O livro póstumo de José Roberto Melhem




No próximo dia 9 de novembro de 2009, segunda-feira, às 19 horas, na Casa das Rosas, Avenida Paulista, 37, será lançado Uma Tarde Destas, livro póstumo de José Roberto Melhem. A edição é da Imprensa Oficial de São Paulo.

Conheci Melhem no final dos anos 70 nos ambientes da esquerda democrática que lutava contra a ditadura. Ficamos amigos. Escritor, advogado, fino analista político, grande conversador, pessoa de sensibilidade artística e conhecimento técnico apurado, foi sempre um apaixonado pela idéia de se ter um mundo mais justo, democrático e igualitário. Preso e processado durante a ditadura, nunca se intimidou ou deixou de fazer política. Com a redemocratização, ocupou vários cargos públicos, como por exemplo o de Secretário Adjunto da Secretaria Estadual de Administração, no início da década de 1990.

Foi também presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico-Condephaat de São Paulo por quase dez anos, o que lhe possibilitou agir e desenvolver um articulado pensamento sobre essa área estratégica.

Melhem acreditava que o maior desafio que se apresenta para a tarefa preservacionista é “o do desenvolvimento das cidades em harmonia com a preservação dos valores culturais nelas reconhecidos”. Não aceitava nem que o desenvolvimento urbano fosse cego para a preservação do patrimônio, nem que o preservacionismo impusesse a estagnação urbana. Considerava falsa a incompatibilidade entre a preservação e as mudanças das cidades, que atribuía “a um grande inimigo que é justamente a falta de planejamento e disciplina adequados”, como disse em um de seus discursos. Achava uma distorção que os núcleos urbanos que se melhor se conservaram foram os que pararam no tempo. Queria uma opção mais inteligente: “A preservação pode e deve conviver com o progresso, precisamente porque ambos são vitais para que a sociedade alcance o futuro sem o risco de perder-se nos desvios indesejáveis de uma história sem rumo e sem memória”.

Como escritor, Melhem foi um contista refinado. Suas criações refletiam o olhar sagaz que tinha para a vida e a enorme capacidade de contar histórias. O escritor Milton Hatoum, que faz a apresentação de Uma Tarde Destas, observou com precisão: "Como diz um dos personagens, 'nem tudo na vida são enredos'. Isso se ajusta às narrativas deste livro, em que tudo depende do modo de narrar. E Melhem é um grande narrador, um dos mais talentosos da literatura brasileira contemporânea!".

Melhem morreu em 6 de abril de 2008, aos 64 anos. Deixou um vazio nos muitos amigos que tinha, nos familiares e na vida política e cultural de São Paulo. Seu livro póstumo, que ficou lindo, nos ajuda a preencher esse vazio.

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Feira dos Livros - Saldos

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Judas, imprensa e poder


O ESTADO DE S PAULO,

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente Lula afirmou que o papel da imprensa não é o de fiscalizar, e sim de informar. "Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar. Para ser fiscal tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos. A única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe, da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais", disse Lula.

O presidente da República questiona um dos pilares da democracia: o papel fiscalizador da imprensa. Suas declarações são uma contradição com seu suposto respeito à liberdade de imprensa. Fiscalizar faz parte integrante do processo informativo. E como Lula não é tonto, o falso disjuntivo (informação versus fiscalização) tem uma finalidade precisa: limitar o papel fiscalizador dos jornais e desacreditá-los. Na verdade, caro leitor, Lula manifesta crescente desconforto com aquilo que é rotineiro em qualquer democracia: o necessário contrapoder exercido pela imprensa.

Afinal, qual é a perversidade que deve ser debitada na conta dessa imprensa tão questionada pelo presidente? A denúncia de recorrentes atos de corrupção que cresceram como cogumelos à sombra da leniência presidencial? A veiculação de reportagens mostrando um presidente que dá olímpicas bananas à legislação eleitoral? Os jornais, por exemplo, sem uso de adjetivos e com textos sólidos, mostraram o que aconteceu recentemente às margens do São Francisco: uma fantástica operação de marketing montada pelo presidente da República e por sua candidata num explícito confronto à legislação eleitoral. Ou será que a azia de Lula é provocada pelo desnudamento de suas aparentes contradições? Recentemente, Lula criticou o criminoso vandalismo do MST, mas seu governo continua irrigando o caixa da entidade e seu partido, o PT, quer o MST na elaboração do programa de Dilma.

Eu e outros colegas da imprensa estávamos, em 2006, na Costa Rica. Lá participamos de um seminário promovido pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). O encontro foi aberto por Oscar Arias, presidente da República e Prêmio Nobel da Paz de 1987. Impressionou-me a qualidade intelectual e a entranha democrática do presidente Arias. Suas palavras foram um panegírico à liberdade de imprensa. "Juntamente com eleições periódicas e com a separação dos Poderes, a liberdade de imprensa é o instrumento mais poderoso para realizar, efetivamente, uma das grandes conquistas da civilização ocidental: a ideia de que o poder político, se pretende ser legítimo, deve estar submetido a limites e que o poder absoluto, como intuía lorde Acton, não é senão uma forma absoluta de corrupção. Quanto mais livre for a imprensa, mais limitado estará o exercício do poder e maior será a probabilidade de que nossas liberdades individuais permaneçam a salvo", sublinhou o presidente.

