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O racismo midiático e as elites

Por Dennis de Oliveira, na revista Fórum:

Entre o final do século XIX e início do século XX, o racismo no Brasil travestiu-se de um discurso pretensamente científico ao importar as ideias das teorias da eugenia e da antropologia criminal, que eram fortemente presentes nos círculos intelectuais daqui. E foram ressignificadas. A teoria da eugenia prega a separação entre “raças”, afirmando que a mestiçagem produz um tipo degradado de ser humano. É a base de políticas segregacionistas, como o apartheid.

No Brasil, a teoria foi adaptada à circunstância de ser uma nação com maioria de população negra. Aí houve a adaptação para o “branqueamento”, a ideia de que a mestiçagem seria uma política “limpa” de faxina étnica. O diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro João Batista de Lacerda apresentou essa “solução brasileira” no Congresso Internacional das Raças de 1911, em Londres, como uma medida eficaz para a limpeza étnica, silenciosa e sem confrontos.

A mestiçagem foi novamente tratada, dessa vez como singularidade nacional, na obra de Gilberto Freyre, em Casa Grande e Senzala. E dessa vez não como uma solução de limpeza étnica, mas como símbolo de uma tolerância racial tipicamente brasileira que deu base à ideia da democracia racial. Freyre teve o mérito de deslocar o conceito de raça da biologia e colocá-la como categoria das ciên­cias antropológicas.

O que se percebe nessas experiências é que o racismo foi uma ideia discutida no campo das ciências. Foucault, em Microfísica do poder, fala que o racismo não surgiu como uma “ideologia política”, mas como uma “ideo­logia científica”. Isso é importante para que percebamos que o racismo é um discurso que tem uma lógica e é racional. Não se trata apenas de deturpação ou de ignorância (embora alguns racistas efetivamente tenham isso), mas de uma narrativa sofisticada e articulada. Por isso, ele persiste no imaginário de muitas pessoas, penetra nas instituições e estrutura as relações sociais do país, por mais que o movimento antirracista denuncie e tenha algumas vitórias no campo legal e normativo.

Os principais sujeitos do racismo científico são as elites intelectuais. Foi no campo acadêmico que ele se estruturou e a legitimidade dessa elite intelectual possibilitou a sua disseminação como narrativa ideológica. Partilharam desse discurso personalidades importantes na intelectualidade brasileira, algumas até próximas a propostas nacionalistas e progressistas, como o escritor Monteiro Lobato e o educador Anísio Teixeira, simpatizantes e até militantes da causa da eugenia.

O que percebemos atualmente é que a legitimidade do discurso racista vai paulatinamente se deslocando da esfera acadêmica para a midiática. São as elites logotécnicas, conceito de Muniz Sodré para definir o campo de profissionais que operam a indústria imagética e midiática, que operam o novo discurso racista. Novo porque o campo da indústria imagética é distinto da academia. Na academia, o elemento ideológico é a razão instrumental. Na indústria imagética, a visibilidade e a celebridade.

O caso recente do personagem da novela Amor à vida, que é uma criança negra adotada por um casal de classe média alta, é um exemplo disso. A criança negra terá os seus cabelos cortados porque o autor da novela – Walcyr Carrasco – diz que uma família rica que adotasse uma criança negra “faria isso” e que “quer um personagem que seja aceito”, ignorando que um ator da própria novela, Marcelo Anthony, tem uma criança negra adotada sem ter o cabelo raspado. Irritado com as críticas, ameaçou ainda que, se não ficarem satisfeitos, tira o personagem, e ponto.

Por diversas vezes, o movimento negro reivindicou cotas de participação de negros e negras nas produções midiáticas de ficção e publicidade, reivindicação sempre rejeitada pelos membros da elite logotécnica, sob a alegação que isso iria ferir a “liberdade de criação” do autor. Como se essa liberdade de criação não estivesse submetida às lógicas do capital que emprega tais autores.

O racismo midiático é uma das novas fronteiras de enfrentamento do movimento antirracista. E também uma das mais difíceis. Porém, conforme se observa em todos os outros campos da luta social, a democratização plena não acontecerá sem a democratização total da mídia.
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Juventude negra marcada para viver

Por Michelle Rusche, na revista Teoria e Debate:

“Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.” - Martin Luther King
A sociedade brasileira é em sua grande maioria racista. Embora representem 51% da população, os negros não ocupam proporcionalmente as mesmas vagas de trabalho, não têm as mesmas oportunidades. São vítimas de um preconceito que se perpetua por séculos. São marginalizados.

A origem dessa discriminação data de algumas centenas de anos, com o sistema de escravidão instaurado no Brasil por portugueses, abolido somente em 1888, pela Lei Áurea, há 125 anos. As relações de poder entre brancos e negros era nitidamente a do colonizador e do escravo, que mais tarde se transformou na relação do patrão e do empregado, do rico e do pobre.

Um dos reflexos desse racismo é a violência contra negros, que vem aumentando nos últimos anos. No Brasil morrem mais negros do que brancos, em sua maioria jovens em situação de pobreza, que perdem a vida precocemente, entre os 20 os 25 anos.

De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados 49.932 homicídios em 2010. Pouco mais da metade (53,3%) das vítimas eram jovens, dos quais 76,6% negros (pretos e pardos) e 91,2% do sexo masculino.

Em 2010 morreram 132% mais negros do que brancos vítimas de homicídio. No mesmo ano, o número de jovens negros superou em 152% o número de vítimas brancas. (Mapa da Violência 2012: a Cor dos Homicídios no Brasil, de Julio Jacobo Waiselfisz. Cebela, Flacso; Brasília: Seppir/PR, 2012).

Concomitantemente, o governo federal tem intensificado e fortalecido as políticas públicas de inclusão de negros para diminuir as desigualdades raciais históricas, sobretudo a partir de 2003, com a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir).

Um plano específico de prevenção ao problema da violência foi criado pela Secretaria-Geral da Presidência da República, por meio de uma ação compartilhada entre a Seppir e a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ): o Plano Nacional de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra – Juventude Viva, que, em conjunto com estados e municípios, vem promovendo, há apenas um ano, mudanças na cultura brasileira e na sua forma de se relacionar com o negro.

O negro teve grande importância na construção do Brasil e de toda a sua riqueza e tem de ser reconhecido, e não violentado. “Um dos grandes desafios da democracia de hoje é o enfrentamento ao problema da violência contra jovens negros, homens e mulheres. São 27 mil mortes ao ano. É como se caíssem dois aviões com pessoas por semana. Temos de nos organizar, e os estados e municípios são fundamentais para o alcance das políticas públicas para quem mais necessita”, disse a coordenadora do Juventude Viva pela SNJ, Fernanda Papa.

Racismo no Brasil
Pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo em 2008 verificou que 87% dos brasileiros reconhecem o racismo na sociedade, mas apenas 4% assumem ser racista.

“Há um paradoxo nesses números. A sociedade brasileira condena o racismo no discurso, não se declara em sua maioria racista, mas quando sondamos a presença do negro nos círculos de relações e de trabalho dessas pessoas, por exemplo, percebe-se que a recusa é grande”, observa Maria Palmira da Silva, professora de Psicologia Social, co-organizadora do livro Racismo no Brasil, publicado pela Editora Fundação Perseu Abramo.

A publicação reúne análises de diversos especialistas sobre os números da pesquisa. Entre as principais constatações desse trabalho está a de que vivemos numa sociedade racista, com um racismo difuso e difícil de ser identificado.

De acordo com o IBGE, o número de pessoas que se declaram negras vem aumentando. Em 2005, eram 48% e, em 2012, a porcentagem passou a 53%. “Como o racismo produz sofrimento às vítimas, há um receio delas em assumir essa condição. Quando a identidade do negro passa a ser valorizada, reconhecida, esse cenário se modifica”, explica Palmira.

Segundo a professora, o fortalecimento do debate sobre a questão do negro e o crescimento das políticas públicas estão fazendo com que o fenômeno do racismo se intensifique em alguns setores. “Importantes políticas como cotas para negros em universidades, vagas nos serviços públicos e os programas de saúde para a população negra estão contribuindo para que o negro conquiste mais espaços na sociedade, e isso provoca uma reação maior de determinados grupos racistas”, afirma Palmira.

Mapa da violência contra negros
O Brasil ocupa o 18º lugar em número de homicídios na ranking mundial de países. Das mortes, os jovens lideram a lista de vítimas, principalmente negros do sexo masculino.
Os dados nacionais são obtidos por meio do Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde (SIM/MS), que, apesar de estudar a evolução dos homicídios desde 1979, vem aplicando um olhar diferenciado ao quesito raça e cor a partir de 1996. Em 2002, a identificação de raça/cor já correspondia a 92,6% dos relatórios de homicídios.

A partir dessa sistematização, os mapas da violência passaram a trazer informações mais aprofundadas sobre a questão racial a partir de 2005, quando os números demonstraram uma realidade bastante preocupante, que vem se agravando com os anos.

Entre 2002 e 2010, os mapas apontaram redução do número de vítimas de homicídios na população branca e elevação na população negra, tanto adulta como jovem. Nesta, subiu de 58,6% para 71,1%, ao passo que naquela caiu de 41% para 28,5%.
Os homicídios de negros, portanto, aumentaram quase 30% no período, com o número de mortes saltando de 26.952 para 34.983.

No caso dos jovens, recuou de 37,5% para 24,6% na população branca e passou de 62,2% para 75,1% na negra.

Casos triplicaram nos últimos dez anos
A proporção de homicídios entre negros em relação aos brancos é cada vez maior. Em 2002, a taxa de vitimização foi de 65,4%, em 2006 passou para 90,8%, e em 2010 chegou a 132,3%. Isso significa que, em 2010, para cada branco vítima de homicídio, morreram 2,3 negros pelo mesmo motivo.

O ranking dos oito estados mais preocupantes são: Alagoas (80,5%), Espírito Santo (65%), Paraíba (60,5), Pará (55,1%), Pernambuco (54,6%), Distrito Federal (52,8%), Bahia (47,3%) e Mato Grosso (39,7%). Nas Regiões Norte e Nordeste, portanto os números são os mais alarmantes.

