de acionar as usuais ferramentas do esquecimento.


*Mestranda em Literatura, UFRGS.
Imagens Novembrada: Banco de Dados/JSC
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Caçada ao WikiLeaks

Chasing WikiLeaks

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Encontro de Geógrafos em Porto Alegre


Acompanhe o XVI Encontro Nacional de Geógrafos em
www.eng-2010.blogspot.com




O XVI Encontro Nacional de Geógrafos – Crise, Práxis e Autonomia: Espaços de Resistência e de Esperança - é organizado pela Associação de Geógrafos Brasileira (AGB), que conta com uma seção em Porto Alegre (rua Uruguai, 35/426). O diálogo de abertura será no dia 25, a partir das 17h30min, na Casa do Gaúcho, no Parque Harmonia, com a presença do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e da geógrafa da USP, Ana Fani. O artista popular gaúcho Pedro Munhoz fará uma apresentação musical na abertura*.

*Fonte: RSurgente
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Mavi Marmara

No Náufrago da Utopia, assistimos o video produzido por Iara Lee a bordo do Mavi Marmara.
Ei-lo!

Israeli Attack on the Mavi Marmara, May 31st 2010 // 15 min. from Cultures of Resistance on Vimeo.


Assistam este aqui também.
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