O discurso de Oscar Arias tem a força da coerência. Na Costa Rica a democracia é sólida e operativa. Dois ex-presidentes, julgados e condenados por crime de corrupção, estão na cadeia. Guerra à impunidade e educação de qualidade fizeram daquele pequeno país um belo modelo de democracia possível. Trata-se do único binômio capaz de transformar uma sociedade. Crescimento econômico é importante. Mas sem ética, sem normas e sem lei, dá no que deu. O Primeiro Mundo está pagando a dura conta da orgia financeira e da irresponsabilidade do mercado. E nós, não obstante os bons indicadores da nossa economia, poderemos trombar com as consequências funestas de um populismo que encolheu a oposição, estimulou o cinismo, encurralou algumas togas e tenta algemar as redações.

O presidente da República, esgrimindo sua retórica direta, deu outro recado carregado de pragmatismo aético. Segundo Lula, nenhum dos vencedores das eleições de 2010 poderá fazer um governo "fora da realidade política".

"Se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão." Lula não fez nada para mudar esse quadro. Ao contrário, seu estilo de governança fortaleceu o que de pior existe na vida pública brasileira. O oportunismo de Lula foi a arma de defesa de José Sarney. Mas o realismo presidencial, talvez num ato falho, levou Lula a reconhecer que seus aliados têm os traços de um Judas tupiniquim.

Para o antropólogo Roberto DaMatta, há um lado mais dramático em tudo isso. "Lula tem a virtude de falar claro", diz ele. "Às vezes penso que ele não tem inconsciente. De perto, a declaração pode parecer horrível. De longe, é a constatação da nossa face dupla, das nossas cumplicidades com o partido que não ia roubar nem deixar ninguém fazê-lo, mas fez o mensalão; ressuscitou Sarney e quejandos, tem desmoralizado o Congresso; enfim, o nosso lado que odeia a lei valendo para todos - esse Judas dentro de cada um de nós que não quer mudar o "você sabe com quem está falando?"", conclui DaMatta.

O diagnóstico é duro, mas verdadeiro. Como lembrou alguém, existe um elo indissolúvel entre o político que rouba, o cidadão que ultrapassa o farol vermelho, o governante que confronta as normas e o assaltante que mata: todos deixaram de levar em conta a ética e a lei. E só há um modo de reverter essa distorção da nossa cultura: educação, exercício de cidadania, ética, liberdade de imprensa e fiscalização do poder.

O Brasil depende, e muito, da qualidade ética da sua imprensa e de sua indispensável força fiscalizadora.

Carlos Alberto di Franco
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Frase do Dia


“Só que cada pequena transgressão, cada desvio vai se acumulando até desfigurar o original. Como dizia o famoso príncipe tresloucado, nesta loucura há método. Método que provavelmente não advenha do nosso príncipe, apenas vítima, quem sabe, de apoteose verbal. Mas tudo o que o cerca possui um DNA que, mesmo sem conspiração alguma, pode levar o país, devagarzinho, quase sem que se perceba, a se moldar a um estilo de política e a uma forma de relacionamento entre Estado, economia e sociedade que pouco têm a ver com nossos ideais democráticos.”

Fernando Henrique Cardoso
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"FHC: O Filho da P..." - A Nova Superprodução do Cinema Nacional.

Incomodados com a repercussão que o filme “Lula, O Filho do Brasil” está tendo mesmo antes de sua estréia, os principais líderes demo-tucanos decidiram dar o troco produzindo uma cinebiografia de seu guru-mor: o "príncipe dos sociólogos" Fernando Henrique Cardoso - primeiro e único. Financiado com recursos provenientes do governo do Rio Grande do Sul, do Banco Opportunity, de sobras de campanha e de uma graninha que restou de um capilé que a CIA mandava para o biografado na década de 70, o filme “FHC, o Filho da P...” já nasce como um clássico do cinema (trans) nacional. Reunindo um elenco estelar, a película recebeu aplausos unânimes dos críticos dos principais veículos de comunicação do país. O único dilema desta crítica especializada foi saber de que forma classificar o filme: se como terror, como drama ou como policial. O “Abobrinhas Psicodélicas”, em mais um furo de reportagem, publica em primeira mão o cartaz e a ficha técnica desta obra que, definitivamente, entrará para os anais (ops!) da sétima arte. Portanto, não deixe de ampliar a imagem abaixo para apreciar os detalhes deste belíssimo cartaz, que faz juz à estatura intelectual e política do homenageado.

Ficha Técnica:

Título Original: “FHC, The Son of B…”
Gênero: Drama/Terror/Policial
Produção: Brasil/EUA
Ano: 2010
Direção: Arnaldo Jabor
Distribuição: Globo Filmes e FMI Pictures
Direção de Arte: Nizan Guanaes
Efeitos Especiais: Hans Doner
Roteiro: Ali Kamel e Diogo Mainardi
Inspiração Espiritual: Roberto Marinho (psicografado por Ana Maria Braga)
Trilha Sonora: Caetano Veloso (incluindo a música-tema: “Você não vale nada, mas eu gosto de você”, na voz e no violão deste grande compositor e intelectual baiano)
Figurinos: Merval Pereira
Moça do Cafezinho: Miriam Leitão
Elenco: FHC (o próprio), Daniel Dantas, Gilmar Mendes, Geraldo Brindeiro, Ronivon Santiago, Ricardo Sérgio, José “Nosferatu” Serra, Herr Jürgen Bornhausen, Carlos Augusto Montenegro, Ronaldo “little jet” Sardenberg, Celso “no shoes” Lafer, Eduardo Jorge.
Participações Especiais: Miriam Dutra e Regina Duarte

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