Alagoas, o mais violento
O estado de Alagoas, lugar onde viveu e morreu Zumbi dos Palmares, registra a maior taxa de homicídios do país. De acordo com o SIM, lá são registradas 110 vítimas para cada 100 mil habitantes. Entre jovens, a taxa de alcança 275,5 e, entre negros, 332,1.

O índice de homicídios de negros é três vezes maior que em outros estados: 84,9 em cada 100 mil habitantes mortos.

Em 2010, foram 2.086 vítimas, das quais 81% eram negras e, em sua maioria (62%), jovens do sexo masculino.

“A principal causa da violência está no elevado número de jovens usuários de drogas e na grande evasão escolar. Hoje verificamos que Maceió reduziu em 24% o número de jovens negros mortos de 2012 para 2013. Parte, em razão das ações sociais voltadas a esse segmento, como capoeira, artes, educação, saúde e emprego”, explica a coordenadora do Plano Juventude Viva em Alagoas, Katia Born.

Ações afirmativas
Para enfrentar o problema, o Juventude Viva pretende levar aos jovens dos bairros de maior risco social ações na área da educação, saúde, trabalho, cultura e esporte, oferecendo uma alternativa para prevenir a violência e ampliar direitos.

“O plano nasceu de uma demanda da sociedade, eleita prioritária durante a I Conferência de Igualdade Racial, realizada em 2008, de modo a sensibilizar atores do governo federal para trazer a juventude negra para o foco da ação, reconhecendo-a como sujeito de direito que até hoje não é tratada com a devida importância”, diz a coordenadora Fernanda.

O plano visa diminuir a vulnerabilidade de jovens em situações de violência física e simbólica, a partir da criação de oportunidades de inclusão social e autonomia; da oferta de equipamentos, serviços públicos e espaços de convivência em territórios que concentram altos índices de homicídio; e do aprimoramento da atuação do Estado por meio do enfrentamento ao racismo institucional e da sensibilização de agentes públicos para a questão.

“O grande desafio é enfrentar o alto número de mortalidade de pessoas negras, desde mulheres em maternidades até a juventude negra pobre, e reverter a representação negativa sobre essa população no Brasil. Os negros não são pensados para ocupar os espaços de poder na sociedade”, afirma Felipe Freitas, coordenador do Juventude Viva pela Seppir.

O público-alvo são jovens negros de 15 a 29 anos do sexo masculino, em sua maioria de baixa escolaridade, moradores de bairros da periferia, em situação de exposição à violência, incluindo doméstica, em situação de rua, cumprindo medidas socioeducativas, egressos do sistema penitenciário e usuários de crack e outras drogas.

Pacto federativo
Estados e municípios selecionados a partir do critério de prioridade, aqueles onde os índices de violência são mais altos, estão habilitados a assinar um termo de adesão ao Plano Juventude Viva e elaborar planos nas esferas correspondentes. A relação dos municípios pode ser consultada na página Juventude Viva.

Quatro dos oito estados com maior índice de homicídios de jovens negros já assinaram o Plano Nacional de Prevenção à Violência contra a Juventude Negra: Alagoas, Paraíba, Distrito Federal e Bahia.

Muitas cidades, independentemente de o estado ter aderido, também estão participando do plano. Ao todo, são 147 municípios que podem aderir até 2014 aos quatro eixos de ação interligados às políticas locais.

Das capitais, cidades onde os casos de violência são bastante agravados, participam Maceió, João Pessoa, Brasília e São Paulo, a mais recente a firmar a parceria com o plano, em outubro de 2013.
“O grande legado que o Juventude Viva traz é colocar na ordem do dia a violência contra a juventude negra como um problema de toda a sociedade brasileira. Um problema que responde a um passivo de dívida de séculos que temos com essa população”, avalia Fernanda.

Violência institucionalizada
O preconceito racial está presente em todos os setores da nossa sociedade, inclusive nas instituições, fator que tem contribuído para a intensificação das políticas afirmativas e a capacitação de gestores públicos sobre a questão.
“O racismo institucional é aquele que se dá pelo funcionamento sistemático de uma instituição, para além da conduta individual daqueles que dela participam. Assim, uma instituição como a polícia, a escola, o hospital, o Parlamento pode funcionar de maneira racista e discriminatória, mesmo mudando seus componentes individuais”, explica o professor de criminologia da Uneb e Uefs (Bahia) Riccardo Cappi.

Segundo dados não oficiais divulgados em 2009 pela Justiça Global, a polícia seria responsável pela morte de 20% dos negros no Brasil.

Um documento do comando da Polícia Militar de Campinas, no interior de São Paulo, assinado recentemente pelo capitão Ubiratan de Carvalho Góes Beneducci, veio a público e chocou autoridades e defensores dos direitos humanos. O texto orientava os policiais que atuam no bairro Taquaral, região nobre daquela cidade, a abordar com rigor pessoas “em atitude suspeita, especialmente indivíduos de cor parda e negra”.

“Temos uma polícia que, ainda hoje, provoca mortes em demasia, especialmente de jovens negros. Sabe-se que a proporção de mortos da sociedade civil e da polícia em confronto é de 20 para 1. Um número acima do que foi estipulado pela ONU (10 para 1)”, pontua Cappi.

O secretário Nacional de Assuntos Legislativos, Marivaldo Pereira, disse que é importante não demonizar nenhuma instituição, como a polícia, por exemplo, no entanto as práticas abusivas devem ser combatidas. “A polícia é um órgão fundamental para a sociedade. Mas tem de combater a disseminação de práticas discriminatórias dentro das instituições, impedindo que o jovem negro seja vítima constante de violência”, afirma o professor.

Auto de Resistência
Um instrumento criado na ditadura militar, conhecido como Auto de Resistência, deu à polícia plenos poderes para atuar em práticas de repressão sem a necessidade de investigação das mortes. “Com isso, qualquer pessoa pode ser julgada pela própria polícia e receber sentença de morte”, diz o secretário Pereira.

A resolução 08/2012, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, vem combatendo essa forma de violência com o impedimento do uso da expressão “auto de resistência” nos registros policiais, boletins de ocorrência e inquéritos policiais. Com isso, seria possível identificar as causas de todas das mortes cometidas por policiais em trabalho, sem exceção, inibindo assim práticas de extermínio, execução extrajudicial e a injustiça também contra outros policiais.

Tramita no Congresso Nacional, ainda, o Projeto de Lei nº 4471/12, de autoria do deputado federal Paulo Teixeira (PT), que altera o Código Penal e põe fim aos “autos de resistência”, uma antiga demanda do movimento negro, fundamental no enfrentamento da impunidade nos casos de violência cometidos pelo Estado.

O projeto está na agenda de votação da Câmara dos Deputados desde agosto e, quando aprovado, garantirá, se não o fim da violência, ao menos a investigação da causa das mortes.

“O projeto pode ser visto como essencial para a preservação da legitimidade das instituições perante a população e abre a perspectiva de controle social para qualquer órgão público. Qualquer uso de violência pela autoridade policial terá de ser apurado. Isso vai permitir que a população separe uma minoria de funcionários de uma maioria que executa sua função adequadamente”, explica Pereira.

Acesso à Justiça
Diversas ações estão sendo voltadas para mudar a realidade social do negro no Brasil e emancipá-lo com os mesmos direitos e espaços na sociedade e no âmbito do poder. Nesse aspecto, é importante que esse segmento tenha seus direitos garantidos, principalmente nos casos de violência.

O Protocolo de Atuação para a Redução da Barreira de Acesso à Justiça para a Juventude Negra em Situação de Violência foi assinado entre o Ministério da Justiça e a Presidência da República em outubro e, agora, estimula-se também a adesão dos estados e municípios.

“Não bastam as políticas afirmativas de garantia de inclusão dos negros na sociedade, precisamos também ter ações que operem para alterar os mecanismos que o racismo produz e interditam a ascensão das pessoas negras”, afirma o coordenador Freitas.

Para a coordenadora da SNJ estamos diante de um problema urgente que precisa ser enfrentado por toda a sociedade. “A privação à vida é uma das maiores violências que um ser humano pode passar. Esse não é um problema da juventude, é um problema da sociedade brasileira, que infelizmente se revela, em sua parte mais perversa, contra a juventude negra que está morrendo. Não podemos mais não olhar para esse fato”, conclui Fernanda Papa.
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Museu do Índio e violência da PM

Do jornal Brasil de Fato:

A Tropa de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro usou de violência para despejar cerca de 40 indígenas e manifestantes que ocuparam o prédio do antigo Museu do Índio, ao lado do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, na zona norte do Rio.

A reintegração, que ocorreu na manhã desta segunda-feira (16), terminou com dezenas de feridos e 25 ativistas detidos. Crianças e uma gestante também foram agredidas pela polícia. Um indígena da tribo Guajajara resistiu à ordem de desocupação da PM e subiu em uma árvore próxima ao museu.

No final de semana, o espaço abrigou o 1º Encontro da Frente Independente Popular. Durante o evento, indígenas ocuparam o prédio anexo que pertence ao Ministério da Agricultura e, em seguida, PMs cercaram o local ameaçando desocupar ambos os imóveis.

O governo do estado divulgou nota na manhã de hoje reiterando que o prédio do antigo Museu do Índio não será derrubado e sim transformado em um Centro de Referência das Culturas Indígenas. Já o prédio que abrigou o antigo Laboratório Nacional Agropecuário do Ministério da Agricultura e que foi ocupado pelos índios no domingo, será mesmo.

Em março deste ano, os indígenas que ocupavam o prédio desde 2006 foram retirados com forte aparato policial, gás lacrimogêneo e balas de borracha. O local ficou conhecido como "Aldeia Maracanã". Inicialmente, o prédio seria demolido para a construção de um estacionamento e de um shopping que faziam parte do projeto do novo Maracanã. demolido.
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Coca-Cola e os índios brasileiros

Do sítio da Adital:

Os índios guaranis do Brasil vem solicitando à Coca-Cola que deixe de comprar açúcar da gigante do agronegócio dos Estados Unidos (EUA), Bunge, que está envolvida em um escândalo de apropriação de terras.

