TV também perde a guerra para a internet
Assim como jornais e revistas, com muitos títulos levados à extinção e com tiragem baixa, as emissoras de TV no Brasil enfrentam queda acentuada de audiência - e não é de um canal para outro, mas sim da TV para a internet; Globo e SBT, por exemplo, encerram 2013 como o pior ano das suas histórias neste quesito; no horário nobre, onde estão concentrados os anunciantes, a queda da emissora dos Marinho foi mais acentuada, devido ao baixo desempenho das suas novelas e do Jornal Nacional; a TV de Silvio Santos não empolga, com excesso de reprises; internet já é a mídia mais consumida no país, com mais de 100 milhões de internautasO que preocupa as emissoras em relação à diminuição da sua audiência é que ela não está migrando de um canal para outro. O telespectador está optando por desligar a TV, para acessar a internet. Um estudo inédito feito pela IAB Brasil em parceria com a comScore, divulgado no ano passado, atestou isto. A internet já é a mídia mais consumida no país, com mais de 100 milhões de internautas.
Segundo o levantamento "Brasil Conectado – Hábitos de Consumo de Mídia", que investigou a importância crescente da web na rotina dos brasileiros, mostra que a internet já é considerado o meio mais importante para 82% dos 2.075 entrevistados. Mais de 40% dos entrevistados passam, pelo menos, duas horas por dia navegando na internet (por vários dispositivos digitais), enquanto apenas 25% gastam o mesmo tempo assistindo TV. A internet aparece como a atividade preferida por todas as faixas etárias, de renda, gênero e região quando se tem pouco tempo livre, somando 62%.
Até mesmo na faixa nobre (das 18h à meia-noite), onde a Globo sempre apresentou desempenho invejável e onde estão concentradas suas principais atrações - as novelas, o Jornal Nacional e a linha de shows -, a queda da sua audiência foi maior. Caiu de 24,6 pontos (2012) para 23,2 pontos (2013). O SBT passou de 6,7 para 6,5 pontos. A Band foi de 3,7 para 3,5 pontos. A Rede TV! marcou 1,2 ponto neste ano, ante 1,3 em 2012.
Na Globo, as novelas tiveram um ano muito ruim. A novela teen Malhação, que já chegou a dar 30 pontos de audiência, hoje sofre para alcançar os dois dígitos, mantendo-se com dificuldade na casa dos 12 pontos. A atual novela das 18h, Joia Rara, também vai mal, com índices inferiores a 20 pontos. Mas o principal problema hoje da emissora dos Marinho é a novela das 19h, Além do Horizonte, que, em muitas ocasiões, aparece com a mesma audiência da novela das 18h, distante dos 30 pontos desejados pela TV.
O Jornal Nacional, principal telejornal do país, é um dos produtos da Globo com audiência mais declinante. Vê 2013 também como o pior ano da sua história. Em 2012 e 2013, o principal programa da Rede Globo registrou perda acumulada de audiência de 18,4%; na última década, acúmulo de queda no Ibope soma quase 30%. Neste ano, não passa, na média anual, dos 26 pontos. É o mesmo cenário desolador do Fantástico, principal programa da Globo aos domingos. Dificilmente, o programa chega aos 20 pontos.
Nas outras emissoras, a situação não é diferente. A Record, que num passado recente, chegou a fazer certo sucesso com suas novelas, hoje tem audiência pífia com a novela "Pecado Mortal", do autor Carlos Lombardi, ex-global. No turno da tarde também sofre com números que dificilmente passam dos 5 pontos. Cada ponto no Ibope equivale a 62 mil telespectadores na Grande São Paulo. No SBT, após o sucesso da novela infantil Carrossel, que colocou a emissora com audiência acima dos dois dígitos, agora já vê declínio do interesse do telespectador no seu novo produto, a também novela teen Chiquititas. Além disso, há excesso de reprises na TV de Silvio Santos
Assim como jornais e revistas, que vêm sendo superados em audiência pela mídia digital, levando alguns títulos à extinção, a televisão enfrenta a queda do interesse do brasileiro, que prefere ver os vídeos do Youtube e se informar pelos sites e redes sociais. Ou ainda adquirir séries e filmes por canais da internet, como Netflix. O último muro que ainda precisa ser derrubado em relação à mudança de hábitos da audiência é o conservadorismo dos anunciantes e das agências de publicidade, ainda muito presos à TV. Com o público migrando para a internet, o produto tem que ser mostrado onde a audiência realmente está.