Agora temos um informante da Embaixada estadunidense dentro do Governo Lula. Por muito menos que isso, caíram Paulo Lacerda e Erenice Guerra.
#forajobim
Arte: Blog da Dilma
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Com um grande e importante seminário a ser realizado entre os dias 29/11 e 3/12, o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) lançará a Cátedra Luiz Werneck Vianna.
Trata-se de uma homenagem, mas sobretudo de um justo e merecido reconhecimento. Werneck Vianna é um dos mais importantes e influentes cientistas políticos brasileiros, autor de obra substantiva, da qual derivou uma consistente teoria política do Brasil. Sua posição sempre foi singular, especialmente porque soube articular, de forma inteligente e dialética, todas as eventuais "duplas dicotômicas" com que se queira abordar a realidade: atores e circunstâncias, processos e projetos, modernidade e tradição, Estado e sociedade civil, participação e representação. Além do mais, Werneck é um cientista social público, que não somente se dispõe o tempo todo à polêmica, como também busca interpelar os atores e interferir nas batalhas políticas.
Sua sugestões e perguntas abrem clareiras de compreensão, mesmo quando não trazem consigo respostas prontas e acabadas. Ou talvez precisamente por isso. Sua teoria sobre os dilemas e promessas da modernização capitalista do Brasil, com foco concentrado na dimensão mais imediatamente político-cultural, é de uma riqueza a toda prova. Como marxista arejado, de inspiração gramsciana, um intelectual democrata de esquerda, Werneck Vianna opera num registro que ultrapassa os parâmetros formais da ciência política que se pratica entre nós. Seus textos e suas diferentes intervenções públicas, apaixonadas e muitas vezes de difícil compreensão, trazem sempre um enfoque rigoroso, criativo, sem concessões. Têm servido de referência para que se alcance um melhor entendimento da política e da história brasileira.
Gosto muito de uma de suas questões recorrentes: poderá o Brasil moderno se afirmar sem o apoio da tradição? Terá condições de comandar e dirigir a tradição? Se tiver, como Werneck sugere, só poderá fazê-lo se a política estiver no comando. Uma política bem compreendida, não reduzida a ação estatal e governamental nem a "política social", especialmente na versão que tem prevalecido nos últimos anos, qual seja, a de uma política "produzida de cima para baixo, que subestima a capacidade da sociedade de se auto-organizar sem a indução benevolente de um governo compadecido".
A programação do Seminário é a seguinte:
Segunda-feira (29/11)
19h30 — Conferência: José Murilo de Carvalho.
Terça-feira (30/11)
13h30–16h30 — “O processo de constituição da sociedade Brasileira”, com Gisele Araújo (UniRio), João Marcelo Ehlert Maia (CPDOC/FGV), Robert Wegner (Fiocruz) e André Gaio (UFJF).
18h30–21h30 — “Pensamento social brasileiro”, com Sérgio Miceli (USP), Lilia Schwarcz (USP), Maria Arminda do Nascimento Arruda (USP), André Botelho (UFRJ) e Nísia Trindade (Fiocruz).
Quarta-feira (01/12)
14h–17h — “Modernização, mundo do trabalho e desigualdade”, com Jessé Souza (UFJF), Rogério Dultra (UFF), Antonia de Lourdes Colbari (UFES) e Eduardo Magrone (UFJF).
19h–21h30 — Conferência: Francisco Weffort.
Quinta-feira (02/12)
10h–12h — “Direito e democracia”, com Gisele Cittadino (PUC-Rio), José Eisenberg (UFRJ), Marcelo Burgos (PUC-Rio) e Juliana Magalhães (UFRJ).
14h–17h — “Teoria política, república e Brasil”, com Rubem Barboza (UFJF), Cícero Araújo (USP), Antonio Carlos Peixoto (UERJ) e Raul Magalhães (UFJF).
19h–21h30 — “Perspectivas da democracia no Brasil”, com Maria Alice Rezende de Carvalho (PUC-Rio), Renato Lessa (UFF) e Marco Aurélio Nogueira (UNESP).
Sexta-feira (03/12)
9h30–12h — “Tradição e mudança no Brasil”, com Lúcia Lippi (CPDOC/FGV), Marcelo Jasmin (PUC-Rio e IESP-UERJ), Maria Emilia Prado (UERJ) e Ricardo Benzaquen (PUC-Rio e IESP-UERJ).