Um informe recente, da Oxfam, revela que a Coca-Cola está adquirindo açúcar da empresa Bunge, que por sua vez compra cana de açúcar de terras roubadas dos guaranis para produzir biocombustíveis "manchados com sangue indígena”.

Um porta-voz dos índios declarou à Survival Internacional: "A Coca-Cola deve deixar de comprar açúcar da Bunge. Enquanto essas empresas se beneficiam, nós nos vemos forçados a conviver com a fome, miséria e assassinatos”.

Os 370 guaranis da comunidade de Jata Yvary, no estado brasileiro do Mato Grosso do Sul vem perdendo a maior parte de suas terras ancestrais para as plantações que vendem cana de açúcar para a Bunge, e estão condenados a viver em uma diminuta parcela de terra completamente ilhada por essas plantações.

Os índios padecem de problemas graves de saúde como resultado do uso dos pesticidas nas plantações. Eles lamentam a perda de sua florestas, de onde obtinham alimentos, plantas medicinais e refúgio.

Arlindo, líder de Jata Yvary, explica em um lamento emocionante: "(Os proprietários de terras) estão destruindo quase tudo, nossa fruta nativa, nossos recursos. Espalham pesticidas de aviões. As crianças ficam com dor de cabeça e vomitam”.

Os guaranis são o outro lado da crescente demanda mundial de biocombustíveis. A maior parte da terra das tribos foram roubadas e ocupadas por proprietários de terra poderosos, que utilizam como pasto para o gado e para a produção de soja e cana de açúcar.

Os líderes guaranis estão sendo perseguidos e assassinados sistematicamente enquanto lutam por seus direitos territoriais. A situação desesperadora que atravessa a tribo levou muitos de seus integrantes a se suicidarem: há registros de uma taxa de suicídio 34 vezes superior à média nacional do Brasil.

Ambrósio Vilhava, guarani conhecido internacionalmente por sua interpretação no premiado filme Birdwatchers, que mostra a situação dos índios guaranis, foi o último líder assassinado.

A Coca-Cola se comprometeu recentemente com a política de tolerância zero da Oxfam, diante da acumulação de terras e a "reconhecer e preservar os direitos das comunidades e povos tradicionais para manter o acessoa à terra e aos recursos naturais”.

A Survival pediu à Bunge para que deixe de comprar cana de açúcar procedente das terras guaranis, se comunicou com a Coca-Cola e pediu, repetidamente, às autoridades brasileiras para que demarquem a terra guarani com a máxima urgência, antes da Copa do Mundo de 2014.

Stephen Corry, diretor da Survival Internacional, declarou hoje que: "As empresas multinacionais são mestres em desviar as críticas com promessas de mudanças, mas sua política não serve de nada quando esta não é acompanhada de ações concretas. Para levar a sério o compromisso da Coca-Cola, a empresa deve deixar de comprar açúcar proveniente da Bunge. Enquanto o acordo com essa empresa perdurar, a promessa da Coca-Cola contra a acumulação de terras não tem sentido”.
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Dia da Inconsciência Branca

Ilustração de Fabiano Fabricio Cordeiro
Por Frei Betto, no sítio da Adital:

Por ser data de comemoração de Zumbi dos Palmares (1655-1695), último líder heroico do mais importante quilombo brasileiro, 20 de novembro é dedicada à Consciência Negra. É também Dia da Inconsciência Branca. Foram as armas que deram aos colonizadores europeus o poder opressor sobre as nações da África negra. Em nome de Deus e de um projeto civilizatório, invadiram o continente africano e submeteram o seu povo ao jugo da escravidão.


Obrigado a aceitar o batismo cristão, a marca do sacramento era gravada nas peles negras a ferro e fogo. O propósito, livrá-los, após esta vida, das chamas eternas do Inferno, por culpa de suas crenças animistas e rituais eróticos. Destinava-os, porém, nesta Terra, ao suplício do trabalho árduo, das sevícias, das chibatas, das torturas e da morte atroz.

De tal arrogância se nutria a inconsciência branca que, ao qualificar de raça a mera diferença de coloração epidérmica, elevou-a à categoria de pretensa ciência. Buscou-se na Bíblia a caricatura de um deus maldito que, após o Dilúvio Universal, teria criado a descendência negra da Cam (Cão), um dos filhos de Noé.

No Brasil, o preconceito à negritude deita raízes na mais longa história de escravidão das três Américas: 350 anos! Ainda que, hoje, nossas leis condenem a discriminação, sabem os negros que, aqui, eles são duplamente discriminados: por serem negros e pobres. Ao escravo liberto se negou o acesso à terra, que ele tão bem sabia cultivar.

Impediu-se ainda o acesso à carreira eclesiástica, aos quartéis (exceto como soldado e bucha de canhão na guerra do Brasil contra o Paraguai), às escolas particulares.

Na década de 1950, no Colégio Dom Silvério, em Belo Horizonte, ouvi irmão Caetano Maria, procedente de Angola, apregoar na sala de aula que negros eram inaptos à matemática e às ciências abstratas, vocacionados à música e aos trabalhos manuais...

A inconsciência branca viceja, ainda hoje, na promoção turística da mulata carnavalesca, ela sim liberada, por leis e censores, a exibir em público seu corpo nu.

É a inconsciência branca que protesta contra o direito de cotas para negros nas universidades; encara com suspeita o negro encontrado em espaços predominantemente ocupados por brancos; induz a polícia a expor garras ferozes ao revistar jovens negros.

O profetismo heroico de Zumbi, Mandela, Luther King e tantos outros, ainda não logrou descontaminar nossa cultura do ranço do preconceito e da discriminação. Quantos executivos negros ocupam cargos de direção em nossas empresas? Apenas 5,3%. Quantos garçons e chefs de cozinha? Quantos apresentadores de TV e animadores de auditório?

A violência com que médicos brasileiros, todos brancos, submeteram, em Fortaleza, "ao corredor polonês da xenofobia” – na expressão do ministro Padilha, da Saúde - o médico cubano Juan Delgado, um negro, a quem a presidente Dilma pediu desculpas em nome do povo brasileiro, bem comprova a inconsciência branca.

Esta inconsciência também adota o preconceito às avessas. Festejou-se a eleição de Obama, o primeiro negro na Casa Branca, como uma pá de piche (cal é branco...) na política terrorista do presidente Bush.

Esqueceu-se que Obama, antes de ser negro, é estadunidense, convencido do direito (divino?) de supremacia dos EUA sobre as demais nações do mundo.

Por que haveria ele de pedir desculpas por espionar a presidente Dilma se não está disposto a abdicar dessa violação? Obama é tão guerreiro e cínico quanto Bush.

Com frequência vemos o preconceito às avessas expressar-se na negação da negritude, como se ela fosse um estigma, através de eufemismos como afrodescendente. Sou branco, embora traga nas veias sangue indígena e negro, e nunca me chamaram de iberodescendente ou eurodescendente.

A data de 20 de novembro deveria ser comemorada nas escolas com lições históricas sobre o preconceito e discriminação, e depoimentos de negros. De nossa população carcerária, hoje beirando 500 mil detentos, 74% são negros. Nos EUA, de cada 11 presos, apenas 1 é branco.

Só a Consciência Negra é capaz de combater a inconsciência branca e despertá-la, tornando hediondos todos os crimes de preconceito e discriminação.
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Darcy Ribeiro e o racismo no Brasil

Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:

Uma das maiores balelas do discurso anti-cotas no Brasil é que as políticas de ação afirmativa não se justificam porque “todos são iguais perante à lei”. Iguais como, se uns saíram na frente, com séculos de vantagem, em relação ao outro? As cotas vieram justamente para ser uma ponte sobre o fosso histórico entre negros e brancos. Para dar aos negros condições de alcançarem mais rápido esta “igualdade” que alguns insistem que já existe.


Ninguém melhor do que o antropólogo Darcy Ribeiro, grande inspirador deste blog, para explicar como esta “igualdade” de condição nada mais é do que uma falácia por parte de quem, no fundo, deseja perpetuar as desigualdades raciais em nosso país. Os trechos que selecionei são do livro O Povo Brasileiro (Companhia das Letras), cuja leitura recomendo fortemente. Deveria ser obrigatório em todas as escolas. Atentem para um detalhe: reconheçam no texto de Darcy os futuros meninos de rua. (Leia também o texto que postei ano passado, aqui.)

E viva o Dia da Consciência Negra!

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Por Darcy Ribeiro

CLASSE E RAÇA

A distância social mais espantosa no Brasil é a que separa e opõe os pobres dos ricos. A ela se soma, porém, a discriminação que pesa sobre negros, mulatos e índios, sobretudo os primeiros.

Entretanto, a rebeldia negra é muito menor e menos agressiva do que deveria ser. Não foi assim no passado. As lutas mais longas e cruentas que se travaram no Brasil foram a resistência indígena secular e a luta dos negros contra a escravidão, que duraram os séculos do escravismo. Tendo início quando começou o tráfico, só se encerrou com a abolição.

Sua forma era principalmente a da fuga, para a resistência e para a reconstituição de sua vida em liberdade nas comunidades solidárias dos quilombos, que se multiplicaram aos milhares. Eram formações protobrasileiras, porque o quilombola era um negro já aculturado, sabendo sobreviver na natureza brasileira, e, também, porque lhe seria impossível reconstituir as formas de vida da África. Seu drama era a situação paradoxal de quem pode ganhar mil batalhas sem vencer a guerra, mas não pode perder nenhuma. Isso foi o que sucedeu com todos os quilombos, inclusive com o principal deles, Palmares, que resistiu por mais de um século, mas afinal caiu, arrasado, e teve o seu povo vendido, aos lotes, para o sul e para o Caribe.

Mas a luta mais árdua do negro africano e de seus descendentes brasileiros foi, ainda é, a conquista de um lugar e de um papel de participante legítimo na sociedade nacional. Nela se viu incorporado à força. Ajudou a construí-la e, nesse esforço, se desfez, mas, ao fim, só nela sabia viver, em função de sua total desafricanização. A primeira tarefa do negro brasileiro foi a de aprender a falar o português que ouvia nos berros do capataz. Teve de fazê-lo para poder comunicar-se com seus companheiros de desterro, oriundos de diferentes povos. Fazendo-o, se reumanizou, começando a sair da condição de bem semovente, mero animal ou força energética para o trabalho. Conseguindo miraculosamente dominar a nova língua, não só a refez, emprestando singularidade ao português do Brasil, mas também possibilitou sua difusão por todo o território, uma vez que nas outras áreas se falava principalmente a língua dos índios, o tupi-guarani.

Calculo que o Brasil, no seu fazimento, gastou cerca de 12 milhões de negros, desgastados como a principal força de trabalho de tudo o que se produziu aqui e de tudo que aqui se edificou. Ao fim do período colonial, constituía uma das maiores massas negras do mundo moderno. Sua abolição, a mais tardia da história, foi a causa principal da queda do Império e da proclamação da República. Mas as classes dominantes reestruturaram eficazmente seu sistema de recrutamento da força de trabalho, substituindo a mão de obra escrava por imigrantes importados da Europa, cuja população se tornara excedente e exportável a baixo preço.

(…)

O negro, sentindo-se aliviado da brutalidade que o mantinha trabalhando no eito, sob a mais dura repressão –inclusive as punições preventivas, que não castigavam culpas ou preguiças, mas só visavam dissuadir o negro de fugir– só queria a liberdade. Em consequência, os ex-escravos abandonam as fazendas em que labutavam, ganham as estradas à procura de terrenos baldios em que pudessem acampar, para viverem livres como se estivessem nos quilombos, plantando milho e mandioca para comer. Caíram, então, em tal condição de miserabilidade que a população negra reduziu-se substancialmente. Menos pela supressão da importação anual de novas massas de escravos para repor o estoque, porque essas já vinham diminuindo há décadas. muito mais pela terrível miséria a que foram atirados. não podiam estar em lugar algum, porque cada vez que acampavam, os fazendeiros vizinhos se organizavam e convocavam forças policiais para expulsá-los, uma vez que toda a terra estava possuída e, saindo de uma fazenda, se caía fatalmente em outra.

As atuais classes dominantes brasileiras, feitas de filhos e netos de antigos senhores de escravos, guardam, diante do negro, a mesma atitude de desprezo vil. Para seus pais, o negro escravo, o forro, bem como o mulato, eram mera força energética, como um saco de carvão, que desgastado era facilmente substituído por outro que se comprava. Para seus descendentes, o negro livre, o mulato e o branco pobre são também o que há de mais reles, pela preguiça, pela ignorância, pela criminalidade inatas e inelutáveis. Todos eles são tidos consensualmente como culpados de suas próprias desgraças, explicadas como características da raça e não como resultado da escravidão e da opressão. Essa visão deformada é assimilada também pelos mulatos e até pelos negros que conseguem ascender socialmente, os quais se somam ao contingente branco para discriminar o negro-massa.

A nação brasileira, comandada por gente dessa mentalidade, nunca fez nada pela massa negra que a construíra. Negou-lhe a posse de qualquer pedaço de terra para viver e cultivar, de escolas em que pudesse educar seus filhos, de qualquer ordem de assistência. Só lhes deu, sobejamente, discriminação e repressão. Grande parte desses negros dirigiu-se às cidades, onde encontraram, originalmente, os chamados bairros africanos, que deram lugar às favelas. Desde então, elas vêm se multiplicando, como a solução que o pobre encontra para morar e conviver. Sempre debaixo da permanente ameaça de serem erradicados e expulsos.

(…)

BRANCOS VERSUS NEGROS

Examinando a carreira do negro no Brasil, se verifica que, introduzido como escravo, ele foi desde o primeiro momento chamado à execução das tarefas mais duras, como mão-de-obra fundamental de todos os setores produtivos. Tratado como besta de carga exaurida no trabalho, na qualidade de mero investimento destinado a produzir o máximo de lucros, enfrentava precaríssimas condições de sobrevivência. Ascendendo à condição de trabalhador livre, antes ou depois da abolição, o negro se via jungido a novas formas de exploração que, embora melhores que a escravidão, só lhe permitiam integrar-se na sociedade e no mundo cultural, que se tornaram seus, na condição de um subproletariado compelido ao exercício de seu antigo papel, que continua sendo principalmente o de animal de serviço.

Enquanto escravo poderia algum proprietário previdente ponderar, talvez, que resultaria mais econômico manter suas “peças” nutridas para tirar delas, a longo termo, maior proveito. Ocorreria, mesmo, que um negro desgastado no eito tivesse oportunidade de envelhecer num canto da propriedade, vivendo do produto de sua própria roça, devotado a tarefas mais leves requeridas pela fazenda. Liberto, porém, já não sendo de ninguém, se encontrava só e hostilizado, contando apenas com sua força de trabalho, num mundo em que a terra e tudo o mais continuava apropriada. Tinha de sujeitar-se, assim, a uma exploração que não era maior que dantes, porque isso seria impraticável, mas era agora absolutamente desinteressada do seu destino. Nessas condições, o negro forro, que alcançara de algum modo certo vigor físico, poderia, só por isso, sendo mais apreciado como trabalhador, fixar-se nalguma fazenda, ali podendo viver e reproduzir. O débil, o enfermo, o precocemente envelhecido no trabalho, era simplesmente enxotado como coisa imprestável.

Depois da primeira lei abolicionista –a Lei do Ventre Livre, que liberta o filho da negra escrava–, nas áreas de maior concentração da escravaria, os fazendeiros mandavam abandonar, nas estradas e nas vilas próximas, as crias de suas negras que, já não sendo coisas suas, não se sentiam mais na obrigação de alimentar. Nos anos seguintes à Lei do Ventre Livre (1871), fundaram-se nas vilas e cidades do Estado de São Paulo dezenas de asilos para acolher essas crianças, atiradas fora pelos fazendeiros. Após a abolição, à saída dos negros de trabalho que não mais queriam servir aos antigos senhores, seguiu-se a expulsão dos negros velhos e enfermos das fazendas. Numerosos grupos de negros concentraram-se, então, à entrada das vilas e cidades, nas condições mais precárias. Para escapar a essa liberdade famélica é que começaram a se deixar aliciar para o trabalho sob as condições ditadas pelo latifúndio.

Com o desenvolvimento posterior da economia agrícola de exportação e a superação consequente da auto-suficiência das fazendas, que passaram a concentrar-se nas lavouras comerciais (sobretudo no cultivo do café, do algodão e, depois, no plantio de pastagens artificiais), outros contingentes de trabalhadores e agregados foram expulsos para engrossar a massa da população residual das vilas. Era agora constituída não apenas de negros, mas também de pardos e brancos pobres, confundidos todos como massa dos trabalhadores “livres” do eito, aliciáveis para as fainas que requeressem mão-de-obra. Essa humanidade detritária predominantemente negra e mulata pode ser vista, ainda hoje, junto aos conglomerados urbanos, em todas as áreas do latifúndio, formada por braceiros estacionais, mendigos, biscateiros, domésticas, cegos, aleijados, enfermos, amontoados em casebres miseráveis. Os mais velhos, já desgastados no trabalho agrícola e na vida azarosa, cuidam das crianças, ainda não amadurecidas para nele engajar-se.

(…)

Assim, o alargamento das bases da sociedade, auspiciado pela industrialização, ameaça não romper com a superconcentração da riqueza, do poder e do prestígio monopolizado pelo branco, em virtude da atuação de pautas diferenciadoras só explicadas historicamente, tais como: a emergência recente do negro da condição escrava à de trabalhador livre; uma efetiva condição de inferioridade, produzida pelo tratamento opressivo que o negro suportou por séculos sem nenhuma satisfação compensatória; a manutenção de critérios racialmente discriminatórios que, obstaculizando sua ascensão à simples condição de gente comum, igual a todos os demais, tornou mais difícil para ele obter educação e incorporar-se na força de trabalho dos setores modernizados. As taxas de analfabetismo, de criminalidade e de mortalidade dos negros são, por isso, as mais elevadas, refletindo o fracasso da sociedade brasileira em cumprir, na prática, seu ideal professado de uma democracia racial que integrasse o negro na condição de cidadão indiferenciado dos demais.

Florestan Fernandes assinala que “enquanto não alcançarmos esse objetivo, não teremos uma democracia racial e tampouco uma democracia. Por um paradoxo da história, o negro converteu-se, em nossa era, na pedra de toque da nossa capacidade de forjar nos trópicos esse suporte da civilização moderna”.
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A tropa de choque do reitor da USP

Do sítio da União Nacional dos Estudantes (UNE):

A Tropa de Choque em mais uma ação desproporcional que coloca a educação como “caso de polícia” cumpriu a ordem de reintegração de posse da reitoria da Universidade de São Paulo (USP) na manhã desta terça-feira (12/11). O prédio estava ocupado pelo movimento que pede democracia na USP desde o dia 1º de outubro. Dois estudantes da instituição estão presos.

A presidenta da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP), Carina Vitral, está no momento junto com o DCE Livre da USP na porta do 91° DP – Distrito Policial de Ceagesp, na região Oeste da capital, para exigir a libertação imediata dos estudantes. “Mais uma vez [João Grandino] Rodas segue a via da truculência e executa a reintegração. Com ele não há diálogo. Dois estudantes foram presos e integrantes do DCE estão sendo perseguidos. Não vamos aceitar a criminalização do movimento estudantil em São Paulo”, afirmou. De acordo com Vitral, os estudantes estão sendo incriminados por formação de quadrilha e danos ao patrimônio entre outros crimes.