14h–17h30 — “Esquerda e democracia”, com Milton Lahuerta (UNESP), Cesar Guimarães (IESP-UERJ), Marcelo Camurça (UFJF) e Luiz Sergio Henriques (Gramsci e o Brasil).
19h– Conferência de Encerramento: Luiz Werneck Vianna (IESP-UERJ).
Pesquisadores nas áreas de história e comunicação já tem um excelente campo de estudos daqui para frente. Comparar, por exemplo, a cobertura jornalística do governo Lula com suas realizações. O descompasso será enorme.
Não, eu não gostei do Tropa de Elite 2. Nem poderia gostar. Em toda sua pretensão de nos iluminar sobre a conjuntura atual do Rio, o filme não passa de um pastiche de filme hollywoodiano, obedecendo, inclusive, às suas premissas mais elementares: (I) O elogio permanente à violência, demonstrada como forma máxima da expressão humana; (II) A castração das personagens, assexuadas até quando se insinuam (aqui, nem isso), reles autômatos sem libido; (III) A invisibilização da questão social, o Trabalho inexiste, tampouco qualquer menção à sua exploração. Está tudo lá, a violência é o ápice da expressão, quem domina a técnica para emprega-la mais e melhor é justamente para quem os holofotes se voltam, não existe troca de libido - ou possibilidade de -, tampouco - e principalmente - não existe questão social: Onde é que estão os fundamentos econômicos de tudo aquilo? A favela é demonstrada como um amontoado de pequenos empreendedores explorados pelos aneis burocráticos do Estado - pior do isso, a favela é narrada como se sempre estivesse ali o que, por tabela, sempre estará. Sem embargo, uma naturalização imperdoável.
Se afirma seriamente que no futuro os embaixadores não darão conselhos sinceros, se esses conselhos podem se tornar públicos. Nas últimas doze horas eu ouvi essa afirmação impressionante apresentada de diferentes maneiras em cinco diferentes redes de televisão, sem que ninguém a questionasse.
Vamos dizer isso de outro jeito. O melhor conselho é o conselho que você não defenderia em público. Mesmo? Por quê? No mundo globalizado de hoje, a embaixada não é uma fonte exclusiva de expertise. Frequentemente os expatriados e as organizações acadêmicas e comerciais estão muito melhor informadas. O melhor conselho político não é o conselho que está protegido da revisão pelos pares.
Depois do triste espetáculo de mediocridade que exibiram durante a campanha eleitoral, os partidos políticos brasileiros estão obrigados a prestar contas e esclarecer dúvidas que estão a martelar a cabeça dos cidadãos. Para que servem, o que pretendem fazer, o que podem acrescentar à vida política do País?
Não se esperem cenas de imolação em público. Partidos não são seres dispostos ao sacrifício ou à autocrítica. Funcionam como motores focados num objetivo que subordina tudo a si: o poder, sua conquista e seu uso. Quando perdem, dizem que não foi bem assim; quando vencem, que tudo foi mérito seu e resultado do descortino dos dirigentes.
Partidos são mais como o PMDB, que, nem bem terminadas a campanha e as comemorações, já arrumou novos amigos e constituiu um bloco parlamentar para interferir na montagem do próximo governo, largando pela estrada o PT e a presidente Dilma, até então tidos como seus parceiros incondicionais.
Os partidos ficaram assim: criam problemas para os aliados do coração, traem em nome da amizade, pelas costas, como se tudo fosse normal e natural. Questionados a esse respeito, esclarecem que só agiram com o intuito de colaborar.
Partidos são como boa parte dos políticos: cuidam de seus interesses. Fazem como o prefeito Kassab, que de juras de amor incondicional ao candidato presidencial do PSDB passou à posição "realista" de cortejar o PMDB, em busca de uma vaga mais qualificada nas próximas eleições.
Mas, mesmo que sejam personagens melífluas obcecadas por poder e influência, partidos são estruturas vivas que querem se reproduzir. Sabem quando estão em risco. Percebem quando os cidadãos os convertem em elemento da paisagem e motivo de escárnio ou piada. Sentem que precisam fazer algo para não naufragarem e não perderem espaço político, prestígio ou poder de veto.