A decisão autoritária da reitoria da instituição, em acionar e incentivar a força bruta ao invés de promover o diálogo dá a dimensão de qual tem sido a relação da gestão de João Grandino Rodas com a comunidade acadêmica. “É lamentável e inadmissível que a direção de uma instituição respeitada internacionalmente trate a educação como ‘caso de polícia’”, destacou a presidenta da UNE, Vic Barros.

“A reintegração de posse foi negada duas vezes pela Justiça, em uma decisão histórica que exigia da reitoria mais diálogo com os estudantes. Como em toda ordem democrática, abriu-se um canal de negociação. No entanto, a direção da USP colocou sobre a mesa, ao invés de propostas, um mandato de segurança”, disse o diretor da UNE e integrante do DCE da USP, Thiago Aguiar.

A Justiça determinou a reintegração de posse na segunda-feira (4/11), e em assembleia na quarta-feira, (6), os alunos decidiram permanecer no prédio. A ocupação legítima da reitoria formou amplo movimento em torno de uma pauta comum que exige mais democracia dentro da universidade com eleições diretas aos cargos de reitor e vice-reitor, votação paritária entre as três categorias – alunos, funcionários e professores – e o fim da lista tríplice, que confere ao governador do Estado a escolha final do ocupante da reitoria.

Em sua página oficial no Facebook, o DCE Livre da USP informou sobre a mudança no local da manifestação desta terça-feira. O grupo de alunos está concentrado, na frente do 91º Distrito Policial onde os dois estudantes estão detidos. O ato havia sido marcado na Praça do Ciclista, na Avenida Paulista.
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Dieese confirma racismo que Kamel nega

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Através do Viomundo, chega o anúncio de que o Departamento Intersindical de Estudos Econômicos, que todo mundo conhece pela sigla Dieese, lança na quarta-feira um estudo sobre o tratamento inferior que os negros continuam recebendo no mercado de trabalho.




Embora o quadro seja muito melhor do que há anos atrás, as desigualdades persistem e nada tem a ver com o grau de educação: mesmo com nível superior, os negros ganham apenas 60% dos não-negros com a mesma formação.

É o contrário da “tese” do diretor da Globo, Ali Kamel, que em seu livro “Não somos racistas” se insurge contra ações afirmativas, dizendo que apenas o atraso da pobreza discrimina, e a negros e brancos. Claro que é verdade, mas não é toda a verdade. É, portanto, como mostram os números do Dieese, falso.

Veja o resumo do trabalho:

O estudo “Os negros nos mercados de trabalho metropolitanos” destaca que:

– Nas áreas metropolitanas, os negros correspondem a 48,2% dos ocupados, mas, em média, recebem por seu trabalho 63,9% do que recebem os não negros;

– A desvantagem registrada entre a remuneração de negros e não negros é pouco influenciada pela região analisada, horas trabalhadas ou setor de atividade da economia, ou seja, em qualquer perspectiva, os negros ganham menos do que os brancos;

– À medida que acrescentam anos de estudo a sua formação, pretos e pardos melhoram suas condições de remuneração, mas é nos patamares de maior escolaridade que se constatam as discrepâncias mais acentuadas de rendimentos entre negros e não negros;

– Na indústria metropolitana, o confronto de rendimentos-hora de trabalhadores com ensino superior completo indica que, em média, os ganhos dos negros ficam em R$ 17,39, enquanto os dos não negros ficam na ordem de R$ 29,03.

– Os negros ocupam os grupos ocupacionais de menor prestigio e valorização: Na RMSP, enquanto 18,1% dos ocupados não negros alcançam cargos de Direção e Planejamento, apenas 3,7% dos negros chegam lá.
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"Por que o senhor atirou em mim?"

Do sítio Vermelho:

Diversas organizações do movimento negro promovem, na quarta-feira (13), às 18 horas, o ato “Por que o senhor atirou em mim?” contra o genocídio da juventude negra. A frase foi a última dita por Douglas Rodrigues, um jovem de 17 anos morto pelo policial militar Luciano Pires, de 31 anos, na Vila Medeiros, zona norte de São Paulo, na tarde de domingo (27/10), com uma bala no peito.

Travestida de acidente, a violência policial é dirigida. Tem cor e endereço, assim como Douglas, são jovens negros e de periferias. Em 2010, 49.932 pessoas foram vítimas de homicídio no Brasil. Destas, 70,6% eram negras. Só na cidade de São Paulo, 624 jovens foram vítimas de homicídio em 2011, sendo 57% formada por negros.

O ato tem concentração às 18 horas em frente da Escola Estadual Professor Victor dos Santos Cunha, na Rua João Simão de Castro, 280, na Vila Sabrina.

"Parece que em São Paulo, ser pobre, negro e morador de periferia é crime punido com pena de morte. Mas, o Brasil não tem pena de morte e mesmo assim só a PM de SP mata mais do que a dos EUA", diz um trecho do texto da convocação da atividade que questiona: "A Polícia Militar obedece a um comando, que obedece a um Secretário que é subordinado a um Governador. Quem vai responder por tantos mortos?"

Entre as organizações presentes no evento estão: Unegro, Mães de Maio, Uneafro Brasil,
Articulação Política das Juventudes Negras, Levante Popular da Juventude, Coletivo Arrua, Bocada Forte Hip Hop, entre outros.

Desmilitarização
Uma das propostas defendidas durante o ato será a desmilitarização da Polícia Militar, cujos integrantes atualmente não respondem como civis. Se cometem crimes, eles são submetidos a um tribunal especial, o Tribunal Militar. De acordo com dados divulgados na página da campanha de mesmo nome - "Campanha Por que o senhor atirou em mim?" -, os próprios policiais concordam: 70% dos soldados, cabos, sargentos e subtenentes da Polícia Militar são a favor da desmilitarização. Entre os oficiais, 54% são a favor de transformações do modelo atual.
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Por que o senhor atirou em mim?


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Minhocas acham tudo normal

Por Vito Giannotti, no jornal Brasil de Fato:

Começa mais um ano: calor, cerveja, carnaval, futebol, novela, big brother e até o papa virá ... Tudo normal. Tudo normal, não! Para os conservadores pode até estar tudo certo. Para os revolucionários, não. Se os primeiros continuam achando, como sempre acharam , que nada é possível mudar porque a eles interessa que nada mude, para nós o Ano Novo traz a brisa que nos incentiva a lutar por um novo mundo, um novo sistema.

O pensamento conservador permeia a sociedade e faz com que muitos reproduzam esta forma de ver o mundo. Por isso, é comum ouvirmos o trabalhador mais simples, a quem mais interessam as mudanças, dizer nos elevadores dos prédios das cidades: “É assim mesmo; sempre foi assim. Fazer o quê?” O pensamento conservador faz com que as pessoas aceitem tudo como está. “Não precisa mudar”. “Não dá para mudar”.

O revolucionário, por sua vez, não aceita nada como definitivo, imutável, “imexível”. Indigna-se com quase tudo e se dispõe a combater o que considera errado. Muitos alimentam-se desta passagem dos anos para se perguntar: “O que dá para mudar? O que precisa mudar? O que fazer?”

Primeiro passo: abrir os olhos

Há dois grupos de jovens cariocas, um de funk, outro de rap, que adoro. O MC Leonardo canta um funk com um refrão muito explícito: “Tá tudo errado! Tá tudo errado!”. O Bonde da Cultura, grupo de jovens revolucionários, num de seus raps, repete mais dez vezes: “Vamos derrubar o sistema”.

É... mas para derrubar o sistema e construir outro é preciso estar informado, de tudo. Saber quantos pobres, pretos, favelados foram assassinados na noite de Natal pela polícia a serviço do sistema. Não basta saber que a Índia é campeã mundial de hanseníase, isto é, lepra. É preciso saber que o Maranhão supera o índice da Índia e que aqui no Rio, no coração das futuras Olimpíadas, há o município de São João de Merití que supera o índice do Maranhão.

Na Venezuela de Chávez não há mais analfabetismo. O mesmo na Bolívia com Evo Morales. E aqui no nosso país, quantos analfabetos há? Analfabetismo não é normal. Conviver com o racismo e o preconceito racial tão caro à elite escravagista que sempre controlou o nosso país, não é normal.

E desde quando é normal o salário mínimo ser dos mais baixos da América Latina e a mídia, capitaneada pelo jornal O Globo reclamar de um aumento de R$ 4 além do valor estabelecido pelo governo, em 2012, para 2013?

Não é normal. Assim como não é normal não ter nenhum torturador da Ditadura de 1964 presos quando há generais ex-presidentes presos na Argentina, Uruguai e Chile.

Segundo passo: se organizar

Ter consciência é mesmo o primeiro passo. O seguinte é se juntar às organizações existentes ou criar novas: partidos, sindicatos, centrais, associações, uniões de jovens, de velhos, de rebeldes, de todo tipo de inconformados e forçar mudanças, de mil formas.

Mudanças na vida prática, nas leis e na visão de mundo de milhares e milhares. Para isso, precisa fazer mil coisas. Uma das principais é criar nossos canais de comunicação. Sim, criar nossa mídia, cada vez melhor e mais forte.

O ano de 2013 está aqui. Vamos domá-lo, que nem um cavalo bravo!

Mãos à obra. Brasil de Fato faz 10 anos. Parabéns! Vamos potencializá-lo, e que mais 10 conjuntos de comunicação de esquerda nasçam neste 2013.
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Tuitaço: #MexeuComLulaMexeuComigo

Do sítio da União da Juventude Socialista (UJS):

Desde o julgamento da ação penal 470, em que a mídia/tucanato, tentou a todo custo impor uma derrota as forças de esquerda, iniciou-se uma nova ofensiva contra o ex-presidente Lula e seu legado de transformações sociais profundas.

A ação coordenada pela direita, mídia e capital financeiro ficaram nítidas nos últimos dias, primeiro, depois de sucessivos cortes na taxa de juros, o The Economist pede a cabeça do ministro da fazenda, pressionando desta maneira a presidenta Dilma a mudar o rumo da política econômica. Não nos enganamos quanto a esta opinião, não passa de uma encomenda, de dentro para fora, não à toa o presidente Lula criticou os banqueiros em seminário sobre desenvolvimento na França, “são eles (banqueiros) que pagam as propagandas que saem lá”, referindo-se aos grandes meio de comunicação.

Se de um lado é preciso provar que a política econômica do governo Lula/Dilma é um fracasso, é preciso também desgastar a imagem do ex-presidente Lula, pois, sua alta popularidade, respeito e admiração que tem o povo brasileiro por sua trajetória de vida, constituem uma barreira intransponível para o retorno das forças reacionárias a presidência da república.

O depoimento de Marcos Valério, estranhamente vazado da Procuradoria Geral, é consequência do desespero do empresário pela condenação que sofreu no STF. Desesperada também está a direita golpista, que mesmo com todas o espetáculo armado pela grande imprensa na ação penal 470, amargou fracassos nas eleições municipais, sendo derrotada no seu ninho e maior cidade do Brasil, a cidade de São Paulo.

É por isso que se apegam a acusações sem nenhuma credibilidade, que tenta manchar a imagem do ex-operário, que não tendo ensino superior construiu 14 universidades públicas, colocou mais de 1 milhão de jovens no ensino superior através do Prouni, construiu 224 escolas técnicas, retirou cerca de 30 milhões de pessoas da miséria, e continua atuando politicamente para que o projeto democrático e popular eleito em 2002 avance.

A União da Juventude Socialista nunca se furtou às grandes batalhas, foi assim em 2005 quando convocamos, pela segunda vez na história, o movimento dos caras pintadas e dissemos “Fica Lula".

As mesmas forças com os mesmos objetivos de 2005 se assanham novamente. Estamos atentos e mobilizados, nas redes e nas ruas, para defender as conquistas do povo brasileiro! Junte-se a nós e participe do tuitaço #MexeuComLulaMexeuComigo.

Serviço:

Tuitaço: #MexeuComLulaMexeuComigo

Quando: 14/12

Horário: 12h00 (horário de Brasília)
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Números da violência contra a mulher

Por Maíra Gomes, no jornal Brasil de Fato:

Ana Cristina Vieira do Amarante, 39 anos, foi assassinada com três tiros à queima-roupa pelo marido.

Rosiane Borges Carvalho, 22 anos, foi assassinada pelo ex-marido a tiros dentro de um ônibus.

Regina Bastos Miranda, 36 anos, foi assassinada a golpes de faca e de pau pelo companheiro.

Maria Aparecida da Cunha Freitas, 37 anos, foi assassinada a golpes de foice pelo marido.

Ana Maria dos Santos, grávida de oito meses, foi torturada e assassinada. O suspeito do crime é o homem de quem ela estava grávida.

Cintia Lívia, 12 anos, foi assassinada por um vizinho após tentar estuprá-la.

Mulher de 42 anos foi morta em um incêndio provocado pelo marido na casa do casal. Os filhos de 19 e 8 anos também morreram.

Patrícia Carmo Torres dos Reis, 25 anos, foi assassinada a facadas pelo marido.

Natália dos Santos Vitorina, 13 anos, grávida, foi assassinada pelo namorado a facadas.

Juliana foi assassinada a golpes de pedra, pedaços de madeira e facadas pelo marido.

Maria do Carmo Santos, 17 anos, grávida de 5 meses, foi assassinada pelo namorado com um tiro na boca.

Luciene de Azevedo Jardim, 43 anos, morreu em cirurgia após ser atingida por cinco tiros pelo ex-marido.

Noêmia de Souza Pereira foi assassinada a facadas pelo companheiro.

A cada três minutos uma mulher é violentada no Brasil. Entre os anos de 1980 e 2010, foram assassinadas mais de 92 mil mulheres no país. Nos últimos dez anos, foram 43,7 mil assassinatos, representando um aumento de 230% em relação ao período anterior. Estes dados foram apresentados em agosto deste ano, com o Mapa da Violência – Homicídios de Mulheres no Brasil, um estudo do Centro Brasileiro de Estudos Latino- Americanos, Cebela, baseado em informações do Ministério da Saúde.

A militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Sofia Barbosa, acredita que a naturalização da violência é fator decisivo para o aumento. “Todos os dias vemos casos de extrema violência estampados nos jornais. A crueldade presente nestes crimes é chocante. E a população não se choca mais, pois é um item quase cotidiano na mídia. Além de ser abordado com naturalidade, não é destacado o machismo como causa. O resultado é que os crimes acabam entrando na consideração de violência passional, que é aquele que diz que o homem matou por amor demais ou coisa assim. Como se cada ação que a mulher fizesse justificasse ela ser morta, quando a gente sabe a causa é o machismo, que é fato de os homens acharem que as mulheres são objetos, que pertencem a eles”, aponta Sofia.

Exemplo

Um caso considerado emblemático pelas militantes da Marcha é do assassinato de Eliza Samudio, onde o principal suspeito é o goleiro Bruno Fernandes de Souza. Bernadete Monteiro, também membro da Marcha, diz que a punição dos assassinos é fundamental para a causa da violência contra as mulheres. “A mídia, como tem feito na maior parte dos casos, culpabiliza a mulher pela sua morte. Para nós, este é mais um caso de violência contra a mulher, mais um caso do machismo presente na vida das mulheres. Todos os envolvidos precisam ser responsabilizados e punidos. Não pode passar essa punição, pois se passar é mais uma perpetuação do machismo na nossa sociedade, é reforçar que a mulher é que gera a violência contra si”, afirma.

País machista

O Mapa da Violência apresenta dados específicos das causas e locais das mortes registradas em 2010, que totalizam 4.465 assassinatos de mulheres. Destes, 41% ocorreram dentro de casa, o que sinaliza a participação de familiares nas mortes. Os principais casos se concentram entre as idades de 15 e 39 anos. A feminista Sofia acredita que este dado não é coincidência. “Não dá para negar que a situação das mulheres é diferente de alguns anos atrás. Elas têm mesmo obtido mais espaço na sociedade. Mas o machismo também vai mudando de acordo com como a sociedade vai mudando”, pondera. Para ela, uma vez que a mulher tenta se libertar, vai trabalhar ou sair às ruas sem o parceiro, muitas vezes é recebida com a resposta da violência.

Segundo o relatório, entre os anos de 1996 e 2006 os índices de assassinatos de mulheres permaneceram razoavelmente estáveis. A também militante da Marcha Mundial das Mulheres, Deonara de Almeida, acredita que isso se deu devido a campanhas e mobilizações de movimentos sociais. “Na década de 1990, o movimento de mulheres teve uma questão forte de luta contra a violência às mulheres e foram menos os casos. O que precisamos hoje é criar novas campanhas e fortalecer a aplicação da Lei Maria da Penha”, aponta a feminista.

O relatório pode ser encontrado no site mapadaviolência.org.br.
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Niemeyer, um amigo do MST

Do sítio do MST:

Niemeyer foi um sábio, solidário e comunista!

O povo brasileiro e a humanidade perderam um de seus melhores amigos que viveu ao longo do seculo 20.

Niemeyer foi mais do que um arquiteto, foi um amante da vida e um incansável defensor da igualdade entre todos os seres humanos.

Era comunista, não por doutrina.

Mas porque acreditava que todos os seres humanos são iguais e que deveríamos ter as mesmas condições de vida.

Por isso, foi acima de tudo um companheiro de todos nós!

Desprezava os bens materiais que a classe dominante brasileira tanto idolatra e explora a milhões, para acumular cada vez mais...

Defendia e praticava os valores humanistas e, sobretudo, o da solidariedade, contra qualquer injustiça.

O MST tem um imenso orgulho de ter sido seu amigo, companheiro e ter recebido seu apoio.

Teremos nele, sempre, um exemplo de vida.

Grande Oscar, seguiremos te encontrando por aí... nas suas obras e lembranças!

* Direção Nacional do MST
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Niemeyer, transformador de horizonte

Do sítio da UNE:

A União Nacional dos Estudantes se despede de Oscar Niemeyer com a certeza de ter convivido, nas últimas décadas, com um dos brasileiros mais marcantes para a história da humanidade. Ao doar sua luta e seus traços para a UNE e para outras causas sociais às quais devotava-se, Oscar encontrou um equilíbrio entre arte e política, sonho e realidade, pensar e agir, talento e militância, sabendo exatamente a dimensão de seu legado para a transformação de todo um povo. Niemeyer foi mais que um arquiteto, Niemeyer foi, e continua sendo, um transformador de horizontes.

A UNE tem em Oscar Niemeyer seu patrono, seu professor, seu mestre. Recebeu dele, de forma voluntária, o projeto e as ideias para a reconstrução de sua sede na Praia do Flamengo 132, Rio de Janeiro, após ter sido incendiada e demolida pela ditadura civil-militar. O local, que fora tomado dos estudantes por décadas, recuperado recentemente e que agora tem suas obras em andamento, simboliza a esperança de tantos jovens que tiveram suas trajetórias brutalizada pelas perseguições, torturas e mortes de um período a ser devidamente superado.

Niemeyer e a UNE planejaram então erguer ali a “casa dos sonhos invencíveis”, um prédio que alcançasse altura ainda muito maior do que seus tantos andares, seu teatro, centro cultural e museu da juventude. Niemeyer pensou, na verdade, em um desafio rumo ao futuro. Completamente empenhado nessa ideia, reuniu-se inúmeras vezes com o movimento estudantil brasileiro como um companheiro, humilde e gigante, a quem a idade e diferença de gerações eram o que menos interessava. Niemeyer, aos 100 anos de idade, em 2007, doou aos estudantes o projeto da “casa do poder jovem”. Esteve também, há dois anos, no terreno da Praia do Flamengo, com o então presidente Lula, autoridades e representantes dos movimentos sociais para ser a presença mais aplaudida e reverenciada do ato de lançamento da pedra fundamental do novo prédio da UNE.