Podem então tomar duas atitudes: ou maximizam os recursos de poder de que dispõem para manter alguma força e ensaiar uma "repaginação", ou vão de cabeça erguida para a berlinda, reconhecem os erros e se esforçam para ressurgir. Se a primeira atitude costuma ter sucesso no curto prazo, é trágica no tempo largo, pois cristaliza o que existe de pior nos partidos e os condena à condição de mortos-vivos. É na segunda atitude, portanto, que estão as melhores esperanças e perspectivas.
A época atual não tem sido generosa com os partidos. Não os favorece como estruturas abrangentes, dedicadas à conquista do poder e à organização da sociedade, à agregação de consensos e interesses, à formulação de projetos e ideias. Em vez disso, a época os desconstrói, fazendo que se convertam em zumbis da representação política, que só respiram quando agarrados ao Estado.
A época está tomada pela recriação acelerada e incessante, que os partidos não conseguem acompanhar nem decifrar. Rouba-lhes substância, porque os obriga a se concentrarem no processamento de informações de baixa qualidade e porque quebra os vínculos com classes e movimentos que deram força e sentido aos partidos de massas até os anos 80, mais ou menos. Os partidos de hoje estão afastados da população e dos cidadãos ativos. Não têm militantes, só funcionários. Fazem coisas, mas ninguém sabe bem quais são.
Brigam entre si, mas não deixam claro o que os diferencia. Gastam enorme energia para executarem o básico. Consomem montanhas de recursos e consomem-se nisso, ficando sem tempo e foco para cuidar da própria identidade, da relação com a sociedade, do diálogo com a cultura e a ciência.
A campanha eleitoral de 2010 foi uma vitrine de tudo isso. Nossos partidos estão em sintonia com a grande turbulência que atingiu os partidos e os sistemas partidários no mundo todo. Têm suas singularidades, que correspondem à nossa modernidade capitalista. Ainda praticam, por exemplo, formas arcaicas de clientelismo e mandonismo, fortes em nossos grotões, e não se perturbam em seguir cardápios assistencialistas e paternalistas quando chegam ao governo. Mas são muito piores do que jamais foram.
O que farão agora?
Não dá, evidentemente, para equiparar os desafios do PT e do PMDB, que endossam os louros da vitória, com os do PSDB e do DEM, que mal digeriram a derrota sofrida. Mesmo entre estes dois últimos há boas diferenças, pois não perderam do mesmo jeito nem com a mesma intensidade. Não é à toa que os peessedebistas falam em "revitalização" e os liberais não conseguem disfarçar profunda crise de identidade.
Todos, no entanto, incluídos os menores, terão de esclarecer se têm algo a oferecer. Se quiserem trabalhar para fortalecer a democracia e introduzir padrões dignos de distribuição de renda no País, não poderão mais ficar em silêncio programático, desprezando a inteligência dos cidadãos e evitando os temas fundamentais da vida, da política e da sociedade. Não poderão mais fingir que tudo vai bem quando estão no governo e que problemas só existem porque as oposições são más e incompetentes. Terão de levar a sério a complexidade da época, a gravidade dos problemas nacionais e as dificuldades do Estado democrático atual.
Sem reduzir ou ocultar suas diferenças, estão chamados a celebrar um pacto de novo tipo. Não para dar condições de governabilidade a quem quer que seja ou preparar as próximas eleições, mas para recuperar a dimensão republicana e democrática do Estado. Não para entregar seus discursos ao marketing e ao mercado eleitoral, mas para recuperar e dignificar o valor da palavra, da argumentação e do convencimento racional. Não para tomar posse de cargos e espaços públicos como se fossem coisas particulares, mas para zelar por sua integridade, lisura e eficácia.
Precisamos de um pacto contra a mediocridade, seja no sentido da falta de mérito, seja no sentido da mesmice ordinária. Se os partidos fizerem algo nessa direção, mostrarão que podem voltar a ter vida plena. Farão com que ganhem todos, e não somente os que captarem mais votos nas próximas eleições. [Publicado em O Estado de S. Paulo, 27/11/2010, p. A2]
Foto: Marcos de Paula/AE |