Oscar Niemeyer precisa ser eternizado como um ícone da juventude brasileira, uma referência de inovação não somente em concreto, mas também em atitude. Seu nome, seu rosto, suas ideias devem ser lembrados para ainda muito além de suas obras. Niemeyer é uma inquietação, um novo olhar, a realização de um plano ousado. Conseguiu vencer o tempo, representando um pensamento que não tem idade, pois está sempre pronto para renascer. Seu grande projeto ainda está em curso. É o projeto de um horizonte mais justo, igualitário, tolerante, inclusivo, positivo e – consequentemente – belo e libertario para quem o avista.

Os estudantes deste país possuem o indescritível orgulho de não somente aprender, mas também lutar ao lado de um de seus maiores professores.

União Nacional dos Estudantes
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Fórum defende sanções contra Israel

Por Leonardo Wexell Severo

Com o salão de atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul tomado por militantes dos cinco continentes, o Fórum Social Mundial Palestina Livre, que somou desde quarta-feira (28) mais de 300 organizações de 36 países em Porto Alegre, foi encerrado no final da tarde deste sábado (1) com uma conclamação para que sejam realizadas ações e campanhas de boicote, desinvestimento e sanções (BDS) contra a ocupação israelense, a fim de acelerar a concretização do Estado palestino.

O objetivo é tão claro como efetivo, frisou o herói judeu e ex-ministro de Nelson Mandela, Ronnie Kasrils: atingir a elite reacionária de Israel no bolso. “O exemplo que trazemos da nossa luta contra o apartheid na África do Sul é que precisamos atingir o inimigo onde dói mais. E o bolso, para eles, dói mais do que a cabeça”, declarou. Ronnie ressaltou que “ao mesmo tempo em que a resistência nos inspira a aumentar a campanha de boicote, desinvestimento e sanções, a campanha de BDS ampliará o isolamento da política de terrorismo de Estado israelense, inspirando a população palestina a fortalecer a resistência”. “Mandela sempre nos dizia: Nós da África do Sul só poderemos nos sentir livres quando o povo palestino seja livre. Agora vamos redobrar, triplicar os nossos esforços para que isso finalmente aconteça”, defendeu.

Conforme a italiana Maren Mantovani, relações internacionais do movimento palestino Stop the Wall, a campanha de BDS é chave para “atingir as empresas que estão apoiando financeiramente a expansão do muro do apartheid, roubando a água da população e metade da terra da Cisjordânia, e ainda produzindo armas para matar quem resiste”.
O muro de cerca de 850 quilômetros de extensão segue as fontes de água e as terras mais produtivas, ambas saqueadas dos palestinos, separando famílias e obrigando muitas crianças a caminharem horas para chegar na escola.
“Nós pagamos duas vezes o preço da água, que depois de nos ser roubada, nos é racionada, o que impede muitos cultivos. Enquanto isso, os colonos dos assentamentos ilegais, que ampliam a ocupação com o assalto às nossas terras, vivem em abundância, alguns com piscina em casa. Sem pressão internacional, crimes como estes continuarão ocorrendo”, esclareceu Jamal Juma, ativista do BDS que já foi preso por Israel acusado do crime de “plantar oliveiras” e liderar mobilizações contra o muro.
O secretário de Relações Internacionais da CUT, João Felício, que conheceu de perto a dura realidade vivida nos territórios palestinos ocupados, acredita que é insustentável países como o Brasil continuarem sendo um dos principais parceiros militares de Israel. “No caso das armas uma campanha de boicote tem muitas condições de se espraiar, pois se está alimentando os lucros de quem ganha com o crime”, avalia.
Em nome da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), Rosane Bertotti ressaltou o compromisso das organizações brasileiras de colocarem a campanha de boicote na agenda, “pois a mobilização popular em cada país tem papel decisivo para a derrota desta absurda e criminosa política de apartheid”.
Rosane leu na assembleia a carta em que o presidente Lula parabeniza os participantes do evento e manifesta sua esperança “de que o Fórum seja um instrumento de amplificação do chamado dos povos por uma paz justa e duradoura”. “Sempre estive ao lado da paz e do diálogo entre os povos e acredito no potencial extraordinário que se abriria no campo da justiça social e do desenvolvimento com a coexistência pacífica entre os dois Estados soberanos da Palestina e de Israel”.
Momentos antes da abertura, a ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, comemorou a “importante votação” na ONU em apoio ao Estado palestino e reiterou que o governo brasileiro prosseguirá lutando “contra todas as formas de violência, opressão e exploração”. “O Brasil acredita que é dessa forma que construiremos a paz, a solidariedade é a forma pela qual nos movemos no cenário internacional. Acreditamos, portanto, que o retorno do nosso País Conselho de Diretos Humanos das Nações Unidas vai atuar em conjunto com outros países pela construção de diretos do povo palestino, como compromisso mundial”, sublinhou.

Fórum vitorioso

“Fomos vitoriosos e derrotamos os inimigos da comunidade palestina, que pressionaram e tentaram desmobilizar o Fórum alegando que estavam vindo para Porto Alegre terroristas, gente que só queria violência. Foram quatro dias de intensos debates, com respeito e dignidade, coroados por uma marcha extraordinária de milhares de manifestantes”, comemorou o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo.
Representando a Marcha Mundial das Mulheres, Miriam Nobre declarou que o Fórum colocou em novo patamar a luta de solidariedade com o povo palestino, “que viu fortalecida a mobilização contra os abusos e crimes cometidos pelo Estado de Israel”. Entre outros abusos, várias representantes palestinas presentes apontaram a prisão de meninas menores de idade e a morte de mães e crianças nos mais de mil “postos de controle” que cerceiam a liberdade de ir e vir em território palestino. “Muitas mães sangram até morrer, com os soldados israelenses impedindo o seu deslocamento”, denunciaram.
Na avaliação de Joaquim Pinheiro, do MST, o Fórum serviu para trazer mais informações e dar a dimensão real do que significa a política de ocupação e segregação adotada pelos sionistas. “As organizações brasileiras cumpriram bem a tarefa pela qual tanto se empenharam. Esta é a semente de uma grande luta que culminará a nível internacional com a libertação do povo palestino”, disse.
Para a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP) e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, “falar da Palestina Livre hoje é uma questão de humanidade, deve ser responsabilidade de todos os povos do mundo”,
O Fórum contou com mais de 160 atividades desenvolvidas com os seguintes eixos temáticos: Autodeterminação e direito de retorno; Direitos humanos, direito internacional e julgamento de criminosos de guerra; Estratégia de luta e solidariedade – boicote, desinvestimento e sanções contra Israel; Por um mundo sem muros, bloqueios, discriminação racista e patriarcado; Resistência popular palestina e o apoio dos movimentos sociais.

Declaração final repudia agressão à Gaza

A declaração final do Fórum Social Mundial Palestina Livre e da assembleia dos movimentos sociais lembra que o processo de construção do evento “foi tristemente marcado pelo covarde ataque militar de Israel à Faixa de Gaza, que tirou a vida, até o momento, de 167 palestinos, em sua maioria mulheres e crianças”.
Desde Porto Alegre os movimentos sociais dos cinco continentes manifestaram seu “repúdio à agressão sionista e exigiram a condenação de mais este crime contra a humanidade patrocinado pelo governo de Israel”. “Manifestamos o nosso mais profundo sentimento de solidariedade à resistência contra a ocupação israelense, reafirmando o compromisso dos povos do mundo em tornar realidade o reconhecimento do estado palestino livre e soberano. Recebemos este reconhecimento pelas Nações Unidas com esperança em um futuro de paz. Este é um importante passo rumo à reparação de uma injustiça histórica contra a Palestina e a Humanidade”.
“Após intensos e frutíferos dias de debates e trocas de experiências”, os movimentos sociais reafirmaram os consensos do movimento internacional de solidariedade à Palestina em relação às ações e campanhas a serem desenvolvidas no próximo período. Já na próxima semana, na Cúpula do Mercosul em Brasília, as entidades levarão um documento solicitando dos governos o fim de qualquer acordo com o Estado de Israel.
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Desafio da qualidade no ensino superior

Por Virgínia Barros, no sítio da UNE:

Nos últimos anos, as grandes mobilizações do movimento estudantil universitário brasileiro se centraram de forma bastante acertada em bandeiras de luta relacionadas, em linhas gerais, a três desafios: financiamento da educação, democratização do acesso e permanência do estudante na universidade através das políticas de assistência estudantil. Todos estes temas são fundamentais para a transformação da instituição que temos hoje, mas, para além destes desafios, nós, estudantes, não nos esquivamos da luta pela superação de outros entraves políticos e acadêmicos que reproduzem na academia conteúdos de interesse prioritário de uma pequena elite.

O desafio maior é construir um novo modelo de universidade que contribua, em última instância, para a emancipação do homem. Não se trata de enxergá-la de forma idealizada ou como um instrumento de equalização social – transformar a universidade por si só não transforma a sociedade. Entretanto, superar o seu atual padrão de organização e conteúdo pode torná-la um dos elementos de avanço do país ao fazê-la prezar pela interdisciplinaridade e diversificação de conteúdos que combatam as opressões e desigualdades estabelecidas. Para isso, é preciso discutir em detalhe uma profunda reformulação de seus projetos políticos e pedagógicos.

A indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão ainda não foi devidamente assimilada pela universidade. Não se deve abordá-los de forma estanque ou departamentalizada: é preciso uma profunda reforma curricular que possibilite sua fusão partindo da compreensão de que não existe ensino sem pesquisa, nem pesquisa sem ensino ou extensão sem esses dois – todos fazem parte do processo de interação e aprendizagem. Entretanto, atualmente a grande maioria dos cursos superiores concentra a pesquisa exclusivamente no Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) e resume a extensão a palestras ou cursos complementares, quando tais elementos deveriam permear as atividades das disciplinas regulares ao longo de toda a graduação.

A pesquisa universitária é o ponto de partida para uma educação superior de qualidade. Hoje, infelizmente, é dominada pelos interesses das empresas que a financia com vistas aos seus objetivos particulares e os lucros que deles advém – e não aos assuntos estratégicos para o desenvolvimento e aos desafios tipicamente nacionais. Não se trata aqui de vetar o patrocínio privado da pesquisa universitária, mas direcioná-lo para os objetivos públicos da comunidade acadêmica e da sociedade para que, além de sentido prático, tenham também valor social. Se é fato que não existe ciência neutra, é preciso que o conteúdo do conhecimento produzido na universidade se volte para o fortalecimento de nossa autonomia científica, de nossa soberania e para diminuição das desigualdades do país.

No que se refere à extensão, é necessário primeiramente desnudá-la do caráter assistencialista ou tecnicista que normalmente lhe é atribuído. Ao contrário, a extensão é uma forma de conferir ao aprendizado o humanismo e o senso de realidade que possibilitem transformar a realidade que nos cerca. Em outras palavras, é através da extensão que o estudante conhece na prática um mundo muitas vezes distante dos livros e dos laboratórios imersos nos muros cansados da universidade, criando a oportunidade de questionar saberes já estabelecidos, gerar novos conhecimentos e adquirir a experiência necessária para enfrentar os desafios do mundo do trabalho. Por tudo isso, a extensão precisa estar inserida nos currículos acadêmicos com um número de horas mínimas necessárias para a integralização do currículo.

As atividades extensionistas devem entrelaçar-se com a pesquisa acadêmica – concepção esta que deve permear todo o caminho do estudante até o diploma, através de incentivos para a investigação científica e de pesquisas de campo simplificadas inseridas no cotidiano da atividade acadêmica a partir da análise de casos práticos ou da conferência da realidade em contraposição à teoria.

É preciso ousar na concepção de uma nova universidade. Nada deve parecer natural ou impassível de mudanças. Afinal, quem disse que o aprendizado tem de se resumir às exposições diárias proferidas pelos professores a uma platéia de estudantes receptores e inertes? Quem disse que um tem que sentar atrás do outro ou ter apenas duas oportunidades no semestre para expor o conteúdo assimilado por meio de métodos de avaliação anacrônicos e limitados? Essa lógica de educação serve apenas à reprodução do conhecimento já estabelecido, responsável por perpetuar injustiças e desigualdades.

Neste sentido, não menos importante é o papel do professor no cotidiano acadêmico. É preciso, antes de tudo, valorizar o exercício docente com salário justo, liberdade cátedra e condições adequadas de trabalho. Tomada ciência desta necessidade, observamos que em muitas instituições, sobretudo nas públicas, existe hoje certo abandono da graduação, pois é do trabalho na pós-graduação que o professor retira a necessária complementação da renda e se realiza profissionalmente ao ter mais condições de pesquisar os temas que lhe desafiam.

Por outro lado, apesar das adversidades, não se pode esquivar-se da avaliação permanente do trabalho do professor. A cobrança precisa ser contínua, sem corporativismos ou perseguições, pois a avaliação periódica de desempenho a que estão sujeitos hoje é ineficaz. São necessárias metas de rendimento para que o professor não se ausente da sala de aula e, caso venha a fazê-lo, haja reposição do conteúdo. É preciso também formação continuada com atualização e aprimoramento didático permanentes, especialmente nos cursos em que os docentes não possuem formação na área de licenciatura.

Passados 185 da fundação de nossos primeiros cursos superiores, este é um momento de auto-reflexão da universidade brasileira. Os temas levantados não visam, naturalmente, esgotar o debate da qualidade, nem tão pouco desmerecer outros aspectos tão ou mais importantes para a reformulação pedagógica.

Evidentemente nada disso será possível enquanto os patamares de investimento na educação persistirem tão defasados. Seguir na luta pela destinação de 10% dos PIB e dos royalties e Fundo Social do Pré-sal para educação é tarefa primeira dos estudantes comprometidos com as causas populares. Assim, através da luta generosa e abnegada da juventude, conquistaremos uma universidade humanizada e preocupada com a transformação da vida de brasileiros e brasileiras de cada canto deste país.

* Virgínia Barros é diretora de comunicação da União Nacional dos Estudantes (UNE)
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Por que a PUC-SP está parada

WERTHER SANTANA / ESTADÃO
Por Hugo Albuquerque, no sítio Outras Palavras:

No dia 13 de Novembro, o Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, nomeou como reitora da PUC-SP a professora Anna Cintra, última colocada no pleito direto realizado, entre a comunidade universitária, em agosto deste ano. A cúpula católica preteriu o reitor reeleito, Dirceu de Mello. A decisão foi recebida com comoção e revolta pela comunidade acadêmica, resultando na ocupação simbólica da reitoria, greve geral estudantil e outras medidas insurgentes.

Trata-se de fato inédito na história daquela universidade, que se destacou por adotar, ainda no período da ditadura militar, práticas democráticas. Embora o nome do vencedor do pleito passasse pela posterior ratificação da Igreja, em regime de lista tríplice, ele nunca deixou de ser aprovado, o que transformou tal prática em norma costumeira, uma vez que foi reconhecida por toda a comunidade acadêmica.

Para agravar a situação, a professora Anna Cintra ainda assinou um termo de compromisso durante um debate entre candidatos à reitoria no qual se comprometia, caso não fosse a candidata mais votada, a não aceitar eventual indicação para o cargo de reitora (conforme consta neste vídeo) — promessa que foi, de pronto, descumprida.

Candidata simpática à Igreja Católica e à doutrina conservadora hoje dominante no Vaticano, Anna Cinta já era apontada como a preferida da Arquidiocese. Ela atuou recentemente na função administrativa de renegociação de contratos de professores na Fundação São Paulo (Fundasp) — mantenedora da PUC-SP e braço da Igreja naquela universidade.

Anna foi derrotada no pleito de agosto pela rejeição ao seu nome entre estudantes e funcionários que, junto aos professores, votam diretamente para reitor. Uma das causas que ajudam a explicar sua derrota foi a rejeição por parte dos estudantes de suas posições conservadoras quanto às liberdades na universidade — sobretudo a liberdade de cátedra, isto é, a liberdade de poder ensinar e aprender livremente –, enquanto os funcionários temem por mais arrochos.

Logo após o anúncio da nomeação, na noite do dia 13, milhares de estudantes, reunidos em assembleia, decidiram ocupar simbolicamente a reitoria, fazer um cadeiraço e mobilizar uma greve. Em nova assembleia realizada dia 14 pela manhã, deliberou-se pela desocupação estratégica da reitoria e a entrega simbólica ao reitor reeleito, aclamado ao discursar. Reivindicou-se uma audiência pública com os representantes da Fundasp e o próprio Dom Odilo. Manteve-se a greve estudantil.

Este movimento, aliás, já foi acompanhado, institucionalmente, pelo departamento de Jornalismo. Também encontrou solidariedade junto à Faculdade de Direito no próprio dia 14. Na manhã do dia 21, o Conselho da Faculdade de Direito reuniu-se em sessão extraordinária, decidindo, conforme este documento, pela orientação para os professores entrarem em greve e pela garantia institucional aos estudantes em greve, embora não tenha sido conclusivo quanto a uma decisão firme de paralisação.

Além disso, em decisão amplamente majoritária, os chefes de departamento do Direito criticam a licitude da medida de indicação. Consideraram que o desrespeito de Anna Cintra ao termo de compromisso que firmou fere o princípio estatutário da moralidade. É um aceno para a entrada com alguma medida judicial contra a nomeação.

Já no dia 14, diversos cursos haviam realizado assembleias, ratificando a contrariedade à indicação e optando greve geral. Além do campus Perdizes, a onda de protestos chegou ao campus da rua Marques de Paranaguá, que reúne os cursos de ciência exatas. O objetivo é construir a audiência pública com Anna Cintra, o atual reitor e representantes da Fundasp. Vários setores atuantes no movimento estudantil, setores organizados dos professores e funcionários estão atuando de maneira unitária e coordenada.

Levando em consideração o histórico recente de intervenção do Vaticano na tradicionalíssima PUC peruana, o evento ocorrido em São Paulo parece estar no mesmo contexto de avanço conservador da Igreja sobre suas instituições de ensino pelo mundo. É preciso lembrar que tanto a PUC de São Paulo quanto a de Lima foram, ao seu tempo, grandes bastiões da Teologia da Libertação, movimento libertário nascido no seio da própria Igreja e hoje duramente combatido pelo atual grupo hegemônico. Em outras palavras, a luta na PUC paulista não começou, e possivelmente não terminará, em seu interior, além de estar longe de se encaminhar para uma solução.
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Tuitaço em apoio aos Guarani-Kaiowá

Do sítio da Campanha Guarani:

Na quinta-feira, 22, apoiadores, movimentos e indígenas se mobilizam para denunciar casos de racismo na mídia e exigir direito de resposta aos indígenas na principal publicação da editora Abril e maior revista semanal de informação do Brasil, a Veja. O tuitaço #RespostaGuaraniKaiowa começa às 15 horas, horário de Brasília.

No dia 14 deste mês, os indígenas e dezenas de entidades lançaram uma carta pública intitulada “Revista Veja: direito de resposta aos Guarani e Kaiowá já”, denunciando o teor anti-indígena e discriminatório da matéria, exigindo apuração por parte da Justiça e o direito de resposta nas páginas do veículo. Lançaram também uma abaixo-assinado que será entregue ao Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul.

Em reportagem assinada pelos jornalistas Leonardo Coutinho e Kalleo Coura e publicada dia 4 de novembro sobre a situação fundiária do Mato Grosso do Sul, a revista não perdeu “a oportunidade de apresentar, mais uma vez, a imagem dos Guarani e Kaiowá como seres incapazes, como [se] nós indígenas não fossemos seres humanos pensantes. Fomos considerados como selvagens e truculentos”, conforme denunciaram os indígenas em nota pelo Facebook.

Leia a carta pública dos indígenas
Assine a petição exigindo direito de resposta aos Guarani e Kaiowá
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